Artistas musicais locais: desenvolvimento diverso de composições em Macau

06 2020 | 39a edição
Texto/Lai Chou In

Quando comparamos o cenário actual com o que de há uma ou duas décadas, apercebemo-nos de que o modo como consumimos música mudou drasticamente nos últimos anos. As plataformas de streaming de música dominam agora a cena musical, à medida que os álbuns físicos vão desaparecendo gradualmente do radar das pessoas comuns. Os artistas musicais precisam de encontrar formas inovadoras de criar para acompanharem esta tendência. Nesta edição, convidámos representantes de três grupos de Macau para partilharem connosco as suas histórias. Alguns abriram estúdios em nome próprio, outros desenvolveram uma carreira além das fronteiras do território e outros ainda deixaram de estar nos bastidores para ficarem sob a luz dos holofotes. Não obstante as suas diferenças, têm algo em comum: todos procuram diversificar o seu trabalho para permanecerem competitivos neste mercado local emergente.


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Vivian Chan: navegar pelo mundo num “barco de madeira”

 

Vivian Chan concluiu recentemente uma viagem de 100 dias, que a fez visitar países onde nunca tinha estado, como o Egipto, a Turquia, o Irão e o Paquistão. Além de um encontro romântico, a viagem também proporcionou a Chan a inspiração para abrir o seu próprio estúdio. A tomada desta decisão levou-a a abandonar o tradicional modelo de agência discográfica para partir em busca de novas ambições com maior liberdade.

 

Fardos agridoces

 

Embora Chan só tenha inaugurado o estúdio em Março deste ano, a ideia bailava na sua mente desde o início de 2019. “Trabalhei com uma empresa (a Chessman Entertainment) durante sete ou oito anos. Experimentei diferentes vertentes na área do entretenimento, incluindo cantar, representar e ser apresentadora de eventos”, relembrou Chan. “Por isso, pensei se não haveria algo novo que pudesse experimentar. Muitos artistas no interior da China abriram os seus próprios estúdios e assumiram o controlo da sua imagem e da sua carreira. Isto inspirou-me a abrir o meu, com vista à minha evolução.”

 

Após algumas negociações, Chan estabeleceu uma parceria com a Chessman Entertainment e criou o Wooden Boat Music Studio. A Chessman Entertainment é agora sua parceira de negócios. “A principal diferença é que, quando eu era uma artista, a agência arranjava diferentes actividades e trabalhos para eu concretizar. E eu seguia as indicações da agência, assegurando, por exemplo, que um novo álbum era lançado numa determinada data. Só precisava de ser uma boa intérprete”, explicou Chan. “Agora sou responsável pelo estúdio. Não posso distribuir todo o trabalho a outros, e isso significa que tenho de assumir mais responsabilidades. Agora, a Chessman Entertainment desempenha mais um papel de suporte, uma vez que não está directamente envolvida na operacionalização.”

 

Por outras palavras, Chan precisa de supervisionar todos os níveis de funcionamento do estúdio, desde a ideia original à sua transformação em realidade, sem esquecer o networking e o controlo de custos. No entanto, ela sente que estes são novos fardos que a fazem sentir feliz. “Agora tenho de construir a minha imagem de marca sozinha. Posso partilhar as minhas ideias directamente com outras pessoas sem ser obrigada a seguir uma série de procedimentos”, esclareceu. “Sinto que a minha carreira alcançou o patamar seguinte.” E embora ainda haja muita coisa que Chan precisa de aprender, ela tem a confiança necessária para lidar com os desafios, devido à diversidade de experiências que acumulou ao longo de anos de trabalho profissional.


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Vivian Chan criou o seu Wooden Boat Music Studio  Foto cedida pelo entrevistado

 

Uma operação empresarial diversificada

 

Chan iniciou a sua carreira como cantora após participar numa competição musical em Hong Kong. Apesar de ter experimentado diferentes funções na área do entretenimento, ela continua a ter várias ideias do que pretende concretizar através do estúdio. “Por exemplo, já pensei em organizar festivais musicais, ou conceber produtos relacionados com o estúdio para os fãs”, revelou Chan. “Tenho interesse em desenhar e em fazer design. Estudei design quando andava na escola. Por isso, quero combinar os meus interesses com o meu trabalho.”

 

Outro dos caminhos que Chan pretende explorar futuramente é o de se tornar uma KOL (key opinion leader) em matéria de viagens e lifestyle. Chan aproveitou a sua viagem de 100 dias, que teve lugar no final de 2019, para realizar alguns vídeos curtos que pretendia partilhar nas redes sociais. Chegou mesmo a planear algumas actividades. Mas a pandemia da COVID-19 perturbou os seus planos e, como tal, viu-se na contingência de os adiar. “Há muitas oportunidades de negócio online. Eu poderia ajudar potenciais clientes a alcançar a sua audiência alvo através da construção da minha imagem nas redes sociais”, adiantou, crente de que a diversificação da carreira é algo muito importante em Macau, como prova o facto de cantores a tempo inteiro no território não terem possibilidade de viver apenas da sua actividade enquanto intérpretes.

 

Não se trata apenas de seguir tendências

 

O foco de Chan continua a estar na sua carreira musical. Até ao momento, ela lançou três álbuns e vários singles. “Os dois primeiros álbuns eram compostos sobretudo por canções de amor. O meu terceiro álbum é mais folk. E os dois singles que apresentei recentemente, de que é exemplo Silence, contêm pensamentos mais filosóficos”, explicou Chan. “Espero vir a incorporar nas minhas canções um maior debate sobre a vida.” Através de um estudo de mercado que levou a cabo, a artista concluiu que a maioria dos seus fãs gosta das suas canções de amor, motivo pelo qual os seus trabalhos futuros continuarão a ser mais ou menos constrangidos por essa imagem de “Vivian Chan”. Todavia, isso não a impede de pensar em começar a adicionar alguns elementos de que gosta nas suas canções, bem como de tentar compor e escrever os seus próprios temas. “Enquanto cantora, não posso simplesmente seguir as tendências do mercado, até porque o mercado está sempre a mudar bastante depressa”, frisou Chan. “Quem se limitar a seguir as tendências, facilmente se perderá.”

 

Manter a fidelidade ao objectivo original

 

“No início, as pessoas perguntavam-me porque queria ser cantora, tendo em conta que não era particularmente boa a cantar, tinha baixa estatura e não era especialmente bonita”, afirmou Chan. “E eu respondia: ‘e porque não posso experimentar quando tenho essa oportunidade?’ Ou seja, se eu não experimentar, como é que sei que não vai resultar?” Chan lembra-se da altura em que estava determinada a seguir o seu sonho, apesar de as condições há uma década não serem lá muito boas. “Já trabalho nesta indústria há algum tempo. E ainda me recordo de como a minha coragem foi fundamental para me ajudar a embarcar nesta jornada.”

 

Recomendações:

Silence:

Hurt: