A Carreira de Escrita de Kaik: Da escrita criativa às adaptações multimédia

06 2017 | 21a edição
Texto/Simon Wong

Nos últimos anos, muitos aspirantes a escritores do interior da China optaram por auto-publicar os seus trabalhos para os darem a conhecer. Kaik, uma jovem autora de ficção científica, decidiu auto-publicar o seu romance, KilLers, em Hong Kong, e acabou por assinar contrato com a Today, uma editora de HK. Em 2015, co-publicou um livro intitulado Love Confessions of a Young Girl, e uma história de ficção científica: Redemption. Sendo uma autora residente em Macau, o seu trabalho alcançou leitores muito para além do mercado local.


“Em muitos aspectos, ainda sou uma escritora emergente. Em 2016, fiz uma adaptação multimédia de Redemption. O texto foi adaptado para drama radiofónico e para animação. À data, era a primeira vez que a editora juntava esforços com outras entidades para produzir uma adaptação. Fiquei encantada por integrar uma tal iniciativa criativa e considerei a experiência muito gratificante.” Kaik elucidou acerca do enredo e da animação. Ela parecia estar desiludida. Por um motivo ou por outro, o drama radiofónico e a adaptação animada de Redemption não foram além do prefácio e do primeiro capítulo.


Como se pode imaginar a quantidade de trabalho por detrás de um fino volume? É incrível pensar nos esforços da autora para publicar Redemption. Por sugestão dos editores, Kaik fez inúmeras alterações ao texto original. “O meu editor assinalou todas as falhas que encontrou no texto e partilhou comigo, enquanto editor experiente, a importância de evitar materiais déjà-vu, aspectos da lógica da trama, e problemas no uso da linguagem, etc. Também considerou que as minhas caracterizações tinham de ser mais trabalhadas.” As alterações subsequentes ajudaram a melhorar o ritmo da narrativa.


Além de dar os passos certos ao início e ter a sorte de encontrar bons mentores, para um autor de ficção contemporânea é crucial ganhar popularidade. Isso, no entanto, não foi fácil para Kaik.


“Depois da Feira do Livro de Hong Kong em Julho do ano passado, estava prestes a desistir de escrever. Senti que o meu trabalho não era valorizado pelo público. Comecei a duvidar de mim mesma: estarei mesmo destinada a escrever? Será que o que escrevo não é cativante?” Foi necessário muito tempo para Kaik conseguir gerir as suas emoções e conseguir compreender-se melhor.


“Por algum tempo, senti-me muito vazia por dentro. Descobri que, por muito que ame a escrita, tenho de moderar as minhas expectativas. Se a minha escrita não fosse apreciada pelos outros, eu não tinha motivação para escrever. Hoje em dia, não penso sobre o facto de as pessoas estarem ou não a ler o que escrevo. É a minha paixão pela escrita que me faz continuar a escrever.”


Esta fase vivida por Kaik ajudou-a a compreender que o significado da escrita reside no trabalho em si. Se ela se preocupar muito com o que os outros pensam, com quantos ‘Gostos’ obtém nas redes sociais, ou se estiver sempre a comparar-se com outros escritores, só diminuirá o prazer de escrever.


“Comecei a focar-me nas questões importantes: sobre o que posso escrever? O que posso dar de novo aos leitores?”, revela Kaik, segundo quem os seus amigos viram Redemption como uma narrativa completa com um começo notável mas um final menos convincente. Como escreve de forma espontânea com base numa estrutura vagamente organizada, Kaik considera-se menos apta para coordenar o ritmo e os detalhes da narrativa.


Com dois anos de experiência de escrita, começa agora a perceber a necessidade de um enredo coeso e de um sentido do todo na narrativa. Esta percepção motiva-a a escrever melhor.


“Actualmente, escrevo de forma muito diferente. Planifico tudo: o número de palavras em cada capítulo; como escrever a introdução, as transições, a conclusão, bem como a caracterização. Coloco os detalhes em post-its e fixo-os na parede. Além disso, coloco-me na pele das personagens e estudo como podem os acontecimentos evoluir, para conseguir avaliar que trama é mais plausível.”


Precisamente por ter uma ideia mais definida do que é um bom texto, Kaik já não está interessada no número de “Gostos” que soma nas suas páginas nas redes sociais. Em vez disso, quer fazer um trabalho bem feito.


Kaik reconhece que aprendeu imenso com a adaptação de Redemption a outros suportes. Desde então, tornou-se mais pró-activa nas tentativas de solicitar colaborações a pessoas de outros meios. “No passado, não assistia a filmes coreanos, por considerar muito lento o ritmo da narrativa. Nos últimos anos, porém, creio que eles se tornaram mais interessantes, lidando com uma série de temas. Assim, fiz o download de uma peça coreana para aprender mais sobre o assunto. É fascinante ver o que serve de base a uma peça, e como cada personagem é retratada com tanto detalhe. É quase como se interessasse ao dramaturgo saber de que forma uma personagem bebe o café e onde coloca a chávena quando o termina. Trata-se, sem dúvida, de uma grande lição para mim, no sentido de trabalhar a caracterização.”


Como ficcionista, é-lhe vital procurar os seus leitores. Kaik toma muito cuidado na gestão da sua página de autora nas redes sociais, e aprendeu a maximizar a publicidade usando um conjunto finito de recursos.


“Descobri que as imagens dizem muito mais do que os textos, pelo que decidi usar mais imagens para dar a conhecer os meus livros. Mesmo que as pessoas não encontrem tempo para ler o livro todo, pelo menos têm acesso ao essencial.”


Tendo reorganizado a sua vida de autora, Kaik voltou a escrever. Recentemente, colocou online a ficção Meeting You Again. Também terminou e enviou a um editor um novo original, que deverá dar origem a um livro de 100.000 palavras (o título da obra, os conteúdos e a data de publicação serão motivo de outra conversa). Este livro é, provavelmente, a resposta que Kaik obteve após um aturado exame de consciência.