Art Basel: A Transformar a Cena Artística de uma Cidade

06 2016 | 15a edição
Texto/Yuki Ieong

Realizada em Março deste ano, a Art Basel Hong Kong gerou uma nova onda de actividades de artes visuais: o Hong Kong Tourism Board deu a Março o nome de “Mês da Arte”, com destaque para mais de 20 eventos, incluindo a Art Central Hong Kong, o Festival de Artes de Hong Kong, a Asia Contemporary Art Show, etc., atraindo coleccionadores e curadores de todo o mundo. Se comparada com a visão internacional da Art Basel, a Art Central foca-se mais na arte asiática, com 75 por cento das galerias participantes a serem da Ásia, apresentando mais de 500 peças. A directora-adjunta da Art Central, Maree Di Pasquale, assinala: “Sempre sentimos que Hong Kong tem potencial para se tornar num centro de arte internacional, com os níveis de competitividade de outros centros como Paris, Miami ou Nova Iorque”.


De acordo com o relatório da TEFAF sobre o mercado de arte global, o volume agregado de vendas do mercado de arte chinês caiu 23 por cento para 11.8 mil milhões de dólares norte-americanos. Apesar disto, as transacções feitas na Art Basel de Hong Kong este ano foram ainda consideráveis, com um trabalho representado pela Galeria Cardi (Londres e Milão) a ser adquirido por um coleccionador privado europeu por 10 milhões de dólares. A Galeria David Zwirner, com base em Londres e Nova Iorque, também vendeu cinco peças da autoria de um artista belga, Michaël Borremans, durante a Art Basel, com valores que ascenderam a 1.6 milhões de dólares.


O Efeito Onda da Arte


Fundada em 1970 em Basileia, na Suíça, a Art Basel apresenta arte moderna e contemporânea. Em 2002, a Art Basel começou também a acontecer em Miami, nos EUA, e estreou-se em Hong Kong em 2013.


Este ano, a Art Basel de Hong Kong atraiu a participação de 239 galerias de 35 países e regiões, com 28 galerias a marcarem presença na feira pela primeira vez. Comparando com edições anteriores da Art Basel na região vizinha, a audiência este ano superou as 70.000 pessoas: um número recorde.


Anthea Fan, directora da Galeria am space – uma galeria que participou na Art Basel pelo segundo ano consecutivo – nota que quando a Art Basel começou em Hong Kong, em 2013, conseguiu de imediato aumentar a exposição dos artistas de Hong Kong e rapidamente se transformou numa plataforma significativa para os mercados de arte de Hong Kong e da Ásia. Contudo, naquele momento considerava-se que faltava sofisticação à arte de Hong Kong. Nos últimos anos a cidade acolheu mais mostras e a qualidade da arte local melhorou consideravelmente, ao ponto de terem aparecido no sector alguns artistas a tempo inteiro. Fan sente que a Art Basel já teve um impacto positivo na cena artística do Delta do Rio das Pérolas. “Toda a gente está a aprender sobre o modelo ocidental de feiras de arte. Nestes poucos anos, houve um crescimento do número de mostras de arte em Taiwan, Hong Kong e no interior da China, embora algumas destas exposições não sejam assim tão auto-suficientes”, diz.


Uma Plataforma Internacional de Intercâmbio


Anthea Fan considera que a Art Basel é significativa não apenas em termos de volume de vendas, mas por ser a única oportunidade que os artistas de Hong Kong têm para interagir com pessoal de museus de outros países. “Os artistas não querem saber apenas das vendas de arte, mas ter a oportunidade de serem convidados por galerias importantes para participarem em exposições no exterior. Afinal, isso é o que realmente interessa: o desenvolvimento das suas carreiras.”


No ano passado, a Galeria am space foi uma das duas participantes de Hong Kong com lugar num espaço de exposição particular, mas este ano foi a única galeria local representada naquela zona. Fan não se mostra surpreendida: “Este evento é muito direccionado para negócios. Afinal de contas, o principal motivo para organizar em Hong Kong um evento artístico tão conhecido é acima de tudo conseguir expandir o mercado de arte na Ásia. Para solicitar uma tenda na feira, cada galeria tem de entregar uma proposta e um montante de 1,000 dólares norte-americanos. Apesar deste montante significativo, muitas galerias de arte competem pela possibilidade de estarem nesta mostra de artes. Logo, o facto de que aconteça em Hong Kong não significa que a organização vá reservar mais espaços para galerias locais.”


Coleccionadores de Arte Asiáticos Estão Mais Sofisticados


Xu Jianguo é um artista sino-americano que participou pela primeira vez na Art Basel. Tendo pesquisado sobre arte ocidental nos EUA durante 30 anos, Xu já teve exposições em Nova Iorque, Xangai e Pequim. Considera que a Art Basel não é muito diferente de outras mostras semelhantes noutros países, em termos do modo como a operação decorre. O que muda são a filosofia e as atitudes dos artistas em diferentes países. “A arte no ocidente está mais focada na apreciação do físico, bem como na lógica e na aplicação do pensamento visual. Por outro lado, a arte no oriente está mais focada nos sentimentos e nas expressões.”


Xu acrescenta que o julgamento estético e a compreensão aumentaram gradualmente entre o público asiático em anos recentes. “Hoje em dia, a qualidade dos coleccionadores do interior da China também melhorou, apesar de a maioria dos coleccionadores ainda ser guiada pelo lucro. Coleccionadores de arte com um sentido genuíno de pensamento independente são a minoria. Com mais oportunidades para as pessoas do interior da China estudarem no estrangeiro, e com as suas perspectivas financeiras, começarão a apreciar a arte como parte da vida, e cultivarão o seu gosto por arte.”