Sabe-se que o Reino Unido é um dos países onde as indústrias criativas são pioneiras. Como as estatísticas revelam, desde que, em 1997, foi apresentado o conceito de indústrias criativas, o sector tem vindo a crescer, atingindo um valor de 84 mil milhões de libras em 2014, o equivalente, em termos de produtividade, a 9,6 milhões de libras por hora, representando 5,2% do PIB. Além das políticas de apoio, o crescimento das indústrias relevantes também depende da educação. Nos últimos anos, tem havido um aumento significativo dos recursos investidos nas artes criativas locais para promover uma economia mais diversificada, mas de onde vem o talento humano para as artes criativas? Nesta edição, reunimo-nos com os representantes da Escola Secundária Millennium e do Instituto Politécnico de Macau, que nos revelaram as perspectivas actuais para a indústria criativa de Macau em termos de ensino secundário, superior e de outro tipo. Conversámos também com Bob Lei Hou Keong, do Todot Design, para conhecer as expectativas de quem trabalha na área.
Escola Secundária Millennium: Educação para lá da Sala de Aula
Jeni Ip Ka Leng, uma aluna do ensino secundário, pretendia afastar-se da escola devido a maus resultados. Naquela altura ela estava deprimida, quase abandonou por completo os estudos e perdeu o interesse nas artes, tema que apaixonava. No entanto, tendo-se matriculado na Escola Secundária Millennium no ano passado, retomou a prática de pintura e duas das suas obras foram vendidas no leilão de caridade da segunda edição do “6075 Macao Hotel Art Fair”. Falando das suas experiências, ela explica: “Aqui há muito mais programas de artes disponíveis para os alunos. Isso ajudou-me a recuperar a confiança na pintura, e fez-me perceber que o meu trabalho criativo é apreciado também pelos outros.”
Na Escola Secundária Millennium há muitos outros estudantes com experiências semelhantes. Ao contrário das escolas tradicionais, esta oferece um currículo dirigido a estudantes maduros (ou seja, programas adequados de ensino secundário para estudantes com mais de 16 anos), bem como programas vocacionais. Ken Choi Weng Tat, director-adjunto, explica que, além dos programas socioeconomicos para o ensino secundário, começaram a oferecer programas de artes há cerca de cinco anos, para complementar o crescimento das indústrias criativas em Macau. Estes programas destinam-se a preparar os estudantes para o ensino universitário, ao mesmo tempo que os encorajam a explorar o seu potencial artístico.
Guy Wong Tak Ian, professor principal de Artes, diz-nos que as horas de estudo para as matérias obrigatórias (por exemplo, Chinês, Inglês e Matemática) e para as artes estão numa proporção de 6 para 4. Nas artes, os temas principais são cerâmica, pintura, produção cinematográfica e música. Nesta área, não só facultam aos alunos um conhecimento básico fundamental, como destacam as aplicações da arte. “Esperamos que os alunos possam perceber que, além da valorização artística, uma pintura pode ter muitas outras vertentes e estender-se a diferentes formas e produtos. Por exemplo, além do seu valor estético, a fotografia pode ser usada para fins comerciais.”
Todos os anos, a Escola Secundária Millennium oferece diversas oportunidades aos seus alunos para participarem em competições artísticas e culturais, e em actividades dentro e fora da escola. Nelas se incluem competições de talentos, o School Campus Fun, o Festival Fringe da Cidade de Macau e o Desfile por Macau, Cidade Latina. Por exemplo, nos últimos três anos, Io Weng Sum, uma artista jovem e talentosa que trabalha como professora de Artes na Escola Secundária Millennium, levou os alunos a participar na Feira de Artesanato do Tap Siac, organizada pelo governo. Todos os anos, ela selecciona alguns bons trabalhos dos alunos para vender na feira. “Se as peças de arte feitas na sala de aula se transformarem em artigos para a casa, os alunos ficarão muito motivados para criar”, diz. A professora incentivou também alguns estudantes a ajudar na feira, para que possam aprender a apreciar a arte de comunicar e interagir com os outros.
Na sala de aula, Io concentra-se em estimular o interesse dos alunos no processo criativo: “Nem todos estão interessados em aprender os aspectos mais técnicos do ofício, pelo que, se eu me focar demasiado nisso, eles facilmente perdem o interesse. O tema torna-se mais estimulante se eu puder encorajá-los a pensar por si mesmos”, declara. Recentemente, Io ensinou os alunos a criar “zentangles”, que têm uma maior relação com a expressão temática do que o desenho tradicional. Assim, ela pode introduzir uma forma que apela a alunos com diferentes capacidades.
Além de várias actividades artísticas e culturais, nos últimos anos o governo também tem lançado muitos projectos visando a escola primária e secundária, ajudando os alunos a aprender sobre artes criativas desde tenra idade. Iniciativas como o “Bola de Neve – Projecto de Educação Artística” e o “Programa de Extensão do Festival de Artes de Macau no Campus” são fortemente apoiadas pelas várias escolas primárias e secundárias. O governo criou igualmente o Pavilhão de Exposições e Espectáculos Artísticos para Jovens no Tap Siac, para lhes facultar um espaço para mostrarem o seu talento e para acolher exposições. Apoiante destes projectos, Wong Tak Ian revela que os seus alunos gostaram de participar em algumas das exposições. Aliás, parte das obras que tinham produzido foram procuradas pelo público. “Estas exposições ajudam a tornar o processo de criação de arte mais completo. Através dessas actividades, os alunos propuseram-se a criar arte de qualidade, e apreciaram o valor duradouro do trabalho criativo.”
Além disso, para os alunos também é inspirador interagir com profissionais da arte, um processo que mostra como as artes e a cultura funcionam no mundo real. Ele sublinhou que, na Escola Secundária Millennium, convidam frequentemente artistas para leccionar oficinas temáticas. Também organizam passeios para visitar entidades e empresas na área das artes e da cultura. Em Maio deste ano, planeiam organizar uma viagem escolar a Shiwan, Guangdong, para que os estudantes aprendam mais sobre o fabrico de cerâmica.
Na verdade, actividades como saídas ao exterior beneficiam tanto os alunos quanto os professores. Na sua recente viagem artística ao Interior da China, Choi ficou impressionado ao ver que o sector educativo local mantém uma estreita relação com as empresas culturais e artísticas ali sediadas. Desta forma, as empresas podem contribuir para os recursos na educação, enquanto as escolas podem fomentar o talento necessário para o desenvolvimento das artes e da cultura. Ele sentiu que este modelo interactivo abre novas possibilidades para Macau. “Estamos contra uma forma passiva de educação, e esperamos que os nossos alunos possam realmente descobrir o seu talento para servir a sociedade.”