O novo rosto da moda: Chantelle Cheang fala sobre o design local

06 2015 | 6a edição
Texto/Wong Io Man

A designer de vestidos de noite e de casamento Chantelle Cheang tem apenas 27 anos mas já criou a sua própria marca, Chantelle.C. Os seus trabalhos já fizeram furor no mundo da moda. Cheang beneficiou em 2013 do “Programa de Subsídios à Criação de Amostras de Design”. Falámos com a estilista sobre o estado da indústria de moda em Macau.


C: Chantelle Cheang, designer de moda

S: Flora Shaw, editora executiva da C²


S: Entre os diferentes tipos de design de moda, por que escolheu os vestidos de noite e de casamento?


C: Já em pequena gostava de desenhar, e gostava muito de desenhar vestidos de noiva.


S: Como entrou no mundo do cinema, publicidade e design gráfico?


C: Estava a tirar o curso de design de figurinos na Universidade Aberta de Hong Kong. Comecei a sentir que o guarda-roupa e a imagem estavam intimamente relacionados e, por isso, também decidi estudar efeitos especiais de maquilhagem, que são específicos para diferentes papéis. Nessa altura, também estava a trabalhar num casino em Macau e era responsável pela maquilhagem das produções de vídeo. Entretanto conheci um produtor de Hong Kong e, mais tarde, empresas de publicidade de Hong Kong começaram a contactar-me.


S: O cinema e a publicidade precisam sempre de roupas e adereços estranhos. Tem alguma história divertida que possa partilhar connosco?


C: Trabalhei recentemente com a equipa de guarda-roupa do filme de Hollywood Mestres da Ilusão 2. A certa altura o realizador queria combinar uma cabaia verde com um par de sapatos verdes de dança. No espaço de duas horas tivemos de fazer um par de sapatilhas de ballet verdes. Foi um desafio e também uma experiência engraçada.


S: Na sua opinião, qual é a diferença entre trabalhar com equipas de Macau e Hong Kong e de Hollywood?


C: A maior diferença é que eles dividem muito bem o trabalho. Em Hong Kong e Macau, as equipas costumam ter apenas um director de guarda-roupa, um assistente, um gestor de guarda-roupa. Todos são responsáveis pelo guarda-roupa do filme. Com as equipas de Hollywood, só a sub-equipa de Hong Kong tem oito pessoas responsáveis.


S: Como sente que as pessoas olham para a moda em Macau?


C: É difícil para as pessoas em Macau aceitarem coisas novas. Geralmente seguem apenas as tendências de Hong Kong. Poucos aparecem com as suas próprias tendências.


S: Encontra dificuldades como designer de moda em Macau?


C: No passado, as pessoas olhavam de lado para os designers de Macau, a quem pagavam menos do que aos designers de outros lugares. Trabalhei muito para provar o meu valor. Não queria que as pessoas de Macau sequer olhassem de lado para as pessoas de Macau. A situação melhorou há um ou dois anos e agora o governo está a apoiar a indústria.


S: Pode falar sobre algumas das suas experiências de trabalho mais recentes?


C: No ano passado participei num programa de subsídio de 150 mil patacas. Juntei algum do meu dinheiro e comecei a desenhar roupa para casamentos. Depois de ter participado num desfile de moda, as vendas foram muito boas. Algumas celebridades queriam que eu desenhasse algumas das suas roupas. Ajustei alguns modelos mais jovens para que se adaptassem melhor à sua idade.


S: Quem são os seus principais clientes?


C: Para os vestidos de casamento, é óbvio que são sobretudo mulheres que se vão casar. Sei que este é um mercado pequeno e por isso também faço vestidos de noite. Mas não existem muitas oportunidades em Macau para as pessoas se vestirem formalmente e por isso faço roupas semi-formais, como vestidos para cocktails, que são mais facilmente aceites pelos locais. Na realidade, nos últimos anos muitas grandes empresas organizaram festas e banquetes em Macau. À medida que as pessoas prestarem mais atenção à roupa, também vão presta mais atenção à moda local.


S: Quais são as características da moda em Macau?


C: Diferentes designers têm diferentes características. Tenho amigos que desenham roupa informal para homem, outros focam-se na roupa informal feminina. Eu tenho uma maior tendência para desenhar peças mais formais de estilo europeu. Apesar de não haver muitos designers em Macau, os estilos são muito variados.


S: Como vê o futuro da indústria da moda em Macau?


C: Penso que vai melhorar. O governo está a apoiar indústrias criativas tais como a música, teatro, cinema e moda. Se nos apoiarmos uns aos outros, podemos começar a formar uma cadeia de produção para esta indústria. Tanto os filmes, como os cantores e o teatro precisam de um guarda-roupa e, por isso, a procura de designers em Macau só poderá crescer.