Teatro de Lavradores: o sofrimento de quem não tem uma casa

06 2015 | 6a edição
Texto/Jason Leong e Allison Chan

Associação de Música ao Vivo: proprietária de um espaço industrial   Colaboração Cruzada: Macau Creations X Choi Heong Yuen


Teatro de Lavradores: o sofrimento de quem não tem uma casa

 

Nem todos os grupos criativos têm a possibilidade de ter o seu próprio espaço, como a Associação de Música ao Vivo. Não é uma situação fácil. O Teatro de Lavradores, um grupo formado em 2000 por Jacky Li, de Hong Kong, e por uma série de profissionais das artes de Macau, é um bom exemplo desta realidade.

 

O Teatro de Lavradores é um grupo profissional de teatro, o que é algo muito raro em Macau. O grupo quer contribuir para que os actores em Macau desenvolvam uma carreira profissional equilibrada no seio da indústria. Desde que foi estabelecido, o número de apoiantes e de público não tem parado de crescer, mas o mesmo tem acontecido com os custos de funcionamento e das rendas. Neste momento, o grupo de teatro encontra-se numa situação financeira muito difícil. À data deste texto ser escrito, o grupo lançou uma campanha online para angariar fundos. “Manutenção, gestão, salários, tudo isto requer recursos. Neste momento, ainda conseguimos comportar estes custos, mas um espaço físico para os espectáculos, ensaios, armazém e mesmo um escritório para o nosso pessoal que trabalha a tempo inteiro, esses são problemas reais. Neste momento, a falta de espaço é um problema sério em Macau, não há nada que possamos fazer”, diz Li. Desde que foi fundado há 15 anos, o grupo já mudou de espaço quatro vezes. Numa das ocasiões, o governo queria o espaço de volta e, nos outros casos, os proprietários aumentaram a renda. Tem sido impossível encontrar estabilidade.

 

Em 2007, o grupo esteve perto de fechar as portas devido ao valor elevado dos preços do arrendamento. Afortunadamente, acabou por receber apoio de Chung King Fai, veterano do mundo do teatro de Hong Kong, e da Fundação Macau, que foi para o grupo uma tábua de salvação. O grupo tem actualmente um espaço arrendado num edifício industrial. Mas o que é bom não dura para sempre. Depois de o teatro ter submetido no ano passado uma candidature para obter financiamento, subitamente, o proprietário decidiu aumentar a renda em 100 por cento, deixando as finanças da organização novamente em apuros.

 

Jacky Li não desistiu e manteve-se perseverante. “Neste momento não ganho um salário e temos mesmo de controlar os nossos gastos. Tentamos produzir mais espectáculos e também tentamos arrendar o nosso espaço para ensaios de outros grupos quando não o estamos a utilizar. Mas não podemos poupar nos custos da produção. Somos um grupo profissional”, diz Li.

 

A prioridade de Jacky Li passa por aumentar o número de espectadores. Mas não é fácil abrir caminho para o mundo do teatro. “Organizamos frequentemente actividades para escolas secundárias, dando oportunidade aos mais jovens de terem acesso ao teatro desde tenra idade. Isto pode ajudar a aumentar a nossa base de espectadores. Esta tem provado ser uma acção de sucesso e vai ajudar a estabilizar as nossas contas futuras”, diz Li.

 

Além disso, uma produção recente do Teatro de Lavradores, The Love Story of Sam and Sally, foi muito bem recebida pelo público, particularmente pelos mais jovens. “O que podemos fazer é continuar a promover as artes locais e ganhar o apoio do público. Esta é a única forma do grupo continuar a crescer”, diz Li. “Isto é tudo em que consigo pensar agora e, se não resultar, não tenho outras ideias. Se no final o Teatro de Lavradores tiver de fechar por causa de dinheiro, e se isso deixar alguém de coração partido, já ficarei contente.”