Para a maioria das pessoas, a Bienal de Veneza, em Itália, é um impressionante evento de arte organizado de dois em dois anos, mas para a pequena cidade de Veneza e expositores de todo o mundo, a ocasião traz infinitas e lucrativas oportunidades de negócio.
Actualmente na sua 56.ª edição, a Bienal de Veneza é uma das exposições de arte mais importantes há mais de um século, com uma duração que pode chegar aos seis meses. O evento foi inicialmente concebido como uma festividade real para celebrar as bodas de prata do rei Humberto I e da rainha Margarida de Sabóia. Além disso, à medida que se desenvolvia uma rivalidade entre as nações europeias, que pretendiam demonstrar a sua força como resultado de um nacionalismo fervoroso no século XIX, o presidente da câmara de Veneza decidiu montar uma bienal de arte com o apoio do governo italiano, de forma a atrair turistas e impulsionar a economia. A primeira exposição provou ser um enorme sucesso. Hoje, a bienal desenvolveu um modelo de negócio muito profissional, que já não conta com a ajuda do governo para a sua organização. Em vez disso, a responsabilidade foi transferida para uma empresa de consultoria de eventos, em outsourcing.
Agnes Lam, membro do Conselho para as Indústrias Culturais, esteve em Maio na bienal de Veneza. “O curador assume o papel mais importante na bienal. Ele não tem de ter apenas um profundo conhecimento sobre arte, mas também uma vasta rede de contactos de artistas de topo de todo o mundo, para que possa solicitar a sua participação e assegurar a qualidade da exposição. Um curador também tem de exercitar uma visão de futuro, que defina a direcção das próximas exposições. Por isso, a chave para o sucesso de uma exposição é determinada pelas empresas de consultoria de eventos e pelos curadores que são bons no seu trabalho. Além disso, a bienal assegurou desde logo uma boa reputação através da sua longa e rica história e, todos os anos, artistas consagrados e emergentes de todo o mundo participam na exposição, movidos por um sentimento de orgulho”, comenta.
Embora a bienal não seja um leilão de arte nem uma feira comercial, Lam assinala que, com base nos expositores e visitantes, o evento gera o elevadíssimo valor de dois mil milhões de euros em receitas. “Isso inclui o arrendamento do local para os pavilhões nacionais e os eventos paralelos (contratados por organizações individuais). No que diz respeito aos expositores, o pagamento de cerca de um milhão de euros de renda mensal para adquirir visibilidade num evento internacional é um investimento que vale a pena fazer. Ainda por cima, os criativos e empresários—e não apenas os artistas—podem aproveitar a ocasião para procurar indivíduos talentosos para colaborações e intercâmbios, o que vai acabar por ter um impacto positivo na promoção da indústria cultural como um todo.”
Além de gerar lucro, a exposição também beneficia as infra-estruturas de apoio, como o transporte, logística, serviços ao cliente, comidas e bebidas, hotelaria e outras indústrias relacionadas. E, mais importante, muitas atracções locais e espaços arquitectónicos de relevância histórica estão ligados à exposição e, por isso, os visitantes podem ver os trabalhos artísticos enquanto adquirem um entendimento profundo sobre a história e cultura locais.
Agnes Lam acredita que Macau pode aprender com a Bienal de Veneza de várias formas. “Existem muitas semelhanças entre Macau e Veneza. São ambas cidades antigas de dimensão pequena e grande importância histórica, com o estatuto de património mundial da UNESCO e com infra-estruturas bem desenvolvidas, como os serviços de lazer, entretenimento e hotelaria. Macau possui as qualidades inatas para se tornar na Veneza do Oriente, mas a questão principal que deve ser observada é a melhoria do ‘software’, tal como saber fazer a curadoria de uma exposição, reunir artistas internacionais consagrados, passar a palavra e ajudar ao reconhecimento desta marca. O que pode ser feito não só para transformar Macau numa cidade que é famosa por ter o casino Venetian, mas também pelo seu rico legado artístico e cultural, como é o caso de Veneza—esta é a direcção em que devemos concentrar todos os nossos esforços.”