Mãos à obra! Podem os artistas de manga e animação de Macau ser bem-sucedidos?

08 2015 | 8a edição
Texto/Joseph Leong, Tom Lei e Agostinho Jesus Liu

Não se pode discutir animação nem manga sem mencionar o Japão, o reino do animé, cuja influência é sentida em todo o mundo. Entre as indústrias culturais e criativas, a animação também é muito lucrativa e sustentável. Por exemplo, o franchising The Pokémon Company, que existe há cerca de duas décadas, produz filmes, jogos, brinquedos e, até 2013, encaixou quatro triliões de ienes em lucros para a empresa.

 

É claro que não podemos falar de Macau da mesma forma que falamos do Japão. Não existe até hoje uma única obra famosa de animé ou de manga criada em Macau. Mas nos anos mais recentes algumas empresas de produção entraram na indústria e vários apaixonados pela manga e pelo animé começaram a produzir as suas próprias obras, e a organizar eventos relacionados com este universo. Poderá ser esta uma boa aposta para as indústrias culturais e criativas de Macau?

 

C-La em Macau: pioneiro local de banda desenhada   Impressões sobre as exposições de animação e BD em Macau e Hong Kong


Chun Man Publishing: de Macau para o mundo

 

Matthew Fong, fundador da Chun Man Publishing Co. Ltd., era apaixonado por banda desenhada já desde criança, embora não tivesse qualquer conhecimento sobre o aspecto comercial do ramo. Apenas em 2008, quando foi lançada a manga japonesa Bakuman, sobre a luta de um aspirante a artista de manga, é que entendeu os contornos da indústria. Em 2010, fundou a empresa Chun Man com o objectivo de publicar e distribuir histórias aos quadradinhos. O seu modelo de funcionamento foi buscar inspiração a Bakuman.

 

A Chun Man está sediada em Macau mas Fong admite que este é apenas o ponto de partida. Fong acredita que as indústrias criativas devem olhar para fora de Macau—para os campos de batalha de língua chinesa, como Hong Kong e o Interior da China. “O que é a criatividade? É pensar de forma inovadora e não estar condicionado ao mercado local. Apenas quando alcançarmos sucesso no estrangeiro, alguém reparará em nós aqui. Só nessa altura é que teremos verdadeiramente promovido a criatividade local”, diz.

 

E como é que se pode sair de Macau? O percurso da Chun Man foi longo e sinuoso. No início, a empresa estava mais focada em BD para crianças, e em 2010 publicou a revista infantil Panda Children Monthly que, através de assinaturas gratuitas, conseguiu chegar às escolas. Apesar de ter alcançado com sucesso o mercado infantil, tudo se passou em tempo de crise e o pai de Fong, banqueiro de profissão, teve de apoiar o filho ao longo destes tempos difíceis. A Chun Man alterou posteriormente o seu estilo e estratégia de marketing, focando-se na população jovem e investindo em Hong Kong. No ano passado, foi lançada com êxito em Hong Kong a MDecomics, que neste momento até é vendida no Interior da China.

 

Fong admite que os elementos de Macau presentes na MDecomics são escassos, porque a publicação está principalmente orientada para os mercados fora de Macau e, sobretudo, porque “Macau” não é um competitivo. “Mesmo os locais que são património da humanidade, como as Ruínas de São Paulo, não são muito conhecidos no estrangeiro. Macau não devia bloquear o caminho às industrias criativas. Desde que a marca consiga chegar a outro lugar, e que seja uma empresa de Macau, então será o suficiente para que se torne numa marca de Macau”, diz Fong.

 

A MDecomics teve uma boa recepção em Hong Kong e Macau, e os jovens artistas de manga dessas cidades também estão orgulhosos de figurar na revista. “Graças à Bakuman, o nosso modelo não pretende criar artistas de Macau, mas dar-lhes uma plataforma onde possam apresentar os seus trabalhos sem que para isso tenham de ser contratados. Um regime de colaboração significa que podemos manter a nossa qualidade elevada, enquanto damos aos artistas a liberdade de trabalhar para quem querem sem estarem dependentes de nós”, acrescenta Fong. A Chun Man também ajuda artistas que colaboram com a revista a publicar banda desenhada a nível individual.

 

Depois do mercado de Hong Kong e do Interior da China, a Chun Man também está interessada em entrar um dia no mercado japonês. Recentemente, foi um dos candidatos seleccionados pelo Fundo das Indústrias Culturais para receber um empréstimo sem juros de cinco milhões de patacas, que tem como objectivo apoiar a entrada no mercado japonês. Fong conhece as dificuldades e sabe que, para ter alguma hipótese, terá de representar os melhores artistas de manga de Macau. A Chun Man planeia, além disso, trazer para Macau artistas japoneses menos conhecidos de banda desenhada, e fornecer-lhes uma plataforma para se desenvolverem. “Trabalhos de qualidade média no Japão são considerados em Macau obras de grande qualidade”, nota. “Na fase actual, já encontrámos parceiros no Japão com quem podemos trabalhar e, no final do ano, vamos operar oficialmente como uma plataforma online. Os nossos parceiros japoneses vão encontrar talentos locais e a Chun Man será a responsável pela publicação e importação desses trabalhos, tornando-se na ponte que liga o mundo da banda desenhada do Japão e de Macau”, conclui Fong.