Chiu Hong Lok, jogador de eSports local: precisamos de uma equipa que represente Macau

08 2018 | 28a edição
Texto/Hazel Ma

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O jogador de eSports de Macau Chiu Hong Lok entrou para a indústria dos eSports logo após terminar o ensino secundário. Durante os seus cinco anos de carreira profissional, tem disputado várias competições de eSports em Macau, no interior da China e em Hong Kong, conquistando alguns títulos. No ano passado, até participou nos World Cyber Games, alcançando os quartos-de-final em representação de Macau. É um dos melhores jogadores profissionais que o território possui. Apesar dos seus feitos, Chiu acredita que a indústria de eSports de Macau ainda está numa fase inicial e falta-lhe uma equipa que represente verdadeiramente a cidade.


Inspirado por campeões mundiais

 

Chiu começou a jogar jogos electrónicos quando era pequeno. Mas é completamente diferente fazê-lo por diversão ou profissionalmente. A vitória de uma equipa lendária de Taiwan no campeonato mundial foi o clique que levou Chiu a entrar nos eSports.

 

Chiu recorda-se que, naquela altura, os eSports tinham começado a emergir na Ásia. Ele sentiu-se confiante ao ver que uma equipa de eSports asiática tinha sido capaz de chegar ao campeonato mundial e tornar-se campeã do mundo. A partir desse momento, quis tornar-se jogador profissional. Mas a jornada de Chiu nos eSports não tem sido fácil. Em primeiro lugar, deparou-se com a oposição dos seus familiares. “De início eles eram contra a ideia, mas eu falei com eles pacientemente. Acabaram por decidir dar-me dois anos para experimentar. Se não funcionasse, voltava para a escola”, conta Chiu. “Agora sou jogador profissional a tempo inteiro com um salário mensal de 12 mil patacas. Treino oito a nove horas todos os dias. Também preciso de treinar em locais profissionais e preparar-me para as competições. Não é diferente de outros trabalhos normais.”

 

Os eSports são máquinas de fazer dinheiro

 

Segundo Chiu, muitas pessoas não conseguem distinguir entre jogar profissionalmente ou informalmente porque ainda encaram os jogos electrónicos como uma actividade de lazer e não como uma modalidade competitiva. Todavia, a mentalidade é muito diferente quando se joga profissionalmente. “Aliás, os jogadores de eSports obtêm rendimento através de vários canais, como a publicidade e as transmissões online em directo”, revela Chiu, explicando as fontes de rendimento e o potencial de carreira dos jogadores profissionais. “Em geral, os jogadores de eSports assinam contrato com um agente. É semelhante ao que se passa com as celebridades da Internet.”

 

Muitas pessoas pensam que os jogadores de eSports têm uma carreira profissional relativamente curta. A época áurea para os jogadores profissionais é dos 16 aos 20 anos e, depois de chegaram a essa idade, os reflexos dos jogadores profissionais começam a declinar, bem como a sua habilidade para controlar totalmente as suas mãos. No entanto, Chiu possui uma opinião diferente: “Acredito que essa teoria corresponde apenas a meia-verdade, porque há diferentes tipos de competições de eSports. Também há jogos de cartas que não exigem um grande comando das mãos. Nesse caso, quanto mais velhos, ou melhor, quanto mais experientes forem os jogadores, melhores praticantes serão”.

 

Macau ainda não tem uma equipa profissional

 

Muitos praticantes de eSports por todo o mundo gozam de um rendimento bastante interessante e de um grande potencial de carreira, o que torna a profissão de jogador de eSports um emprego de sonho para muitos. Mas qual é a situação dos jogadores de eSports em Macau? Na perspectiva de Chiu, a indústria de eSports do território ainda está a crescer, o que faz com que muitos talentos interessados em tornarem-se jogadores profissionais não consigam encontrar trabalhos com um rendimento estável. Actualmente, há jogadores bem-sucedidos e activos no interior da China, Hong Kong e Taiwan. “Para já, o mais difícil é não termos uma equipa estável que represente Macau. Os eSports de Macau estão a desenvolver-se lentamente e, como tal, não possuímos uma infraestrutura madura. A maior parte das vezes, quando participamos em competições de eSports noutras regiões, temos de ser nós a pagar as despesas de transporte e alojamento. E é incerto se vamos ter sucesso ou não. Porém, o mais importante é que Macau precisa de ter uma equipa que represente o território. Caso contrário, é difícil atrair os jovens a juntar-se”, conclui Chiu.

 

Muitas entidades em Macau têm estado activas na organização de competições pela cidade. Contudo, na opinião de Chiu, há vantagens e desvantagens nisso, porque há muitos torneios internacionais que podem atrair turistas, mas que podem não fomentar a participação dos jovens jogadores locais. Por outras palavras, estes torneios não estão a encorajar os talentos locais a dedicarem-se aos eSports.

 

Formar jogadores locais é crucial para o desenvolvimento futuro

 

Embora não seja fácil a indústria dos eSports arrancar em força, Chiu continua a ter uma atitude positiva no que toca ao desenvolvimento desta na cidade, devido às vantagens de que Macau desfruta. “A força de Macau está nos recursos abundantes em termos de locais para eventos e hotéis, o que é excelente para organizar grandes provas internacionais”, afirma. O facto é que Macau tem muitas instalações de qualidade para eSports, mas será preciso muito mais do que isso para tornar as competições de eSports numa indústria. “Estamos a ter um problema geracional em Macau. Não temos jogadores jovens para seguirem as pisadas dos seus antecessores”, diz Chiu, acreditando que Macau pode aprender com Hong Kong e Taiwan e criar cursos de eSports para alimentar talentos futuros.

 

“Não é assim tão difícil seguir um sonho”, sublinha Chiu, encorajando as pessoas que têm interesse em tornar-se jogadores profissionais. “É só preciso dar o primeiro passo. A seguir a isso, o sucesso fica mais perto.”