Johnny Tam: o teatro enquanto diálogo com o público

06 2017 | 21a edição
Texto/Lai Chou In

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Além de frequentarem o Centro Cultural de Macau e o Teatro Caixa Preta no Edifício do Antigo Tribunal, geridos pelo governo, os amantes do teatro no território também frequentam espaços de arte escondidos em edifícios industriais. Grupos teatrais privados, como o Grupo de Teatro Experimental de “Pequena Cidade”, lançaram o Festival BOK para interligar espaços de arte e apresentar ao público sessões teatrais não convencionais. É uma oportunidade de dialogar com a cidade e de fazer experiências com as possibilidades dramáticas.

 

O festival arrancou em 2013. Com o objectivo de “Interconectar, Trabalhar Arduamente e Lutar com Tudo o que se Tem”, o certame é realizado todos os anos em Junho e Julho, contando com peças de teatro experimental de grupos locais e estrangeiros. Johnny Tam, director artístico do Festival BOK e do Grupo de Teatro Experimental de “Pequena Cidade”, diz que os eventos organizados por grupos privados são mais flexíveis do que os levados a cabo pelo governo e que cada actuação permite mais oportunidades para experimentar e explorar a estética dramática. “O público de Macau costuma ver peças teatrais como uma forma de contar histórias. No entanto, uma peça não começa necessariamente com um guião. Às vezes, um grupo de designers, poetas e fotógrafos pode interpretar um espaço com as suas próprias ideias, o que trará mais possibilidades a uma peça.”

 

Cada edição do festival tem um tema. Em 2015, foi a “Palco de Instalação”. No ano passado o objectivo era “Ligar os Teatros Alternativos”. Este ano, o foco estará no público – a forma como a participação deste no teatro muda a natureza do trabalho dramático é a questão a explorar. Tam espera que o tema seja discutido pelos espectadores. “Qualquer director artístico e director teatral tem um desejo: envolver os espectadores num diálogo através de um festival de teatro.”

 

Organizados pelo governo, os espectáculos do Festival de Artes de Macau esgotaram a lotação mal os bilhetes foram postos à venda e o certame tornou-se num dos eventos de arte mais aguardados da cidade. Tam admite francamente que ainda há muito a ser feito para que o público entenda e reconheça o Festival BOK. “No que diz respeito ao marketing e à comunicação, quanto mais experimental e incerta é a natureza do evento, mais atenção se exige à sua apresentação e à construção da marca. Isto leva o público a perceber que alguns factores são uma incógnita, mas que isso pode ser divertido. Tem de ser feito um esforço para promover um tal conceito de arte.” Por isso, co-organizadores da iniciativa lançaram uma campanha promocional para explicar o conceito do festival. Nos últimos dois anos, foram programadas apresentações específicas para os alunos em certas escolas de Macau e organizadas discussões pós-espectáculo. O ambiente foi descontraído, para incentivar o público a interagir com os artistas após as sessões. Tam acredita que este procedimento pode levar as duas partes a estabelecerem um diálogo, o que é preferível a pedir ao público que dê a sua opinião através do preenchimento de questionários. “Este tipo de interacção permite que a audiência compreenda melhor o nosso conceito artístico.”

 

Aliás, a diversidade dos espectáculos no Festival BOK assemelha-se à do Grupo de Teatro Experimental de “Pequena Cidade”. Fundado em 2008, o grupo era anteriormente designado Teatro de Horizonte. Nos primeiros tempos, apresentou sobretudo adaptações de clássicos ocidentais. Quando mudou para o nome actual, em 2013, a companhia começou a dar atenção a novas obras (ou seja, obras modernas traduzidas) e a musicais originais. “A grande mudança nos últimos dez anos foi a transformação gradual de uma associação num grupo teatral profissional. Uma associação permite que um conjunto de amantes de teatro das mais diversas origens se mantenha unido através da representação teatral, enquanto um grupo de teatro profissional tem um posicionamento, um público-alvo e metas próprias.”

 

Nos últimos anos, o grupo foi convidado a actuar em festivais de arte em Hong Kong, em Taiwan, no interior da China, no Japão e no Canadá. Tam descobriu que, se uma peça traduzida fosse apresentada no estrangeiro, as respostas do público estavam longe de ser satisfatórias. “Percebemos que temos de ter o nosso próprio posicionamento e um trabalho teatral original, especialmente quando participamos em festivais de arte no exterior. Trabalhos originais podem realçar os nossos pensamentos e percepções do mundo.” Juntamente com os seus amigos Wong Teng Chi e Njo Kong Kie, Tam compôs, em 2015, o musical The Time of Shi. O espectáculo foi à cena em locais como Macau, Hong Kong, Taiwan e Canadá, país ao qual regressa este ano, para 40 apresentações. Públicos de diferentes lugares reagem de diferentes formas, ainda que assistam à mesma peça. Tam salienta que o público taiwanês é muito sensível aos textos, enquanto o de Hong Kong e Macau dá mais atenção à expressão plástica, e os espectadores canadianos estão mais interessados nas metáforas incluídas na peça, assim como em questões de identidade e de rotulagem. “Embora tenhamos a nossa própria história para contar, a interpretação do trabalho pelo público é necessária. E o público é mais inteligente do que nós. É capaz de ver muito mais do que nós.”

 

Tam trabalha no teatro em Macau desde que concluiu o curso superior, em 2009. Acredita que o público e os grupos teatrais do território se tornaram mais diversificados. “Sinto que o sector está agora a florescer. Cada companhia tem o seu estilo artístico e seu nicho de mercado.” Embora o seu grupo seja chamado de “Teatro Experimental”, como as obras criadas por Tam, ele recusa-se a ser rotulado como tal. “Não quero definir o que faço. Continuamos a realizar experiências artísticas e continuamos a dialogar com o mundo.”