Macau na passarela: O presente e o futuro da moda local

02 2015 | 2a edição
Texto/Chung-wah Chow, Bob Leong e Allison Chan

À medida que cada vez mais marcas de moda internacionais são lançadas em Macau, a par com o crescimento em larga escala de hotéis e casinos, os estilistas locais, discretamente, começam a surgir com a sua estética inovadora e persistência, sendo bem sucedidos na missão de sensibilizar os consumidores para a qualidade do design de moda Made in Macau.

 

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Novas possibilidades emergem do design experimental

 

No dia da entrevista, a Lines Lab, marca de moda pioneira Made in Macau, que começou por estar sediada no Albergue da Santa Casa da Misericórdia, na Calçada da Igreja de S. Lázaro, acaba de se mudar para o Centro de Design de Macau, um novo espaço instalado numa antiga fábrica têxtil, na Zona Norte.

 

Projectada em 2002 e fundada em 2006 em Macau, a Lines Lab é gerida por dois designers portugueses, Manuel Correia da Silva e Clara Brito. Nasceu como marca de uma colecção de malas de mão e hoje em dia não só é uma marca de moda como evoluiu e se tornou numa agência criativa, com cinco colaboradores a tempo inteiro, quatro funcionários em regime de part-time e quatro sócios designers. Com o objectivo de promover o design de moda de Macau e de Portugal, tanto dentro como fora do território, a Lines Lab caracteriza-se pelo seu estilo experimental avant-garde e é uma das primeiras marcas de moda em Macau a chamar a atenção da imprensa estrangeira, tendo sendo considerada um “must see” em Macau pelo The New York Times, em 2012.

 

Clara Brito recorda que, quando chegou a Macau para colaborar com Manuel Correia da Silva, a chamada indústria da moda era praticamente inexistente na região.

 

“Nas décadas de 1970 e 1980, apenas existia a indústria têxtil em Macau, focada principalmente na produção em massa sem qualquer interesse pelo design. Após o declínio da indústria têxtil, na década de 1990, deixou de existir qualquer empresa ligada à moda. Só a partir do ano 2000, com a entrada no mercado de marcas de roupa internacionais a par com o aparecimento de vários casinos, é que Macau foi salvo de um estranho fenómeno: só existiam alfaiates e nenhum designer de moda”, conta.

 

O lançamento de várias marcas de moda internacionais em Macau também originou uma peculiar reviravolta na indústria da moda. Parece passar a haver apenas duas opções: ou se opta pela Giordano ou pela Louis Vuitton, sendo ambas marcas estrangeiras de produção em massa. Nos últimos anos, apesar do propósito do Governo de Macau em apoiar a indústria da moda nos últimos anos, as políticas de apoio ainda estão numa fase inicial e vestir com elegância e sofisticação ainda não se tornou uma tendência generalizada entre os consumidores. Também não existe, por exemplo, uma imprensa de moda forte nem críticos famosos como Winifred Lai, em Hong Kong, para não falar da falta de agências de modelos.

 

“De um modo geral, a população de Macau não se interessa pelo lifestyle. Mas sendo que nos mudámos para Macau, achámos natural começar a inserir elementos criativos na cena local”, explica.

 

Clara Brito estudou design de moda em Lisboa e Milão, enquanto Manuel Correia da Silva é designer de equipamento. Vendo a moda como uma forma mais fácil de levar o design às pessoas, enfrentam o mesmo desafio que encontram os seus colegas locais: o pequeno mercado do comércio retalhista de Macau. De acordo com Clara Brito, há apenas cerca de dez estilistas em Macau e não mais do que quatro trabalham a tempo inteiro. O que demonstra que é quase impossível viver só do design de moda.

 

Tendo em vista a falta de procura no mercado local, apenas o comércio de exportação oferece espaço para os designers locais poderem sobreviver. Mas quais são os canais para o comércio de exportação?

 

Manuel Correia de Silva diz que o Governo está a organizar algumas feiras de comércio mas “a maioria dos designers deve contar apenas consigo”. “Pensamos que são os próprios designers que melhor compreendem o potencial dos seus produtos e qual o produto que melhor se adapta a um determinado mercado”, acrescenta.

 

Todos os produtos da Lines Lab são cuidadosamente seleccionados e não são fabricadas mais de 500 peças de um determinado design. São apenas para um nicho de mercado. As suas peças são também comercializadas em lojas especializadas na Ásia, como a Kapok de Hong Kong e a VVG de Taipé, que vendem principalmente marcas de design emergentes. Desde 2010 que os dois designers organizavam um evento anual de dois dias, o Macau Fashion Link, onde se reuniam designers de Macau e da região do Delta do Rio das Pérolas para comercializar obras de design de alta qualidade. Infelizmente, foi suspenso em 2014 devido a problemas de financiamento. No entanto, surgiu uma outra janela de oportunidade e os dois designers lançam uma nova iniciativa—a Munhub.

 

“Munhub deriva da palavra chinesa para ‘porta’, com o significado subjacente de que é uma plataforma de promoção da Lines Lab que abre as portas a outras marcas de design de qualidade de Macau e dos países de língua portuguesa. De início éramos apenas dois, hoje a Lines Lab é uma equipa. Sabemos o quão difícil é estabelecer uma marca, por isso criámos esta plataforma comercial, a Munhub, em união de esforços com outros designers, para promover as marcas locais na Ásia ou mesmo no mercado internacional”, observa Manuel Correia da Silva.

 

A Munhub organizou a primeira campanha de promoção na Ásia em Outubro de 2014, com a primeira paragem em Hong Kong, seguida de Tóquio. De acordo com Manuel Correia da Silva, as vendas no PMQ de Hong Kong foram bastante razoáveis, para além de ajudarem a expandir mais negócios B2B (de empresa para empresa).

 

“Esperamos que, com a abertura do Centro de Design de Macau, 2015 seja um ano de oportunidades. O Centro de Design de Macau está equipado com um café, lojas e estúdios de design, e oferece mais opções aos consumidores. Em comparação com uma loja independente, este espaço reúne as energias de diferentes designers e será um instrumento fundamental para educar os consumidores locais”, acredita Manuel Correia da Silva. “A época do ‘Fabricado em Macau’ acabou e chegou a hora de estabelecer e promover produtos concebidos ou criados em Macau. No entanto, a maioria dos designers de Macau são formados em escolas de design estrangeiras. Acreditamos firmemente que Macau deve ter a sua própria escola de design de moda de forma a promover e facilitar o desenvolvimento desta indústria.”