Uma longa pintura animada que narra a história de Macau Entrevista exclusiva com a equipa de produção do filme narrativo Macau: De Volta às Raízes Comuns

03 2022 | 47a edição
Texto/Yvonne Yu Ying e Lam Chon In

Recentemente, o filme narrativo Macau: De Volta às Raízes Comuns, co-produzido pela Associação de Promoção ao Desenvolvimento Cultural de Macau e pela Tianyi Media & Culture, Co. Ltd., foi exibido no Teatro MGM, no MGM Cotai, em Macau. O tema histórico e o modo de apresentação cativante foram alvo de aclamação unânime por parte do público. Todo o filme transborda de vitalidade, baseando-se numa obra da autoria do renomado artista de Macau Lok Hei, uma pintura a caneta de ponta de fibra num pergaminho com 100 metros de comprimento, a qual foi posteriormente animada com efeitos especiais pelo conceituado designer de Macau Dirco Fong. O projecto foi liderado por Fu Zhiping e Zhang Gang, dois cineastas exímios a contar histórias de Macau com a sua câmara, os quais filmaram um documentário sobre Macau ao longo de vários anos, em estreita colaboração com inúmeros artistas, criando assim este deslumbrante filme animado dedicado à história do Território, que estreou agora no Teatro MGM.


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O filme narrativo Macau: De Volta às Raízes Comuns foi co-produzido por Zhang Gang (à esquerda na primeira fila), Fu Zhiping (à direita na primeira fila), Lok Hei (à esquerda na fila de trás) e Dirco Fong (à direita na fila de trás).


Fu Zhiping, realizadora principal e responsável pelo texto da narração de Macau: De Volta às Raízes Comuns, refere que tanto a narração histórica, como as imagens animadas, os efeitos musicais e o texto narrado derivam integralmente do documentário original intitulado Macau: De Volta às Raízes Comuns. “Uma razão importante para o sucesso do filme Macau: De Volta às Raízes Comuns é que, aquando da criação do documentário homónimo, a equipa de produção cobriu a história de Macau de forma bastante sistemática e abrangente, registando elementos sobre a vida, economia, história e outros aspectos de Macau, e revelando uma compreensão mais aprofundada sobre a cidade, que inspira ideias mais inovadoras e revolucionárias.” Um dia, ao passar na Avenida de Almeida Ribeiro (San Ma Lou), Fu Zhiping viu vários fotógrafos a registar Macau com as suas câmaras. Após discutir o assunto com o seu parceiro Zhang Gang, ambos concordaram que dar a conhecer a história de Macau através do pincel de um pintor não apenas potenciaria o apelo do filme, como também permitiria ir além do documentário Macau: De Volta às Raízes Comuns. “Macau possui um profundo legado cultural e histórico resultante do encontro da China com o Ocidente. A nosso ver, nem a pintura tradicional chinesa, nem a pintura a óleo ocidental permitiriam evidenciar plenamente a essência da cidade, mas os desenhos do Sr. Lok Hei adequam-se perfeitamente, pelo que foi com ele que colaborámos para criar um pergaminho com 100 metros de comprimento,” explica Fu Zhiping.


No entanto, face aos desafios desta era fragmentada, Fu Zhiping entende que os documentários de grande escala não permitem satisfazer as expectativas de rapidez e qualidade do público moderno, sendo necessário um modo de apresentação mais simples e refinado para chegar a um público mais amplo. Em 2020, Fu Zhiping descobriu que o Teatro MGM constitui um local de exibição ideal, pois dispõe de um ecrã LED 4K gigante de alta definição com 900 metros quadrados e 28 milhões de pixels, proporcionando assim uma experiência visual altamente inovadora. Por sua vez, os projectos culturais e criativos de Macau são igualmente apoiados pelos hotéis, tendo sido iniciado os trabalhos de ligação. O processo de criação do filme Macau: De Volta às Raízes Comuns demorou um ano e meio. Fu Zhiping ri-se, dizendo que escrever o texto da narração desta vez foi como “ultrapassar um carro numa curva: muito difícil”. “Condensar 500 anos de acontecimentos históricos importantes de Macau num texto de 28 minutos é um enorme desafio, requerendo uma linguagem tão expressiva quanto sofisticada, que permita envolver e cativar os espectadores.” A nível visual, o filme comportou também muitos desafios: “A relação entre a visão e o ecrã, o facto de os close-ups dos olhos usados na montagem tradicional darem lugar apenas a globos oculares no ecrã, bem como o uso de imagens captadas no modo “desporto”, as quais desaparecem de um momento para o outro, resultando num efeito visual bastante fluido. Para este projecto, eu e a equipa técnica tivemos de subverter a obra do realizador tradicional e recriar cada cena para produzir o efeito do actual filme.”


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Fu Zhiping, realizadora principal e responsável pelo texto da narração do filme narrativo Macau: De Volta às Raízes Comuns.


Zhang Gang, o produtor e responsável pelos textos literários e históricos, afirma estar contente desde a estreia de Macau: De Volta às Raízes Comuns por ver que o filme tem sido bem acolhido pelo público de Macau, na medida em que diz algo a cada pessoa que já aqui viveu. “Quando fizemos o documentário, recorremos a estudantes investigadores para nos ajudar a recolher materiais na biblioteca da universidade, e todos eles me disseram que não sabiam quase nada sobre o sítio onde viviam. E o que se diz de Macau no Interior da China ou no estrangeiro? Provavelmente, que não passa de uma “cidade do jogo”. Por isso, temos trabalhado arduamente para fazer documentários sobre as diferentes facetas de Macau, na esperança de dar a conhecer a verdadeira cidade aos espectadores.” Ao longo de vários séculos, têm-se verificado lacunas a nível do registo dos aspectos históricos, económicos, religiosos, folclóricos, educativos, artísticos e arquitectónicos de Macau—como colmatar de forma subtil estas lacunas no filme? “Não se trata de uma narração detalhada sobre os 500 anos da história de Macau, mas de um complemento aos materiais históricos. Inicialmente, os desenhos do Sr. Lok Hei foram criados com base nos conteúdos do documentário, mas desta vez, foi necessário rearticular os desenhos com o argumento geral, com a narração e com as fotografias apresentadas. Foi um verdadeiro desafio contar a história de forma lógica neste filme, mas acabamos por conseguir fazê-lo, o que representa para nós um grande feito artístico.”


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Zhang Gang, produtor e responsável pelos textos literários e históricos do filme narrativo Macau: De Volta às Raízes Comuns.


Os desenhos com caneta de ponta de fibra da autoria do artista de Macau Lok Hei constituem o esqueleto que estrutura esta história. “Os desenhos são os mesmos que foram usados no documentário Macau: De Volta às Raízes Comuns, criado em 2014 para comemorar o 15.º aniversário da Transferência da Administração de Macau para a China. Nessa altura, o realizador queria encontrar um artista que pudesse pintar um longo pergaminho sobre a história de Macau, ao estilo da célebre pintura Ao longo do Rio durante o Festival de Qingming, e foi por isso que me contactou... Para cada episódio, o realizador dava-me um guião e encarregava uma equipa de ir em busca de materiais históricos e de verificar a sua autenticidade; as pesquisas foram feitas com muito rigor.” Os desenhos de Lok Hei distinguem-se pelo seu absoluto requinte, sendo cada detalhe uma verdadeira fonte de deleite estético, sendo que a sua criação não teria sido possível sem o apoio do think tank responsável pelas pesquisas históricas. “Eles desencantaram informações nas bases de dados das bibliotecas, dos museus, dos arquivos e do Gabinete de Comunicação Social de Macau e até mesmo de fontes históricas da região do Delta do Rio das Pérolas. Por exemplo, outrora, foi encenada uma comédia grega no Colégio de S. Paulo, a qual atraiu uma enorme multidão, mas, ao desenhar este acontecimento, enganei-me no contexto histórico. Como pensava que isso tinha acontecido durante a Dinastia Qing, desenhei toda a gente com uma longa trança. Mais tarde, quando se fez a revisão, informaram-se que se tratava da Dinastia Ming, o que me levou a alterar imediatamente o desenho e a substituir as tranças por coques, mais conformes a este período histórico.”


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Lok Hei participou no planeamento, na produção e nos desenhos do filme narrativo Macau: De Volta às Raízes Comuns.


O designer de Macau Dirco Fong é o responsável pela dinâmica do filme, fazendo o pergaminho estático de 100 metros de comprimento deslizar de forma expressiva diante dos espectadores. “Este projecto teve os seus momentos de dificuldade, mas também de prazer. Os elevados requisitos do Teatro MGM obrigaram ao uso de uma enorme quantidade de dados no processamento das imagens, pelo que tivemos de despender muito tempo a fazer o upgrade do hardware e do software. Mas vendo o resultado final, não deixa de ser muito gratificante.” Do documentário ao álbum de desenhos, aos concertos e finalmente ao filme narrativo, a série Macau: De Volta às Raízes Comuns tem vindo a explorar uma multiplicidade de novas abordagens. “No futuro, espero poder divulgar o filme através da Internet, ou fazer algumas digressões, para que o filme possa chegar a um público mais amplo.”


No que respeita ao Teatro MGM, onde o filme está a ser exibido, a Vice-Presidente da Arte e Cultura do MGM, Cristina Kuok, falou sobre as suas expectativas para a exibição deste filme. “Nós e a equipa de produção esperamos que este filme possa contribuir para fortalecer o sentido de pertença dos residentes de Macau e a sua identificação com Macau como sendo a sua casa, cultivando especialmente o espírito de “Amor pela Pátria e por Macau” junto dos jovens. O filme estreou no passado dia 23 de Janeiro e será regularmente exibido no Teatro MGM durante um ano, sendo oferecidas sessões especiais gratuitas para escolas, serviços públicos e organizações civis.”


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O designer de Macau Dirco Fong foi responsável pelo planeamento e pela direcção executiva deste filme


Em apenas 28 minutos, uma “breve história de Macau” vai-se desenrolando lentamente no Teatro MGM, contando a história de Macau com belas palavras cheias de carinho por esta pequena cidade. Como é evidente, cada imagem e cada frase do filme foram cuidadosamente pensadas, como se estivéssemos a ouvir um “contador de histórias” que acompanhou os altos e baixos de Macau ao longo de séculos, narrando de modo humilde as vicissitudes da cidade. Esta nova abordagem fez aumentar a “espessura” do antecessor do filme—o grande documentário televisivo Macau: De Volta às Raízes Comuns—e do pergaminho homónimo com 100 metros de comprimento, recorrendo às novas tecnologias para atrair a atenção dos residentes e visitantes de Macau e convidar os mesmo a explorar o passado e o presente da cidade. Pode dizer-se que este é um novo avanço no desenvolvimento do turismo cultural de Macau.


Datas e horários de exibição do filme narrativo Macau: De Volta às Raízes Comuns:

www.mgm.mo/zh-hant/cotai/entertainment/macao-back-to-common-roots-narrative-film