Tracy Choi

Realizadora. Ganhou em 2012 o Prémio do Júri do Festival Internacional de Cinema e Vídeo de Macau com o documentário “Aqui Estou”, o qual foi exibido, a convite, em vários festivais de cinema na Ásia e na Europa. Posteriormente, a realizadora frequentou o curso de mestrado em produção cinematográfica na Academia de Artes Performativas de Hong Kong, tendo a sua obra “Sometimes Naive”, resultante da graduação, sido seleccionada para competir no Festival de Cinema Asiático em Hong Kong em 2013. Por sua vez, o documentário “Farming on the Wasteland” foi galardoado com a Menção Honrosa do Júri no Festival Internacional de Cinema e Vídeo de Macau 2014. A sua recente obra “Sisterhood”, seleccionada para competir no 1.º Festival Internacional de Cinema de Macau, conquistou o Prémio do Público de Macau e foi nomeada para dois prémios na 36.ª edição dos Prémios Cinematográficos de Hong Kong.

 


Como se devem desenvolver os talentos cinematográficos de Macau?

26a edição | 04 2018

“Como se deve desenvolver a indústria cinematográfica de Macau” tem sido um dos assuntos mais abordados nos últimos anos. No entanto, eu pessoalmente estou mais preocupada com o desenvolvimento dos talentos desta área do que com o crescimento do próprio sector. 


Independentemente de ser necessário falarmos sobre o desenvolvimento da indústria cinematográfica de Macau ou o dos talentos desta área, o que precisamos de definir em primeiro lugar é o que é um filme de Macau. Na verdade, tanto as pessoas do território, como as de outras regiões ainda não sabem muito bem no que consistem os filmes de Macau. Para se dar uma definição ao termo “filme de Macau”, podemos ter em consideração duas vertentes, sendo a primeira o local de filmagem e a segunda a proporção dos principais criadores e actores do filme em questão. 


Enquanto “Las Vegas do Oriente”, onde se encontra uma combinação de património histórico e cultural de nível mundial, Macau acolhe muitos pontos de atracção que merecem ser objecto de filmagem. Na verdade, os mesmos também têm aliciado equipas oriundas de diferentes lugares para este efeito. Contudo, será que todos os filmes cuja filmagem é realizada em Macau podem ser apelidados de filmes de Macau? Desde os anos 90, começou a haver bastantes filmes de Hong Kong que tiveram Macau como local de filmagem, já que o território é visto como um “pátio traseiro” e os seus contornos exóticos fornecem à audiência da região vizinha um alimento infinito à imaginação. Na última década houve ainda equipas de diversas regiões a deslocar-se a Macau para fazer a filmagem de filmes, com a frequência a aumentar cada vez mais. Desde os filmes de Hollywood, os coreanos, passando pelos do Interior da China, todos têm cenas captadas em Macau. Todavia, quando Macau aparece nestes filmes como um palco de filmagem, não reflectindo nenhuma característica verdadeira do território e divergindo da sua fisionomia real, o mesmo serve simplesmente como local de produção, ou mais concretamente, como um pano de fundo com casinos, igrejas, templos e travessas estreitas. Não se pode negar que este formato permite que as pessoas de outros lugares conheçam Macau, apesar de a imagem apresentada não ser representativa. Não consideramos, no entanto, estes filmes como filmes de Macau. Por outro lado, se um filme não tiver nenhuma parte filmada em Macau, mas se se debruçar sobre a história de uma pessoa de Macau lutar pela sobrevivência noutro local e a maioria dos principais criadores for também do território, podemos chamar-lhe filme de Macau? 


Se o local de filmagem não pode ser o critério para determinar se o filme é ou não de Macau, então que tipo de história ou conteúdo e que proporção dos principais criadores e actores do filme precisa de ser de Macau para que leve à conclusão de que o filme em si é de Macau? Podemos considerer uma obra cinematográfica como filme de Macau quando a equipa de produção é composta apenas por pessoas de Macau, mas em que o conteúdo se afasta totalmente da realidade, não tendo uma mínima ligação à verdadeira Macau? E quando o conteúdo do filme é próximo da realidade de Macau, mas a proporção dos participantes de Macau é muito reduzida, nestes casos como devemos determinar? Ou até quando alguns criadores de Macau fazem um filme com uma história passada no exterior, não envolvendo Macau em nenhum ponto, terá o mesmo elementos de filme de Macau? No caso de a proporção do pessoal não poder ser o critério para resolver esta questão, nem o local de filmagem, a que factor nos devemos referir quando apoiamos os filmes de Macau? 


São mesmo as razões acima referidas que me fazem crer que existe um grande espaço para discutir o que é um filme de Macau. No entanto, há um ponto que é indiscutível – quanto maior o número de criadores e actores que conhecem Macau a fazer filmes, maior será a possibilidade de conseguirmos produzir filmes de Macau. Portanto, considero o desenvolvimento dos talentos cinematográficos de Macau a tarefa mais importante de momento. Caso contrário, como podemos desenvolver este sector, se nem sequer dispomos de recursos humanos de excelente qualidade? 


Falando dos talentos cinematográficos de Macau, há veteranos que começaram a trabalhar afincadamente nesta área desde o princípio dos anos 90. Ultimamente também têm surgido cada vez mais talentos que se dedicam à criação cinematográfica e televisiva. Tanto os talentos emergentes locais, como os que concluíram a formação no estrangeiro e regressaram ao território envidam todos os esforços para tentar produzir os seus próprios filmes aqui em Macau. Colocando de lado a discussão sobre se os filmes são ou não um tipo de arte, a produção cinematográfica é sem dúvida uma técnica que exige prática. Contrastando com outras técnicas, como o desenho, que pode ser praticado em casa todos os dias fazendo dez, ou até cem esboços, a produção cinematográfica não se pode praticar desta maneira. É claro que se pode dizer que ver filmes também é um método de aprendizagem, mas a maior parte da produção cinematográfica depende sobretudo da capacidade de execução no local, e será uma pena caso a criatividade seja inibida pela qualidade de execução. Neste sentido, por que meio devem os talentos de todas as secções cinematográficas e os actores praticar as suas técnicas? Caso a quantidade de produções locais não seja suficiente, quando tiver lugar a filmagem de filmes estrangeiros em Macau, seria ideal que contassem com actores e trabalhadores nos bastidores oriundos de Macau, não apenas para que os mesmos tenham um emprego, mas também uma oportunidade de prática, para além de poder aprender com as equipas de produção de além-fronteiras. 


Resumindo, a formação dos talentos cinematográficos de Macau deve ser agilizada de forma global, por forma a dar mais possibilidades à promoção do desenvolvimento do sector.