Instituto Politécnico de Macau: Ligando a Comunidade e Mostrando a Beleza do Território

04 2017 | 20a edição
Texto/Lai Chou In

Escola Secundária Millennium: Educação para lá da Sala de Aula   Bob Lei, de Design Todot: Acompanhar o Progresso ou Ficar para Trás


Normalmente, quando amigos e familiares no estrangeiro nos pedem presentes de Macau, pensamos apenas em biscoitos de amêndoa e em carne seca. Mas Hsu Hsiu-Chu, directora da Escola Superior de Artes e do Centro Pedagógico e Científico para as Indústrias Culturais e Criativas do Instituto Politécnico de Macau (IPM), acredita que as marcas e produtos de design de Macau podem tornar-se itens imperdíveis da cidade. Para alcançar esse objectivo, a educação é de suma importância.

 

Para acompanhar o desenvolvimento económico e industrial e preparar novos talentos criativos para Macau, o IPM criou, em Março do ano passado, o Centro Pedagógico e Científico para as Indústrias Culturais e Criativas. Hsiu salienta que a escola já preparou centenas de talentos em design, música e artes visuais para Macau, e que o Centro irá alargar o seu alcance para ligar os recursos às necessidades comunitárias. Workshops, palestras e cursos breves, por exemplo, são algumas das formas flexíveis de responder às necessidades da comunidade.

 

O Midsummer Art Camp, que teve lugar o ano passado, foi uma tentativa de transformar esta visão em realidade. A demolição dos estaleiros em Lai Chi Vun, em Coloane, tornou-se um tema relevante na cidade. Em Abril do ano transacto, o Centro enviou uma equipa de professores e alunos da escola para o local, com vista a examinar a área. O local histórico foi tema de acampamento, que durou três dias, e a participação de alunos do ensino secundário foi considerada bem-vinda. No final, os participantes criaram vários tipos de produtos relacionados com Lai Chi Vun, tais como fotografias, ilustrações e cerâmicas. Todos os produtos foram vendidos num mercado.

 

“A educação criativa precisa de estar enraizada localmente. Quando as crianças crescem numa tal cultura, podem vir a seguir uma carreira artística ou tornar-se defensoras dos produtos criativos, pois todas adoram este lugar.” Hsiu faz uma analogia entre a educação criativa e uma pirâmide. O mais importante é alimentar um grupo de pessoas interessadas nas artes, para que estas possam tornar-se apoiantes dos produtos criativos. A etapa seguinte implica fomentar o interesse de um grupo de pessoas pelo design, de modo a que elas possam promovê-lo junto do público. O nível superior é composto por profissionais de design e de gestão.

 

Além de assegurar o trabalho estrutural que é incrementar o sentido estético dos estudantes, o IPM tem colaborado com a Universidade de Artes de Taiwan para disponibilizar o Mestrado em Artes Interdisciplinares, com vista a oferecer mais pós-graduações em arte e cultura e a fornecer mais talentos ao sector. Segundo Hsu Hsiu- Chu, actualmente os programas da escola exigem que o aluno se especialize numa disciplina específica, como design, música ou artes visuais, mas a tendência global é para que se esbata a linha entre as disciplinas. Portanto, Macau precisa de mais talentos interdisciplinares. A escola prevê levar a cabo programas de mestrado em estudos criativos, de forma a ir ao encontro das necessidades de desenvolvimento do território.

 

Hsiu enfatiza repetidamente que a comunidade é vital para a educação criativa. “A comunidade é de extrema importância. É onde vivemos e onde temos ligações. O nosso Centro e a escola têm de estar alicerçados na comunidade, uma vez que cada comunidade tem a sua singularidade e a sua história para contar.” Hsiu é natural de Taiwan, mas os seus olhos brilham quando fala na cultura comunitária de Macau. Ela toma para exemplo a área em redor da Avenida do Conselheiro Ferreira de Almeida, que considera significativa pelo facto de estar imbuída da cultura chinesa e de culturas ocidentais, constituindo um repositório de histórias. Para Hsiu, há algo culturalmente valioso ainda por descobrir naquela zona.

 

O Centro lançou “Um Estudo sobre a Criatividade Comunitária de Macau”, no âmbito do qual serão analisados casos de desenvolvimento da criatividade comunitária no território e no exterior, e serão examinados os pontos fortes de cada comunidade em Macau. Além disso, o IPM vai lançar cursos sobre criatividade comunitária e os professores serão incentivados a ensinar mantendo o enfoque na conexão com a comunidade.

 

Também oriundo de Taiwan, Yu Kuo-Hua, professor associado visitante no Centro Pedagógico e Científico para as Indústrias Culturais e Criativas, tem estudado a criatividade comunitária. Desde a década de 1990, Taiwan tem defendido o conceito de construção comunitária e construído proactivamente a identidade de cada comunidade, para assim promover a indústria cultural local.

 

Quando se fala de casos bem-sucedidos em Taiwan, Yu enfatiza: “Comunidades e zonas rurais em Taiwan desenvolveram a sua própria indústria cultural. E, embora Macau tenha uma área menor e menos população, as oportunidades existem. O segredo é descobrir os valores próprios fundamentais.” Não se trata simplesmente de imprimir imagens das Ruínas de São Paulo em t-shirts ou imagens de Lai Chi Vun numa caneca. O importante é descobrir as histórias e a cultura por detrás dos ícones, como a elaborada arte de construção naval que teve lugar naqueles estaleiros.

 

“Criatividade comunitária é permitir que Macau se torne objecto da indústria criativa do território e se deixe ver.” Esta é a opinião de Yu no que diz respeito ao trabalho que vai realizar.

 

Preparar os Talentos do Design para o Futuro

 

Olhando para os seus dias de estudantes, três licenciados pelo Instituto Politécnico de Macau dizem em uníssono: “O tempo voou tão depressa”.

 

“Naquele tempo, eu via alguns estudantes finalistas a fazerem directas no campus para terminarem os trabalhos. Costumava pensar que eram lutadores de última hora. Depois, quando comecei a estudar animação 3D, percebi que nunca havia tempo suficiente para fazer aquilo que queremos fazer”, afirma Kimberly Choi Lei Kei, que estudou multimédia no Instituto Politécnico de Macau. Ela explica que quando havia prazos para vários trabalhos ao mesmo tempo, o volume de trabalho era tão pesado que alguns estudantes tinham de ficar no campus durante três dias só para dar conta do recado. Mas quando alguém ama o trabalho que faz, tudo vale a pena, mesmo que pareça ser uma coisa de loucos. Choi reconhece: “Quando estava no secundário, não gostava nada de estudar. Mas, quando cheguei à universidade, a minha mãe disse-me que passei a estar mais tempo na escola do que quando era estudante do secundário. O que ela disse teve um impacto importante em mim.”

 

Após estudar design gráfico, Grateril Sit Ka Ma começou a ficar curiosa com tudo o que a rodeava. Quando via uma faixa publicitária na rua, começava a pensar se alguns aspectos do design, como o número de palavras, o espaçamento das linhas ou a paginação, eram os mais adequados. É como diz o provérbio: “Tudo na vida é inspiração”. Certa vez, a sua colega de turma Libby Lei Pou Kin fez capas de telemóvel para vender. Ela tem confiança no desenvolvimento das indústrias criativas em Macau porque o governo apoia muito os jovens empreendedores. No que toca a emprego, Lei espera trabalhar numa empresa de design de modo a ter mais experiências no sector antes de criar a sua própria marca. Quanto ao estágio que irá ter no próximo verão, espera que venha a ser numa empresa criativa de Taiwan, de modo a ter experiências relevantes, alargar os seus horizontes e trazer elementos diferentes para Macau, que estimulem a sua criatividade.