Espaço criativo em Macau: com os preços do imobiliário tão elevados, como podem subsistir os grupos

06 2015 | 6a edição
Texto/Jason Leong e Allison Chan

Mesmo com o abrandamento da indústria do jogo em Macau, o mercado imobiliário mantém-se robusto. De acordo com dados da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos, o preço médio das propriedades industriais em 2014 era de 54.250 patacas por metro quadrado, uma subida de 61 por cento quando comparado com as 33.721 patacas do ano anterior. A subida do preço dos imóveis e a falta de qualquer tipo de regulação do mercado de arrendamento causam grandes dores de cabeça ao cidadão comum e às empresas, já para não falar dos grupos criativos. A cultura e o comércio precisam de espaço físico para poderem alcançar um desenvolvimento saudável. Convidámos três grupos criativos para falar sobre a forma como estão a lidar com os exorbitantes preços do imobiliário em Macau.

 

Teatro de Lavradores: o sofrimento de quem não tem uma casa   Colaboração Cruzada: Macau Creations X Choi Heong Yuen


Associação de Música ao Vivo: proprietária de um espaço industrial

 

As Medidas de Requalificação de Edifícios Industriais foram implementadas em 2011, contabilizando-se poucos exemplos de sucesso até à data. No entanto, isto fez com que os preços das unidades dos edifícios industriais aumentassem de forma rápida, afectando vários grupos culturais estabelecidos nestas áreas. Vincent Cheang, que adora tocar em bandas, decidiu agir e comprou uma unidade num edifício industrial da Avenida do Coronel Mesquita, utilizando o nome da sua empresa e convertendo o espaço num local para música ao vivo e palco de ensaio para a sua banda. Cheang convida também para tocar grupos de música estrangeiros, dando aos melómanos locais um espaço fixo para assistir a concertos.

 

Cheang é o director da Associação de Música ao Vivo (LMA) e vocalista da banda local L.A.V.Y. Em 2008 fundou a associação em conjunto com um grupo de apaixonados por música, arrendando um espaço industrial de 6 mil pés quadrados perto da Avenida do Coronel Mesquita por cerca de 13 mil patacas mensais. O espaço estava bem equipado com isolamento sonoro, iluminação, um palco e equipamento áudio. Também tinha um espaço de exposições. Mas em 2012 o proprietário decidiu vender o espaço e o grupo foi forçado a sair. Cheang recorda que o senhorio tentou convencê-los a comprar aquela unidade por 3,8 milhões de patacas, mas nessa altura não tinham essa quantia e, por isso, planeavam continuar a arrendar.

 

“Mais tarde descobri que a unidade mudou de dono por 15 milhões! Não podia acreditar que o preço subisse tanto em quatro anos. Depois disso decidi que compraria um espaço algures em vez de arrendar. Não queria cometer o mesmo erro”, diz Cheang.

 

Depois das mudanças, a associação sofreu grandes perdas, já que todo o equipamento ficou inutilizável. A associação precisou de cerca de um ano e meio para encontrar um novo espaço ali perto—com 1.500 pés quadrados, bem mais pequeno que os 6 mil pés quadrados do espaço anterior. Cheang diz que, apesar de o novo espaço ser bem mais pequeno, é suficiente, mas o grupo não podia tentar poupar em certas coisas, como no isolamento sonoro.

 

A LMA já não sofre a pressão de ter de mudra de instalações e de ter uma renda para pagar. Está a desenvolver-se de forma estável. A estabilidade é extremamente importante para o grupo, diz Cheang. “Muitos músicos e bandas em Macau precisam de um local para as suas actuações, mas a maioria dos espaços oficiais recebem espectáculos de mais tradicionais, em vez de rock ou metal. Por outro lado, o nosso espaço permite uma gama mais flexível e diversa de espectáculos musicais, desde o barulhento metal ao som suave da guitarra acústica. Mas o mais importante é ter um espaço musical fixo. Como qualquer pessoa, os músicos apreciam esse tipo de estabilidade”, diz.

 

Cheang não investe apenas em hardware, é também extremamente dedicado na gestão do negócio. Diz que os músicos de Macau são muito talentosos e podem comparar-se a bandas profissionais, mas simplesmente não apostam o suficiente na promoção e no marketing.

 

“Deixamos os grupos utilizarem o espaço gratuitamente, mas não permitimos que não façam promoção. Uma vez, um grupo deu um espectáculo e, incluindo os funcionários, estiveram literalmente presentes meia dúzia de pessoas. Foi um desperdício de todo o nosso trabalho”, diz.

 

Desde aí, a associação passou a comprar uma determinada quantidade de bilhetes de qualquer grupo que utilizasse o espaço para um concerto, de forma a demonstrar o seu compromisso e expectativa para com o espectáculo. A associação também está a trabalhar muito na sua promoção como espaço organizador de espectáculos musicais. Por exemplo, em Maio, organizou seis concertos com diferentes grupo. Este foi particularmente um período de grande actividade. Noutras alturas, não é organizado mais do que um espectáculo por semana devido às limitações de recursos humanos.

 

Cheang diz que o governo deve criar mais políticas para promover as indústrias culturais e criativas. O responsável acredita que as políticas governamentais para a revitalização dos edifícios industriais não têm sido bem pensadas. “Com o preço do imobiliário tão elevado, os proprietários aproveitam-se desse factor e especulam. Eles acabam por subir as rendas e os preços. Muitos grupos artísticos têm de continuar a mudar por causa disto. Não têm uma casa. Sem isso, é difícil falar em indústrias criativas”.