Revitalizar a Arte Dramática Local: A Associação Teatral Hiu Kok

04 2016 | 14a edição
Texto/Yuki Ieong

“A Associação Teatral Hiu Kok tem por missão promover trabalho de qualidade e união no panorama local, e defender o desenvolvimento das artes dramáticas”, afirma Lawrence Lei, director artístico honorário permanente da Associação Teatral Hiu Kok. “O trabalho de qualidade é a nossa prioridade, e ao mesmo tempo empenhamo-nos para unir os esforços, mesmo que sem financiamento, e para promover as actividades teatrais em Macau.”


Na década de 1970, havia muito poucos grupos de teatro activos em Macau, o que fazia com que as peças se limitassem ao teatro feito nas escolas. Em 1975, Lawrence Lei e Yu Meng Sang puseram de pé o Teatro Hiu Kok, para tentar aumentar a sensibilização para as artes dramáticas. Nas últimas duas décadas, a associação Hiu Kok tornou-se uma tour-de-force influente na defesa de dramaturgia original e de espectáculos teatrais ao vivo, proporcionando mais oportunidades de representação e de construção de imagem aos actores.


“Naquela altura, muitas pessoas só viam teatro em palcos improvisados e, durante as actuações, era muito comum as pessoas entrarem e saírem dos locais. Todavia, nós queremos promover o teatro como espaço respeitável, onde a audiência assiste à peça com poucas distracções.


Na década de 1980, a Hiu Kok reunia uma equipa de 80 membros e dedicava-se a promover peças teatrais, peças na rádio e a publicar revistas sobre artes performativas. Com o desenvolvimento gradual do grupo de teatro, as produções da Hiu Kok eram representadas localmente e no estrangeiro, e os intercâmbios internacionais e digressões ajudaram a conferir maior importância à cena teatral de Macau. A partir de 1986, os espectáculos da Hiu Kok fizeram itinerância para Hong Kong, e desde então ganharam muitos prémios.


Com novos grupos de teatro e actores emergentes na cena artística de Macau, a Hiu Kok tomou a dianteira na disponibilização de recursos para apoiar os grupos de teatro locais, assegurando espaços vagos em antigos edifícios industriais para esses grupos ensaiarem e actuarem. No fundo, a Hiu Kok está a criar as primeiras salas de teatro comunitárias de Macau. “Antes da transferência de soberania, Macau nem sequer tinha um centro cultural próprio e, como tal, as actuações limitavam-se ao Fórum de Macau e ao Cinema Alegria. Mas, como o cinema funciona durante o dia, era preciso esperar pelo serão para montar devidamente o cenário. Isto implicava a montagem do palco e dos equipamentos do dia para a noite.” Lei sublinhou que, hoje, a Hiu Kok tem um papel mais activo no apoio a novos encenadores e na expansão do mercado dos espectáculos teatrais, ajudando a melhorar e revitalizar a cena artística local.


No que diz respeito à cena teatral local, uma produção teatral típica no Centro Cultural de Macau teria três exibições, e raramente excederia quatro espectáculos. Desde 2013, a Hiu Kok tem conduzido o projecto-piloto Long Run Theatre para aumentar as oportunidades de exibição. “Actualmente, o público de teatro é substancialmente composto por profissionais do ramo, e há muito poucos não-profissionais interessados em assistir às peças. Como tal, temos de fazer mais para alargar o público em Macau.” Lei salienta que, dado o investimento considerável que cada produção teatral requer, um período de exibição mais longo seria benéfico, não só para os actores como para dar maior visibilidade ao espectáculo em si, trazendo mais audiência. O projecto Long Run está concebido para responder a esta necessidade.


Até agora, a Hiu Kok lançou com sucesso cinco produções. Este ano, apresentará mais duas. O director-executivo da Associação, Andy Lou, admitiu que esta é uma decisão arriscada. Mas confia que, se o projecto Long Run Theatre descolar, isso trará mais oportunidades para os profissionais do teatro a longo prazo. “Daquilo que observamos, tendo por base uma audiência de 150 pessoas para uma pequena produção teatral e supondo que os bilhetes são vendidos a 200 patacas cada, dez exibições no Long Run Theatre já nos permitiriam atingir um ponto de equilíbrio. No entanto, é sempre um desafio atrair o público, bem como cobrar um preço mais elevado pelos bilhetes.” No futuro, há planos para a Hiu Kok colaborar com outros grupos de regiões vizinhas e levar o projecto Long Run Theatre até Hong Kong e ao interior da China. Lou considerou que o Long Run Theatre é uma aposta estratégica para medir o mercado e o potencial dos actores. Perspectivando o futuro, será feito mais trabalho para promover actores de grande qualidade, de modo a aumentar a credibilidade das performances.


A Hiu Kok também é reconhecida no mercado local pelas suas iniciativas arrojadas. Por exemplo, o seu núcleo central de actores é relativamente novo na cena artística. Lou disse que a Hiu Kok investiu muitos recursos na formação dos seus actores, dramaturgos, encenadores e equipas de produção, de modo a aumentar as oportunidades para os elementos jovens. Ao mesmo tempo, a companhia gosta de manter os talentos. “Quem é profissional do teatro depende muito de oportunidades de actuação para construir a sua carreira. Nos últimos dois anos, aumentámos o período de exibição das nossas peças, para que novos talentos possam mostrar o seu trabalho. Enquanto o governo nos proporcionar recursos, o grupo de teatro tem como missão proporcionar oportunidades de exibição.” Lou disse ainda que o espectáculo City of Fame, que teve críticas positivas, contou com uma equipa de produção relativamente jovem, enquanto o palco era ocupado por actores veteranos. Apesar de não ser fácil juntar novos talentos e actores com currículo, ele acredita que é uma forma muito mais sustentável de promover o teatro. Lou espera que o governo faça mais para fomentar a formação e o reconhecimento dos profissionais do teatro.


Quando questionado sobre se o governo tem feito o suficiente para apoiar os grupos locais, Lou afirmou que o facto de o governo permitir o uso de locais como o Edifício do Antigo Tribunal tem ajudado muito. “O Edifício do Antigo Tribunal é acessível e atrai turistas e habitantes locais para os espectáculos. Tendo por base o nosso próprio levantamento, um espectáculo ali encenado pode envolver 18% a 20% de público novo, comparado com os 15% verificados em espectáculos noutros lugares. Isto mostra que o local tem potencial para atrair novas audiências ao teatro.”


Com quatro décadas de experiência à frente da Hiu Kok, Lei está confiante no desenvolvimento das artes dramáticas locais. Para promover a indústria, é fundamental ter qualidade nos textos, nas representações e na produção. “Temos um conjunto de profissionais locais a tempo inteiro. O nosso objectivo é proporcionar-lhes um ambiente positivo e fomentador do seu crescimento, para que eles não dependam apenas do financiamento governamental e possam cultivar uma plataforma mais auto-sustentável para si mesmos.”