Para muitos jovens talentos interessados em entrar na indústria cinematográfica, a principal preocupação seria quanto conseguiriam ganhar.

Ao contrário da cidade vizinha de Hong Kong, a indústria cinematográfica de Macau ainda é jovem e, portanto, não existe nenhuma associação ou sindicato de trabalhadores da indústria cinematográfica para negociar um padrão salarial para os trabalhadores da indústria. Por outras palavras, não existe um padrão salarial mínimo para os trabalhadores da indústria cinematográfica em Macau. Não há um quadro de referência no que toca ao pagamento de talentos profissionais nesta indústria.

O negócio do cinema tem uma longa cadeia industrial. Diferentes profissionais são responsáveis pela sua própria parte do processo de produção. Temos realizadores, actores, argumentistas, equipas de câmara, directores de arte, equipas de produção e equipas de gravação, etc., apenas para citar alguns. Há também trabalhadores da indústria especializados em operações técnicas. Quando se fala do salário para a equipa principal de produção, os números podem ser muito diferentes para pessoas diferentes. Algumas pessoas recebem literalmente nada enquanto outras ganham centenas de milhares de patacas. É muito difícil determinar quanto alguém pode ganhar. Por exemplo, argumentistas que trabalham para filmes com um orçamento de menos de dez milhões de patacas são pagos dentro do intervalo de MOP 100.000 até mais de MOP 1.000.000. Tem muito que ver com a reputação dos argumentistas e a distribuição do orçamento. Embora os argumentos sejam a espinha dorsal dos filmes, o padrão de pagamento para os argumentistas ainda é controverso, mesmo em regiões com uma indústria cinematográfica madura. Em Macau, os argumentistas habituais recebem em média uns quantos milhares de patacas como pagamento, ou no máximo dezenas de milhares. Se o próprio realizador for o argumentista, provavelmente não haverá qualquer pagamento pelo argumento. A disparidade de salários na indústria cinematográfica resultou nesta procura extrema por argumentistas. As equipas de produção cinematográfica de Macau têm de procurar argumentistas de outras regiões. Se o filme for sobre Macau, a equipa de produção terá que gastar muito tempo a explicar o contexto histórico e o ambiente social actual ao argumentista.

Os técnicos da indústria cinematográfica também não possuem um padrão de rendimentos. Olhemos para as equipas de iluminação e filmagem como exemplo. Geralmente, o salário de um operador de câmara flutua. Em situações comuns, o salário depende de pacotes de carga de trabalho. Um pacote é de cerca de 10 ou 12 horas. Se as horas de trabalho reais excederem o estabelecido no pacote, haverá pagamento adicional. Em Macau, a maioria das equipas de produção não paga à equipa de filmagem com base nas horas de trabalho, devido a vários motivos. Mas, claro, é essencialmente devido ao orçamento. Certa ocasião, falei com um produtor de cinema de Macau sobre o motivo de os trabalhadores da indústria na cidade não serem pagos pelas suas horas de trabalho adicionais. Do ponto de vista de um investidor, quanto menos investe, menos riscos enfrenta. Por outro lado, a equipa de produção no terreno sente-se naturalmente incentivada a trabalhar por mais alguns dias para reduzir as horas de trabalho diário e melhorar a qualidade do filme. Os raciocínios de ambos os lados são compreensíveis. Mas o ponto é que, mesmo que tenhamos mais investimento, a produção continuará a não ser comercialmente bem-sucedida se não houver o marketing adequado. Além disso, os investidores também questionam as qualificações dos trabalhadores da indústria em Macau. É por isso que não é incomum ver pessoas serem pagas de maneira diferente, mesmo que estejam na mesma posição e a fazer um trabalho semelhante. Os investidores estão dispostos a pagar o dobro do salário local ou mais a trabalhadores da indústria de outras regiões. Mas, é claro, os trabalhadores da indústria local também precisam de reflectir sobre a sua própria eficiência e qualidade de trabalho. Por exemplo, as equipas de filmagem eos realizadores de Hong Kong são famosos na Ásia e em todo o mundo. São conhecidos e elogiados pela sua eficiência e precisão. Os trabalhadores da indústria em Macau têm a confiança necessária para competir com eles? Somos capazes de acompanhar a industrialização no sector cinematográfico? Os trabalhadores da indústria em Macau também enfrentam os desafios da falta de oportunidades de trabalho. Comparamos sempre os nossos padrões salariais com os de Hong Kong, mas nunca atingimos padrões semelhantes. Isso cria ressentimento entre os trabalhadores da indústria local, enquanto não há solução para o problema.

O salário dos trabalhadores da indústria em Macau é muito difícil de determinar e isto não pode ser resolvido através de regulamentos. É difícil julgar o valor do trabalho que as pessoas fazem nas indústrias culturais e criativas e estabelecer o seu salário de acordo com isso. Quanto às equipas técnicas, também não há um factor decisivo que garanta um padrão salarial. Ter mais experiência de trabalho no sector não é igual a ter um resultado melhor no trabalho. Alguns talentos técnicos precisam apenas de dois anos para poder fazer muito melhor que os veteranos. Alguns profissionais experientes ainda não conseguiram atingir muito apesar dos seus dez anos de experiência profissional. O que é que exactamente podemos usar para avaliar o valor de um profissional de cinema e determinar um salário? O negócio do cinema não pode sobreviver baseado em sonhos e paixões. Certamente, podemos tratar o negócio do cinema como um passatempo e contribuir para ele no nosso tempo livre. Mas se fazer filmes for apenas um passatempo em Macau, a indústria cinematográfica nunca se tornará verdadeiramente numa indústria aqui.