Bitetone: a aproveitar o poder da música indie

07 2015 | 7a edição
Texto/Flora Shaw

A Bitetone é uma revista online de música de Hong Kong. Além disso, agencia grupos de música indie e organiza espectáculos de música ao vivo. Criou também a consultora de música Cuetone. Convidámos Rachel Mok, editora-chefe da Bitetone e gestora de projecto da Cuetone, para explicar como é que a empresa transformou um simples website num dinamizador da cena musical indie de Hong Kong.


M: Rachel Mok, editora-chefe da Bitetone e gestora de projecto da Cuetone


S: Flora Shaw, editora executiva da


S: Como surgiu a Bitetone?


M: Na realidade, a Bitetone foi criada em 2010 em São Francisco. A revista promovia a música indie de Hong Kong nos Estados Unidos. Mais tarde, o fundador Edwin Lo veio para Hong Kong e estabeleceu aqui a revista. Juntei-me à empresa em 2011. Inicialmente, recrutámos alguns estudantes voluntários, que se interessavam por música na internet, para nos ajudar a criar o website.


S: Portanto, no início era apenas um passatempo?


M: Sim, tive apenas o impulso de fazê-lo. Depois apercebi-me que a paixão dificilmente sustenta um negócio e comecei a pensar em alternativas. Desde o início estabelecemos relações com muitas pessoas da indústria da música. Algumas empresas também vieram ter connosco para nos pedir que organizássemos actividades e, passo a passo, fomos criando o nosso negócio no sector musical. Em 2013 abrimos finalmente um escritório efectivo. A Bitetone já não era apenas virtual.


S: Além da publicação da vossa revista online, também são agentes de grupos de música indie?


M: Sim, agenciámos um grupo chamado Chock Ma. No ano passado, a banda lançou o álbum Dharma Bums. Nós criámos a temática, o design e a estratégia de marketing, e também ajudámos a organizar espectáculos para o grupo.


S: Existe alguma diferença na forma como olhavam para a música enquanto revista e depois enquanto agentes?


M: Sim. Inicialmente relacionávamo-nos com a música da perspectiva de um fã ou de um leitor, mas depois de nos tornarmos agentes começámos a pensar noutros aspectos. Cada músico tem a sua própria postura e, portanto, o trabalho do agente passa por pensar numa estratégia para promover a música sem chocar com a persistência do artista. Foi um desafio.


S: Então e o que fizeram?


M: A música do Chock Ma era muito pesada, mas incorporava também elementos de música chinesa e de jazz, o que fazia com que fosse igualmente elegante. As músicas abordavam sobretudo questões relacionadas com a vida, a morte ou o ambiente. Então, estabelecemos uma colaboração com a Quinta Comunitária de Mapopo (Mapopo Community Farm) e delineámos um plano em que oferecíamos sementes a quem comprasse um CD. Temos de pensar, quantas pessoas é que já plantaram alguma coisa e experimentam verdadeiramente as maravilhas da natureza? Também organizámos um concerto ao ar livre na Mapopo. A iniciativa foi muito bem recebida e nós ficámos muito orgulhosos.


S: Portanto, acumularam muita experiência com a organização de eventos de música ao vivo?


M: Sim, e em 2013 estabelecemos a Cuetone. Se a Bitetone é uma plataforma onde os apaixonados da música indie podem reunir-se, a Cuetone tem sobretudo a missão de difundir a música indie no mercado de massas. Aqui, o elemento comercial é bastante importante. Neste momento, a Cuetone faz essencialmente trabalho de consultoria e ajuda os grupos de música na promoção digital.


S: Hong Kong tem uma orientação muito comercial. Existem efectivamente clientes interessados em artistas independentes e menos conhecidos?

 

M: Sim. O registo musical dominante em Hong Kong é muito aborrecido e as pessoas estão à procura de coisas novas. No Outono passado, ajudámos um promotor imobiliário na organização de concertos durante o almoço ao longo de oito semanas. O local do evento era um jardim comunitário situado entre alguns edifícios de escritórios. Escolhemos o tema “viajar” porque os funcionários de escritório adoram viajar, mas têm de trabalhar. A ideia era que estes pudessem ter uma escapadela durante a hora de almoço. Convidámos vários artistas, que tocavam música latina, mediterrânica, da Europa de Leste ou jazz cigano. Muitas pessoas disseram que esta foi a primeira vez que ouviram estes géneros musicais. A recepção foi muito positiva e, por isso, este ano vamos repetir.


S: Como é que se pode fazer com que a música indie de Hong Kong seja mais conhecida?


M: Por exemplo, no ano passado durante um jantar falou-se sobre um amigo estrangeiro que estava de visita a Hong Kong. Essa pessoa tinha perguntado por que razão parecia que Hong Kong não tinha boa música. A verdade é que há muito boa música aqui. Então, tivemos a ideia de lançar um álbum que pudesse servir como souvenir de Hong Kong. E o álbum não tinha apenas boa música, mas o trabalho artístico do produto também era impressionante—inspirado no dim sum, era algo que iria atrair os turistas. Foi assim que nasceu o Giligulu vol 1: Dim Sum. Trata-se de um álbum de música indie de Hong Kong que vem acompanhado de um lindíssimo livro de receitas de dim sum. O embrulho também era mesmo interessante. Muitas pessoas compraram-no como lembrança. E, mais importante, não pusemos à venda apenas em lojas tradicionais de música, mas também em butiques modernas e alternativas, de forma a atrair pessoas que nunca tivessem tido contacto com a música indie de Hong Kong. Tal como prevíamos, foi um sucesso.


S: Como olha para o futuro da música indie de Hong Kong?


M: Penso que vai ser cada vez melhor. Na realidade, os artistas indie já não dependem das estações de televisão e de rádio para se promoverem. Por exemplo, alguns artistas mainstream, como Ivana Wong e Khalil Fong, colaboraram com bandas indie. Além disso, também o público de hoje quer ouvir outra música para além do registo dominante. A música indie já é uma moda.