Erik Kuong

Organizador independente de exposições e produtor na área da promoção de arte e da criação artística além-fronteiras. Trabalhou desde 1998 na promoção de arte em organizações governamentais de Macau, esteve envolvido no planeamento de programas tais como espectáculos em festivais de artes performativas, festivais de cinema e outros festivais. Como produtor independente, tem organizado desde 2009 vários intercâmbios de eventos de arte entre diferentes países.

A arte precisa de tempo para amadurecer

11a edição | 11 2015

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Espectáculo Picnic in the Cemetery em Tainan


A maior parte dos grupos artísticos de Macau programa os seus projectos anuais de acordo com os seus planos para esse ano ou propostas individuais. Geralmente, novas produções podem trazer mais patrocinadores, e porque a maior parte dos grupos são amadores, o tempo para as pessoas envolvidas na produção é mais curto. Quando existe a oportunidade de criar um espectáculo, as pessoas querem experimentar coisas novas.


As companhias de Hong Kong e Macau apresentam anualmente várias peças. As peças com maior número de espectáculos ou aquelas que podem ser repostas várias vezes vão geralmente ao encontro do gosto do público. Em Macau, são poucas as produções que sobem ao palco várias vezes. Comecei a trabalhar como produtor independente em 2009, e sempre quis apresentar uma peça que pudesse ser continuamente reposta. Mas não há condições em Macau para que isso aconteça e, por isso, o único caminho passa por procurar o público adequado lá fora, em vez de agradar o existente. Para mim, a grande mudança deu-se com o facto de eu já não fazer produção para determinados espectáculos agendados. Existem muito poucos teatros em Macau, o que faz com que só possamos conceptualizar uma peça depois de encontrar uma sala de espectáculos. Mas penso que os resultados são mais importantes. Por isso, nos últimos anos, tenho-me focado mais na discussão com os artistas sobre a orientação das produções, e não em produzir apenas por produzir. Nos últimos seis anos fiz apenas quatro peças: Playing Landscape, DewDrop in the City, Travelling Hometown e Picnic in the Cemetery. Precisei de dois anos para desenvolver e produzir cada uma delas.


 As quatro peças eram todas produções de pequena ou média escala e tinham entre dois a quatro actores. Os cenários e adereços eram desenhados de forma a adequarem-se à “capacidade de digressão”, para que não tivéssemos de gastar em adereços e produções de grande escala. O objectivo é controlar os custos e concentrar os recursos no pessoal, permitindo às pessoas envolvidas na criação e produção a participação no projecto a tempo inteiro durante um determinado período. Paralelamente, é dado tempo suficiente de criação aos autores para que estes trabalhem de forma mais livre.


 O próximo passo é melhorar a técnica dos participantes em todos os cargos através de actuações repetidas. Deste modo, para mim, não existe “reposição” ou a chamada peça de “longa duração”. Existem apenas os conceitos de “ante-estreia” e “estreia”. Desde que a peça tenha sucesso, teremos assistência em qualquer lado. Noventa por cento das nossas peças foram apresentadas no estrangeiro desde 2009, e Playing Landscape, DewDrop in the City e Picnic in the Cemetery subiram ao palco mais de 50 vezes cada.


Participámos no ano passado no Festival Fringe de Edimburgo com Playing Landscape, Picnic in the Cemetery e Puzzle the Puzzle, que alcançaram várias avaliações de cinco estrelas. Picnic in the Cemetery foi considerado um espectáculo obrigatório pelo British Theatre Guidebook, e a peça Playing Landscape até foi nomeada para os Prémios de Arte da Ásia. Para nós, foi um grande estímulo e veio provar que as peças de teatro de Macau já não são amadoras.


Recentemente, Picnic in a Cemetery esteve em cena pela 52.ª vez no Porto. Os músicos Njo Kong-kie e Hong Iat-U tocaram em todos os 52 espectáculos. Njo é um jovem músico local, e ter a possibilidade de actuar 52 vezes no espaço de dois anos e meio na mesma peça é uma oportunidade de formação extremamente rara. A sua maturidade reflectiu-se nas actuações que fez este ano. Além da técnica, o mais importante é o desenvolvimento do carácter da sua actuação.


O maior problema que Macau está a enfrentar é o excesso de produções. Condicionadas pela disposição dos patrocinadores, as companhias estão constantemente a fazer novas peças, apresentando-as uma ou duas vezes, e não sobrando tempo para o crescimento das obras e dos autores. Se queremos que a indústria cultural se desenvolva, é necessário dar tempo para que as peças e os autores melhorem os seus produtos. Os criadores também devem reconsiderar o objectivo da criação e a forma como esta é conduzida, reduzir a quantidade de produções e elevar a sua qualidade, ficando com mais tempo para aperfeiçoarem uma peça.