Bob Lei, de Design Todot: Acompanhar o Progresso ou Ficar para Trás

04 2017 | 20a edição
Texto/Lai Chou In

Escola Secundária Millennium: Educação para lá da Sala de Aula   Instituto Politécnico de Macau: Ligando a Comunidade e Mostrando a Beleza do Território


Em Macau, quantos estudantes universitários com diplomas de design ou de arte seguiram um percurso profissional em áreas afins após a conclusão do curso? Bastantes. Mas quantos mudaram para indústrias em áreas distintas? Outros tantos.

 

Bob Lei Hou Keong, director da Todot Planeamento e Design Companhia Lda. é um exemplo do primeiro caso. Licenciado em Design pelo Instituto Politécnico de Macau em 2009, Bob tinha trabalhado para empresas de design em Hangzhou e Shenzhen, de modo a ganhar experiência relevante. Mais tarde, voltou para Macau, tendo erguido de Design Todot com os seus sócios em 2013.

 

“Quando voltei para Macau, lamentei saber que muitos dos meus amigos na indústria do design tinham mudado para outras áreas”, conta. Embora não seja difícil os alunos de design conseguirem emprego após o curso, Lei assinala que o salário dos designers não é elevado e que estes fazem frequentemente horas extras, o que leva à fadiga mental. Mas, então, porque continua ele envolvido na indústria do design? Porque, apesar da sensação de amargura, mantém o entusiasmo pelas criações.

 

“Trabalhei no Interior da China por quatro anos após o curso. Se mudar de área, parece que estive a desperdiçar o meu tempo. Por isso não desisti e continuo”, explica calmamente.

 

Actualmente, além de fornecer serviços de design gráfico e de branding, a Todot Design criou a sua própria marca, a Ultraworks. Com o apoio do Fundo das Indústrias Culturais, a marca desenvolveu uma gama de relógios – ULTRATIME001. Tendo por inspiração o velocímetro dos veículos, o relógio é diferente dos tradicionais, que têm três ponteiros. O seu único ponteiro é imóvel, pelo que, para saber as horas, temos de recorrer à rotação anti-horária no mostrador, no qual os números estão dispostos no sentido contrário ao dos ponteiros e com um espaçamento irregular. Estes elementos ilustram o seu conceito, que é um provérbio chinês: “Um barco a navegar contra a corrente deve avançar ou será arrastado de volta”.

 

“Muitas pessoas me têm perguntado sobre inspiração, mas eu não creio que a inspiração seja essencial para o design. Em contrapartida, temos de prestar atenção aos detalhes da vida diária a partir dos quais pode surgir uma nova ideia. Um cliente só solicita os serviços de design quando tem um problema, pelo que o objectivo é analisar e resolver esse problema.”

 

Antes do lançamento da gama de relógios, Lei e a sua equipa fizeram muitas pesquisas para conseguir inovar no design. E o esforço compensou – a série ULTRATIME001 ganhou muitos prémios regionais e internacionais nos últimos dois anos, incluindo a prata nos “HKDA Global Design Awards”, o prémio Top 100 nos “Design Intelligence Awards” e o “China Red Star Design Award”. Deleitado com o reconhecimento obtido no sector, Lei afirma que ganhar estes galardões em representação de Macau tornou a experiência ainda mais memorável, uma vez que “apenas alguns produtos de design de Macau os podiam conquistar”.

 

Não obstante as suas anteriores experiências na área do design gráfico e de marca, Lei considera ter ainda muito a aprender a nível de marketing e gestão de marcas, no âmbito do desenvolvimento de relógios ULTRATIME001. Felizmente, uma empresa de Xangai tornou-se agente exclusiva dos seus produtos na China, ajudando a criar uma rede de vendas online-to-offline no Interior da China que agora representa 80% do total de pontos de venda dos relógios. Macau, Hong Kong e outras regiões perfazem o resto.

 

Além de ser designer, Lei é também docente a tempo parcial na escola que o formou, o Instituto Politécnico de Macau. Comparando com outrora, ele acha que os alunos actuais sabem mais sobre a indústria. “Quando eu era estudante, conceitos como o design e a indústria criativa cultural não eram populares. Com o rápido desenvolvimento das tecnologias da informação, os alunos já têm noções gerais de design e são mais proactivos”, revela. Como os estudantes estão familiarizados com o uso de software de design popular, ele concentra as suas aulas na partilha de experiências sobre como gerir uma marca e como trabalhar no Interior da China.

 

“Muitas vezes digo aos meus alunos que não devem limitar-se a Macau nem ver-se somente como designers gráficos. Embora eu tenha iniciado a minha carreira nessa função, os meus trabalhos actuais não passam apenas por aí. Se tivermos uma boa ideia, podemos apresentá-la sob diferentes suportes, como design gráfico, produtos e vestuário.”

 

Na Ultraworks vão existir mais produtos, como artigos de papelaria e roupa, além dos relógios. “Sempre considerei o ambiente de Macau demasiado confortável. Depois de uma pessoa se licenciar em Design, muitas empresas estão dispostas a contratá-la como designer. E, mesmo que tal oportunidade não surja, a pessoa pode trabalhar noutros sectores. Os designers em Taiwan e no Interior da China têm uma forte percepção da crise, o que os leva a crescer e a aumentar a sua competitividade.

 

Esta é exactamente a experiência em que “um barco a navegar contra a corrente deve avançar ou será arrastado de volta”.