Lio Chi Heng

Lio é escritora e a adaptação ao cinema do seu romance Diago esteve em competição na Selecção Oficial do Festival Internacional de Cinema Karlovy Vary em 2010.

Dêem oportunidade ao cinema de Macau para crescer

10a edição | 10 2015

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Imagem do filme Macau Stories 3  Foto cedida por Chao Koi Wang


Nos três artigos que escrevi anteriormente sobre “O cinema e o desenvolvimento das indústrias culturais e criativas em Macau”, debrucei-me sobre o panorama do cinema em Macau, sem fazer uma verdadeira ligação à “cultura e criatividade”. Na realidade, não é apenas o cinema que tem um difícil e longo caminho pela frente, mas as indústrias culturais e criativas em Macau.


Em geral, falta-nos “uniformizar” uma cadeia industrial: se não conseguirmos seguir de forma sólida o caminho da “criatividade cultural –> produtos culturais –> marketing”, não existirá as indústrias culturais e criativas genuínas.


Tomemos como exemplo a criação de cinema e de produções para televisão. Para tal são necessários argumentistas, realizadores, actores, pós-produção, marketing, vendas e distribuição, cinemas para as exibições, emissoras, etc., que envolvem múltiplas indústrias, empresas e sectores relacionados. Temos histórias maravilhosas, algumas das quais foram filmadas, mas valorizar estes produtos culturais, ou seja, colocar estes filmes no mercado, não é uma tarefa fácil. Em primeiro lugar, em Macau não existem distribuidores nem uma rede de cinemas; em segundo lugar, o interesse dos distribuidores e das redes de cinema nos filmes de Macau vai depender da sua qualidade. Temos filmes locais muito apreciados pelo público e que já foram exibidos mais de 20 vezes. Mas não podemos dizer que foram testados pelo mercado comercial se não tiverem entrado nos mercados de Hong Kong, Taiwan e do interior da China.


Desde o início, tenho-me recusado a debater o cinema em Macau no contexto das indústrias culturais e criativas, porque fazê-lo será o mesmo que destruir flores ao desabrochar. Por que razão digo isto?


Existem dois termos na frase “indústrias culturais e criativas”: “culturais e criativas” e “indústrias”. Macau só deu o pontapé de saída há uns anos, mas a sensação é que as empresas relacionadas passaram de “culturais e criativas” para o extremo oposto, concentrando-se apenas na sua industrialização. É completamente legítimo que o Governo promova as indústrias culturais e criativas e é realista que espere resultados, mas falta-lhe um espírito pragmático: temos muitas “deficiências congénitas”, não temos talentos em número suficiente, não temos uma cadeia industrial, nem um mercado – isto não deve ser negligenciado. Não existe um lugar no mundo que não tenha investido pelo menos 10 a 20 anos e uma quantia tremenda nas indústrias culturais e criativas. A tarefa deste fundo específico atribuído pelo Governo deve ser gerar recursos suficientes e criar as políticas necessárias e a garantia de capital para o desenvolvimento das indústrias culturais e criativas. Ao mesmo tempo, não pode desistir dos sonhadores e dos empreendedores. Sem uma cadeia industrial, a industrialização será em vão.


Os jovens que têm uma ambição cultural e criativa são todos sonhadores. Alguns deles vão realizar os seus sonhos, mas outros não. Serão os “sonhos” o mesmo que “fantasias”? Se sim, receio que o “sonho chinês” e o “sonho de Macau” sejam grandes fantasias!


Por que razão o Governo propôs o desenvolvimento das indústrias culturais e criativas? Porque quer promover a diversificação social e económica, redireccionar a economia, que depende apenas da indústria do jogo, e construir outro caminho para os mais jovens. Aqueles que estão interessados em juntar-se às indústrias não têm mais nada além de criatividade e de um sonho. Não têm famílias ricas que possam apoiar com dinheiro. Precisam de mais oportunidades para crescer e estão sujeitos a tropeçar pelo caminho. Precisamos pelo menos de lhes dar oportunidades durante um determinado período de tempo, no qual faremos o nosso melhor para facultar ajuda e financiamento. Na realidade, algumas pessoas criaram empresas ligadas às áreas culturais e criativas, que podem vir a ser os ovos de ouro ainda por chocar. Mas estas pessoas estão a ser ridicularizadas. No entanto, alguns homens de negócios que fazem fortunas com o seu espírito empresarial poderão tornar-se pioneiros na promoção das indústrias culturais e criativas logo que “vistam a capa cultural”.


Se o Governo está tão orientado para a produção de resultados e acredita que apenas os empresários podem chocar ovos de ouro, então deveria estabelecer o “Fundo Empresarial de Macau” para promover o desenvolvimento de todas as empresas, em vez de um fundo específico direccionado para as indústrias culturais e criativas.


Afinal de contas, o cinema de Macau precisa de amadurecer neste caminho para preservar uma beleza eterna.


Por isso, por favor, dêem tempo e espaço ao cinema de Macau para crescer.


(O cinema e o desenvolvimento das indústrias culturais e criativas em Macau – série 4)