Sempre que visito o Japão, um país famoso pelo seu artesanato, nunca resisto a comprar muitos produtos artesanais e trazê-los para casa comigo. Na minha recente viagem a Kyushu, fiquei profundamente impressionada com produtos como Arita-yaki, Hakata-ori, Hagoita, e os papagaios de papel de Nagasaki, e também com os utensílios de cozinha Sori Yanagi. Produtos como panelas de ferro do sul, colheres de madeira e facas de manteiga são extremamente úteis.

Cansados de produtos produzidos em massa que têm baixa qualidade, os produtos feitos à mão estão novamente a tornar-se populares no Japão nos últimos anos, à medida que o localismo se levanta contra a globalização. A famosa arte artesanal do Japão é coroada por designs humanos e que têm em consideração a praticidade. Sori Yanagi, um gigante do design na indústria de design japonesa, é bom a adicionar um toque artesanal aos designs industriais, oferecendo aos consumidores experiências confortáveis na utilização dos produtos, qualidade e praticidade. Produtos clássicos como o banco em forma de borboleta e utensílios de mesa inoxidáveis têm sido sempre populares no mercado até hoje. De acordo com Sori Yanagi, o verdadeiro design deve ir contra as tendências. Em Essays by Sori Yanagi, ele escreve sobre a arte folk e o design anónimo, bem como críticas sobre como os designs industriais modernos incentivam os consumidores a comprar novas gerações de produtos regularmente e a sua impraticabilidade. Os seus artigos são realmente inspiradores.

Na verdade, o design industrial está mais relacionado com a indústria editorial do que a maioria das pessoas imaginaria. Os designers japoneses são famosos pelas suas teorias de design, que os tornaram cada vez mais populares entre os leitores de regiões de língua chinesa nos últimos anos. Designers japoneses (Kenya Hara, como representante) não apenas explicam métodos complexos de design de maneira simples, mas também prestam muita atenção ao artesanato e às técnicas tradicionais. Por exemplo, A Journey of Japanese Folk Art e The Way of Crafts, do pai de Sori Yanagi, Soetsu Yanagi, uma figura importante no movimento mingei (artesanato popular), e Saving Handicrafts, de Yonematsu Shiono, documentam a estética e os valores de objectos que as pessoas usam no seu quotidiano, através de estudos de campo sistemáticos e pesquisa. Eles defendem activamente certos objectos comuns que são considerados como de baixo custo e feios.

Nos últimos anos, o crescimento do mercado livreiro desacelerou. As livrarias já não vendem apenas livros, mas uma estética da vida quotidiana. Face à forte concorrência das livrarias online, as grandes livrarias físicas não podem apenas ser apelativas aos consumidores oferecendo serviços de selecção de livros e descontos. Em vez disso, as livrarias físicas estão a esforçar-se para educar o gosto dos consumidores. A livraria Eslite de Taiwan tem um profundo conhecimento desta filosofia e está a expandir a sua secção de produtos criativos e culturais, e a secção de produtos do dia-a-dia, enquanto oferece aos clientes um café agradável na livraria. A Eslite também adquire produtos de lifestyle sofisticados, artigos importados e até organiza workshops de trabalhos em madeira e vidro, entre outros. Takeo, uma pequena cidade em Kyushu, injectou sangue novo na economia local construindo uma biblioteca inspirada na estética do lifestyle. A Biblioteca Municipal de Takeo tem um design amigável e moderado que oferece aos visitantes uma experiência de biblioteca confortável. Com a Tsutaya Books, o Starbucks e uma área especial de artesanato criada na biblioteca, a Biblioteca Municipal de Takeo atraiu mais de um milhão de visitas num ano. Quando visitei a biblioteca num dia muito chuvoso, estava lotada de visitantes totalmente imersos no ambiente de leitura e a desfrutar desta experiência.

Nem todos os hipsters adoram beber café e ler livros ou comprar produtos culturais e criativos bonitos, mas sem utilidade. Mas isso não significa que essas coisas não tenham mercado algum. Quando as ideias criativas se traduzem em produtos do dia-a-dia com uso prático e têm um preço razoável para o artesanato, elas geralmente podem sair-se muito bem no mercado. Por exemplo, a exposição “Unrivaled Calligraphy: Yan Zhenqing and His Legacy”, do Museu Nacional de Tóquio, tornou-se viral nos momentos do WeChat, uma vez que apresentava Draft of a Requiem to My Nephew daquele sábio da caligrafia. Dois caracteres chineses, amor (愛) e coração (心), do esboço, inspiraram o museu a lançar pratos de molho com aquelas fontes. Os pratos tornaram-se ainda mais populares que a sua própria brochura entre os hipsters.

“Sem integridade e carácter, as coisas do dia-a-dia não podem tornar-se itens ideais”, escreve Soetsu  Yanagi em Recollection of 40 Years in Folk Arts, expressando que a praticidade é a beleza do artesanato. O artesanato põe a nu as suas técnicas, porque o artesanato precisa de responder as funções reais. Sori Yanagi seguiu com sucesso o caminho do seu pai e levou ainda mais longe a beleza da praticidade. Ele acredita que apenas a experiência em primeira mão pode permitir que os consumidores saibam se os produtos são de boa qualidade ou não. Todas as vezes que que pego na panela de aço inoxidável que ele desenhou, tenho naturalmente uma sensação de alegria. É como se alguém me estivesse a sussurrar “eu sei de todos os problemas que estás a enfrentar na vida e esta ferramenta é produzida para resolvê-los e ajudar-te.” Esses chamados produtos criativos podem parecer extravagantes e chamar a nossa atenção. Mas eles não podem durar muito num mercado que hoje em dia valoriza o minimalismo. Apenas ideias criativas que priorizam a praticidade podem realmente tocar o coração dos utilizadores e tornar-se intemporais.