Entre o cinema comercial e o cinema independente: A experiência de Emily Chan Nga Lei em Pequim

01 2015 | 1a edição
Texto/Allison Chan, Johnson Chao, Wendy Wong, Bob Leong

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O papel do governo no desenvolvimento do cinema de Macau


As co-produções são hoje uma tendência global na indústria do cinema e as parcerias com profissionais chineses continuam a ser uma das principais orientações para o desenvolvimento dos cineastas de Hong Kong, Macau e Taiwan.

 

A realizadora Emily Chan Nga Lei, natural de Macau e também pertencente à geração pós-1980, licenciou-se pela Universidade de Macau e prosseguiu a sua carreira académica em Pequim, onde estudou Jornalismo Televisivo na Escola de Jornalismo e Comunicação da Universidade Renmin da China. Ao longo de dois anos Emily aprendeu como funciona o mercado do cinema no Interior da China.

 

Acabada de chegar a Pequim, escreveu o argumento de Timing e terminou de rodar o filme em Abril de 2014. A estreia aconteceu no Festival de Cinema Galo Dourado e Cem Flores, em Setembro do ano passado, com o filme a representar Macau naquela mostra chinesa, ao lado de The Memories, de Ho Fei. O lançamento comercial de Timing deve acontecer durante este ano.

 

Timing é uma co-produção entre o Interior da China e Macau. Chan recebeu financiamento do governo, suficiente para cobrir metade dos custos de produção, sendo que a outra metade foi financiada através de um empréstimo pessoal. Para recuperar o investimento, Chan acredita que o filme deve seguir a tendência do mercado e por mercado refere-se ao Interior da China. Este tipo de co-produções devem, por um lado, narrar histórias de Macau e, por outro, responder aos critérios do mercado do Interior da China. Por exemplo, parte do filme deve ser rodado noutras cidades chinesas e alguns dos papéis devem ser desempenhados por actores do Interior da China, defende.

 

Imediatamente após Timing ser bem sucedido na estreia, Chan começou a rodar uma curta-metragem intitulado Yesterday Once More, em Outubro do ano passado. A cineasta garante não ter desistido do mercado de Macau. “Na China, o aspecto comercial é normal na criação; os filmes comerciais são o caminho mais rápido para um realizador ser conhecido pelo público e obter outros financiamentos. Decidi estudar em Pequim e conhecer este modelo de exploração comercial do cinema. Mas Macau, apesar de ter um mercado pequeno, também é apelativo. Agrada-me a abordagem mais estética da cinematografia de Macau. Hoje em dia divido o meu tempo entre a China e Macau, e comecei a entender o valor das produções independentes depois de trabalhar em filmes comerciais”, explica a realizadora.

 

A indústria cinematográfica numa cidade como Pequim é extremamente competitiva e representa um grande desafio, especialmente para cineastas chegados de Macau, considera Chan. “Temos diferentes culturas e nem sempre é fácil integrar essas diferenças ou conseguir escrever um guião que seja apelativo para o público do Interior da China. Como o cinema chinês está muito focado nas grandes produções comerciais, um realizador terá menos oportunidades se o público não aceitar bem o seu trabalho.”

 

A realizadora nota que a aprendizagem e a experiência adquiridas em Pequim alargam os seus horizontes, algo que falta em Macau. “Em Pequim, a divisão do trabalho é muito clara; existem vários assistentes de realização que ajudam o realizador, tratando da direcção artística, dos adereços, da relação com os actores, etc. Tudo funciona como um processo industrial. Como se tratam de filmes comerciais, os salários pagos aos realizadores são mais justos. Em Macau, o realizador também assume o papel de argumentista e apenas pode aspirar a um salário muito baixo, tornando-se basicamente impossível sobreviver como realizador a tempo inteiro.”

 

Chan acaba de assinar um contrato com uma produtora do Interior da China e nos próximos cinco anos fará mais três filmes comerciais. No entanto, não irá deixar de rodar curtas-metragens independentes em Macau. A cineasta espera poder produzir dois filmes por ano e reunir uma equipa de produção que integre profissionais de Macau e do Interior da China.