Ashley Chong

Contabilista de profissão, Ashley faz parte de diversas associações de anime e banda desenhada em Macau. Foi ela que criou, ilustrou e desenhou a tira de banda desenhada do jornal Diário de Macau, no começo da década de 1990. Mais tarde, tornou-se autora de comics e presentemente é editora da MIND², uma revista de banda desenha publicada pela Comics Kingdom. Ashley participa também na organização da Exposição de Animação, Comics e Brinquedos de Macau, um evento organizado pela Macau Animação e Quadrinhos Aliança.

Manga de Macau: Estilo e Inspiração

15a edição | 06 2016

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Quando entrevistado, um artista de manga confessará sempre que a sua profissão derivou do amor que tinha por manga quando era jovem.


O apelo da manga não inclui apenas factores visuais. Uma narrativa coesa é essencial para fazer funcionar as várias imagens enquanto conjunto e para agarrar os leitores.


O desenvolvimento de trabalhos originais de Manga em Macau é dificultado pelo facto de a maior dos artistas trabalhar de forma amadora. Estes artistas compõem o seu trabalho com base em materiais que eles próprios produzem e, uma vez que têm muito pouco têm para fazer essa composição, o resultado não é tão perfeito quanto seria desejável. Apesar disso, os trabalhos manga de Macau têm melhorado ao longo dos anos e beneficiado de processos de exploração e reflexão. Em anos recentes, os trabalhos originais de artistas locais têm mostrado sinais de forte criatividade, se comparados com o estilo mais próximo da imitação que se praticava na década anterior.


Então, como é a manga de Macau?


Em Macau, as tiras de banda desenhada tendem a ser sobre política ou assuntos comunitários. No entanto, trabalhos de artistas que têm menos experiência de vida ou conhecimentos podem revelar-se menos fascinantes. Os artistas locais emergentes gostam de desenhar com base em temas da vida quotidiana, já que é mais eficiente trabalhar com esses materiais. Nos últimos anos, com o emergir de ideias mais ousadas e da criatividade, apareceu um novo tipo de trabalho criativo, mais baseado na parte gráfica e no impacto visual, em vez de no enredo narrativo.


Estranhamento, é bastante inusual encontrar em Macau histórias manga de amor de pequena ou média dimensão. Durante bastante tempo, muitos dos artistas de Macau preferiram compor histórias ficcionais com elementos e enredos surreais. Sendo possível que esses elementos ou tramas sejam usados como ferramentas satíricas, muitos dos artistas estão simplesmente a escrever o que lhes vai na mente. Mesmo que algumas destas histórias sejam baseadas em factos reais, os enredos são irrealistas. No entanto, a manga é, afinal, um trabalho de fantasia para agradar os leitores (e os artistas), portanto não há mal algum nisto. Um número reduzido de excelentes artistas manga consegue, contudo, criar adaptações baseadas numa variedade de assuntos, que vão da astronomia à geografia, história, fábulas, electrónica ou mesmo questões religiosas.


Nos últimos anos, o governo da RAEM tem como política apoiar as artes, e por isso as atracções de Macau em termos de património também começaram a aparecer em livros de manga locais. Afinal, como podem estas atracções ser deixadas de fora quando falamos das características locais de Macau? Honestamente, o uso repetido desses elementos já está a tornar-se num cliché, mesmo em vários produtos locais de design gráfico. Certamente que os mais espirituosos podem destacar algum aspecto desses materiais para conseguirem chegar às pessoas, tal como tornar os seus conteúdos mais informativos, ou fazer os enredos mais apelativos, de modo a aumentar a sofisticação dos trabalhos.


Tem sido dito que Macau desfruta de uma história de mais de quatro séculos de intercâmbio cultural entre Oriente e Ocidente. Tendo percebido isto, é óbvio que os temas que vale a pena explorar em qualquer obra de arte não estão limitados aos problemas dos transportes, aos espaços patrimoniais ou a jogos amorosos frívolos. Por exemplo, um artista veterano conseguiu com sucesso captar a história e as características locais contando a história das estátuas de Buda na Rua dos Ervanários. Se estivermos predispostos para isso, há muitas histórias relacionadas com as ruas de Macau e há lugares onde encontrar bons materiais, embora algum esforço de pesquisa e de recontar a história seja inevitável.


Há também artistas que querem ir além da cena artística de Macau e explorar os seus próprios caminhos. Recentemente, um artista produziu uma manga em estilo de documentário, baseada na vida de um famoso lutador de boxe do interior da China. Sendo ele próprio um boxeur profissional, o artista tem a experiência necessária, a história está muito bem escrita e é tocante.


Em Macau, muitos artistas manga estão a fazer as suas ilustrações por prazer, não vêem essa actividade como um trabalho. Por isso, também enfrentam menos pressão no que toca a prazos e aos gostos do mercado, desfrutando de um grande sentimento de liberdade. Isto deveria ter-lhes dado mais possibilidades, quando comparando com artistas a trabalhar noutros países e regiões. Ao mesmo tempo, os seus trabalhos podem ser bastante subjectivos. Não há dúvida que esses trabalhos idiossincráticos podem ajudar a encorajar a coexistência de diferentes estilos. Contudo, numa escala maior, são necessárias melhores formas de expandir a profundidade e diversidade destes trabalhos artísticos.