San Lee: Ênfase no apoio do Governo e na educação do consumidor

02 2015 | 2a edição
Texto/Chung-wah Chow, Bob Leong e Allison Chan

Macau na passarela: O presente e o futuro da moda local   Robert Lai: Regresso a Macau para criar uma marca própria

 

Em comparação com os designers Manuel Correia da Silva, Clara Brito e Robert Lai, que construíram o seu negócio a partir do nada, o estilista emergente San Lee foi bafejado pela sorte, pertencendo ao primeiro grupo de designers elegíveis para o Programa de Subsídios à Criação de Amostras de Design de Moda, lançado pelo Instituto Cultural em 2013.

 

San Lee começou a trabalhar a tempo inteiro como designer de interiores em 2009 e criou, nos tempos livres, uma marca de moda com vários amigos, a ZICS. De início, o crescimento era limitado, produzindo e vendendo pequenas quantidades em alguns pontos de venda sob consignação. Nos últimos dois anos, a ZICS ficou mais conhecida devido à participação em desfiles de moda, mas o problema dos custos de produção mantém-se para os jovens estilistas.

 

San Lee é um dos oito estilistas subsidiados pelo Programa de Subsídios à Criação de Amostras de Design de Moda e todos os 15 trabalhos por ele apresentados foram avaliados e aprovados, e puderam habilitar-se a um subsídio máximo de 150 mil patacas, incluindo os custos de criação e produção das amostras, materiais, publicidade e inscrição para participação em exposições. Isto obrigou-o a pensar seriamente no futuro rumo e posicionamento da sua marca. “O programa de subsídios faz-me compreender que, por muito bom que seja um produto, se não existirem estratégias de marketing adequadas acaba por se perder na multidão. A esse respeito, realmente não tenho muitas ideias do que fazer. Apesar de ter recebido subsídios para a criação e produção de amostras dos meus trabalhos, e de ter participado em vários desfiles de moda, ainda não consegui parcerias de negócios. Na verdade, ainda tenho muito que aprender.”

 

Por enquanto, a ZICS ainda não abriu uma loja física e trabalha em regime de consignação, fabricando peças em pequenas quantidades, normalmente não mais de uma dúzia por artigo. Os preços de venda a retalho variam entre 500 e 1000 patacas, e algumas mercadorias custam cerca de duas mil patacas, o que, para os consumidores de Macau, é bastante elevado. O estilista admite que o custo é alto porque a produção é limitada e não há margem para a redução dos preços, mas espera poder entrar no mercado de Hong Kong ou em mercados estrangeiros, no futuro, para diversificar e aumentar a sua clientela.

 

Ainda que San Lee tenha uma produção pequena, é realmente difícil encontrar compradores locais. Porquê? Isto é especialmente intrigante, já que nos dias de hoje, com cada vez mais grandes convenções, exposições e outras actividades de entretenimento a serem organizadas em Macau, a procura por roupa de design deveria aumentar.

 

Lee faz notar que é preciso tempo para educar o gosto dos consumidores de moda em Macau. “Escusado será dizer que a população local aprecia o nosso design, ainda que não tenha a noção exacta sobre como se vestir para determinada ocasião. Num banquete encontram-se pessoas com jeans e t-shirt, e uma camisa sem mangas pode ser considerada elegante tendo desaparecido completamente o conceito de ‘vestido de cocktail’. Uma vez saí à rua com um fato preto e uma camisa preta de chiffon plissado, desenhada por mim, e percebi que chamava bastante a atenção dos transeuntes. Encolhi os ombros e pensei que aquilo era como estar num desfile de moda.”

 

Muitos não sabem que designers de moda como San Lee trabalham arduamente para melhorarem o modo como as pessoas de Macau apreciam o lifestyle e os conceitos estéticos. Ainda que subsidiado pelo Governo, San Lee deixa claro que não tem planos, de momento, para trabalhar como estilista a tempo inteiro. Na sua opinião, o design de interiores e o design de moda podem inspirar-se um ao outro. “Vou criar uma loja online para reduzir o custo de comercialização e ir ao encontro do futuro modelo de consumo. A ZICS continuará a adoptar o modelo B2C (de empresa para cliente). Afinal, o B2B (de empresa para empresa) envolve questões como o volume de produção e a logística, e é também necessário rever os preços. Nós ainda não crescemos o suficiente para poder beneficiar com isso.