A marca de roupa masculina de estilo japonês com o nome do seu apelido português
Liderar a tendência de roupa e moda personalizadas ─As criações do fundador de “Cordova”: “Sonhos” e “Ideias”

01 2021 | 42a edição
Texto/Catherine Ho  Foto cedida por Cora Si

O ditado diz que “é o homem que veste a roupa”, mas há um designer de roupa e moda em Macau que insiste no contrário: “é a roupa que veste o homem”. Pela sua criatividade surreal e pelas suas técnicas delicadas de alfaiataria, este designer “caprichoso” produziu uma série de roupa masculina com características distintas, nunca acompanhando as tendências e insistindo sempre no sentido com o qual se identifica; e olha, ainda, mais além, na expectativa de liderar uma nova tendência de roupa e moda personalizadas numa altura em que as marcas de moda rápida ocupam o mercado de forma esmagadora. Esse designer é Celestino Maria Cordova, fundador da marca local de roupa masculina “Cordova”.


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Celestino Cordova é um descendente macaense que criou a marca local de roupa masculina com o nome do seu apelido português, Cordova.


Seguir o sonho no Japão, “o auge é logo no início”


A história de Celestino Cordova relacionada ao vestuário tem que ser contada a partir da máquina de costura. Na altura em que a indústria manufactureira em Macau se estava a desenvolver, a sua avó trabalhava numa fábrica de vestuário. Quando era criança, sempre que a visitava na fábrica, o seu olhar fixava-se na máquina de costura. Aos 10 anos, a sua mãe abriu uma loja de roupa e contratou um alfaiate para coser as roupas dos clientes; a costura de roupas do alfaiate era o “espectáculo” que Celestino Cordova mais desejava ver: a cadência clara da máquina de costura parecia-lhe uma peça de música, enquanto cada ponto de agulha era como um pincel, formando gradualmente a visão do desejo de Celestino Cordova de se dedicar à indústria de roupas.


No entanto, esta visão maravilhosa sofreu a crítica inexorável da sua mãe, uma vez que ele não sabia, então, usar bem a máquina de costura, tinha até dificuldade em costurar uma linha recta. Para mostrar à mãe a sua determinação, após um mês de trabalho duro, Celestino Cordova demonstrou-lhe, finalmente, a linha recta que tinha costurado com a máquina de costura em troca da oportunidade de ir para o Japão estudar e seguir o seu sonho. Tendo crescido com um amor pela cultura japonesa desde a infância, celebrou o seu 18º aniversário e deu o salto da adolescência para a fase adulta numa atmosfera cheia de esperanças e sonhos; porém, logo depois, no dia 11 de Março de 2011, deu-se o Grande Terramoto do Leste do Japão, que interrompeu, para muita pena sua, a viagem de estudo.


Depois de voltar para Macau, Celestino Cordova não desistiu do seu sonho. Inscreveu-se, enquanto trabalhava, no curso em Diploma in Fashion Design & Manufacture do Centro de Produtividade e Transferência de Tecnologia de Macau (CPTTM). Durante a fase de preparação do trabalho final, demitiu-se do seu trabalho para se concentrar na criação da obra de graduação. Em 2016, ganhou o campeonato da cerimónia de graduação e o prémio de mérito académico pela sua obra “Kimono Now”. Depois disso, foi convidado pelo CPTTM para participar no “CPTTM Programa Incubador de Moda (MaConsef)”, o que o levou ao momento de clímax, “o auge foi logo no início”.


Desafiar a alfaiataria tradicional, construir a roupa masculina de estilo japonês


Após mais de um ano de preparação, foi lançada oficialmente a marca de roupa masculina “Cordova”, com o nome do seu apelido português. É exactamente porque a marca tem o nome do seu próprio apelido que ela tem um toque pessoal muito intenso, incluindo a continuação do estilo japonês que Celestino Cordova prefere, e a tonalidade de cores que é principalmente preta e branca de acordo com a sua preferência pessoal. A marca é principalmente orientada para o vestuário masculino, porque, por um lado, Celestino Cordova sabe melhor o que os homens precisam, e por outro lado, porque o vestuário masculino tem menos variações do que o vestuário feminino, o que é um desafio maior para o designer.


Embora as roupas em tons de preto, branco e cinzento tendam a dar às pessoas uma sensação de insipidez, as roupas de “Cordova” escondem um artesanato bastante complexo. Tal como na sua última série “Não Dividido”, a inspiração para a criação vem do papel amarrotado. A acção de amarrotar pode tornar um papel plano tridimensional, por isso Celestino Cordova concebeu a ideia de fazer uma roupa a partir de uma peça de tecido completa, e depois usar a figura tridimensional do corpo humano para moldar a roupa. As suas roupas podem ser colocadas na mesa como uma tela, ou podem também ser usadas com fechos de correr ou botões costurados na cintura e mangas para acentuar ainda mais a linha do corpo.


Esta compreensão mais profunda do corpo humano tem origem na doença genética mental de Celestino Cordova, que frequentemente o levou a experienciar a morte e a dissecação do corpo nos seus sonhos. Assim, ele exprimiu a sua experiência pessoal por meio da roupa. No entanto, admitiu que muitas das suas ideias são irreais, e, por isso, convidou o engenheiro de produtos Peter Sou, que tem mais de dez anos de experiência de produção e operação de roupas, para transformar os seus “sonhos” ilusórios em “roupas” tangíveis com a sua rica e pragmática experiência.


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A epidemia deixou toda a população a usar máscara, por isso, em algumas roupas na novíssima série da marca “Não Dividido”, também se conceberam golas superaltas que podem cobrir o nariz e a boca.


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 A obra de Celestino Cordova procura desafiar as técnicas de alfaiataria, cuja peça de vestuário é formada por uma só peça e pode ser colocada na mesa como uma tela ou usada com fechos de correr na cintura para acentuar a linha fina do corpo.


Rejeitar a moda rápida, liderar a tendência de roupa personalizada


Para Sou, alguém que anda no mercado tradicional há muitos anos, o design de Celestino Cordova é ousado e parece que “anda na lua”. Por exemplo, uma vez, fez-lhe uma peça de vestuário na forma de um pano inteiro de dois metros de comprimento, o que foi muito exigente para o provador e difícil de adaptar para uma pessoa comum poder usar.


Celestino Cordova admitiu que a sua marca procura avanços nas técnicas de alfaiataria e nunca segue as tendências ou o mercado cegamente, e que só a “pessoa certa” pode dominá-la, por isso “o que veste o homem é a roupa” em vez do contrário. Como as roupas da série lançada agora são principalmente para espectáculos de moda, o seu estilo tem de ser suficientemente “ousado” para atrair mais olhares, e quando for lançado no mercado será ligeiramente ajustado para tornar as peças mais “normais”. Futuramente, vai desenvolver a marca na direcção de roupa e moda personalizadas, disponibilizando aos clientes um serviço de personalização. Para tal, comprou máquinas de digitalização do corpo de grande valor que são já o preparativo para este próximo desenvolvimento.


Sou concordou com a noção de Celestino Cordova, indicando que as marcas de moda rápida que agora ocupam a maioria do mercado causam um imenso desperdício de recursos, o que é completamente contrário em relação à protecção ambiental que é uma grande tendência global. Portanto, haverá certamente mudanças disruptivas na indústria. E a roupa personalizada pode não apenas diminuir o estoque mas também tornar o capital mais flexível. Achou, ainda, que o conceito de Celestino Cordova está muito na vanguarda, e que, por isso, queria ser seu parceiro e promover com ele o desenvolvimento da marca. Além de Sou, Celestino Cordova convidou, ainda, mais dois membros e formou uma equipa de quatro pessoas na expectativa de acelerar ainda mais o desenvolvimento da marca.


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Peter Sou (à esquerda) é simultaneamente professor e amigo de Celestino Cordova, sendo também o seu cúmplice e parceiro de trabalho.


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Peter Sou (à esquerda) e Celestino Cordova arrendaram um estúdio de modelos de roupa num edifício industrial para melhor discutirem a produção da roupa


A epidemia alterou o plano, a loja-conceito física foi adiada para este ano


Durante dois anos consecutivos, Celestino Cordova foi seleccionado pelo Programa de Subsídios à Criação de Amostras de Design de Moda do Instituto Cultural (IC), e lançou colecções para duas estações que foram, igualmente, bem recebidas. Assim, o ano passado, a sua equipa arrendou uma loja situada no Centro de Macau com o plano de construir uma loja-conceito física para a marca. No entanto, com a chegada súbita e inesperada da epidemia, a obra de remodelação da loja foi adiada muitas vezes, e o plano de ir a Xangai e ao Japão para participar em exposições, agendado originalmente para o ano de 2020, também teve que ser cancelado.


A epidemia trouxe às muitas indústrias algumas reflexões, entre as quais um ensinamento importante de como usar bem a internet para manter o desenvolvimento da indústria. Durante o período de epidemia, Celestino Cordova procurou na internet várias lojas globais que vendiam vestuários de estilo idêntico ao da sua marca e enviou-lhes a brochura da sua obra por correio. Apesar de ter havido algumas lojas que se interessaram pela marca, elas esperaram que Celestino Cordova pudesse estar presente com a obra real e fazer apresentações mais detalhadas. Pelos limites da logística e do transporte que a epidemia causou, não houve nenhum progresso substancial nesta colaboração.


“Cordova” já tem o seu website, então porque não considerar a abertura de um canal de vendas na internet? Celestino Cordova explicou que a marca ainda não está bem qualificada e tem uma personalidade distinta, por isso, se for vendida online, mesmo que gaste muito dinheiro na promoção, prevê-se que tenha pouco efeito. Se a loja tiver uma base estável de clientes que se identificam ainda mais com o estilo da marca, poder-se-á desenvolver no mercado com metade do esforço. Além disso, existem discrepâncias de tamanhos nas compras de vestuário na internet, enquanto as lojas físicas proporcionam uma melhor experiência aos clientes. Com o abrandamento da epidemia em Macau, já reiniciou a obra de remodelação da loja-conceito física e arrendou um estúdio num edifício industrial para lá fazer a criação e a produção de modelos, com vista a relançar o plano de construção da marca.


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O estúdio de modelos de “Cordova” comprou máquinas de digitalização do corpo para recolher dados sobre a figura do corpo do provador e ter o efeito de simulação sintética no computador


Website de Cordova: 

www.cordova.mo