Joe Tang

Vencedor do Prémio Literário de Macau e o Prémio de Novela de Macau, Joe Tang é escritor e crítico de arte. Assinou vários romances, incluindo The Floating City e O Assassino, traduzidos para Inglês e Português. Publicou também peças de teatro, entre elas Words from Thoughts, Philosopher’s Stone, Journey to the West, Rock Lion, Magical Monkey e The Empress and the Legendary Heroes.


Do Festival de Cinema ao Festival Fringe

19a edição | 02 2017

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Poster da edição de 2016 do Fantasia - Festival Internacional de Cinema


No momento em que escrevo, acabou de encerrar o Festival Internacional de Cinema e Cerimónia de Entrega de Prémios•Macau. As suas notícias e discussões, normalmente com texto e imagem, tornaram-se virais nas redes sociais. O artista Joe Lei referiu vários aspectos que podem ser melhorados na sua coluna no jornal Macao Daily. Sugeriu que “déssemos ao organizador tempo para concretizar”. De um certo modo, isto é verdade. Construir uma marca cultural exige tempo e esforço. As pressas são escusadas. Em suma, temos de manter o que está bem e melhorar o que está mal. Esta é a atitude que devemos ter sempre que queremos avançar. Agora, penso que vale a pena debater a questão do “posicionamento”. Um festival de cinema pode ter qualquer dimensão. Mas como organizar um festival de cinema excelente? Como atrair cinéfilos locais e estrangeiros para participar no evento? Como criar uma marca cultural para Macau? E como expandir o turismo cultural, além de impulsionar negócios relacionados como as indústrias de aluguer de filmes e vídeos, da restauração, das convenções e das relações públicas, do design e dos lembranças? Tudo isto envolve a participação do sector criativo, bem como da indústria das convenções e exposições. É complicado, mas o cerne de tudo isto é uma questão de posicionamento.


Os três principais festivais internacionais de cinema da Europa – o Festival de Cinema de Veneza, o Festival Internacional de Cinema de Cannes e o Festival Internacional de Cinema de Berlim, bem como os seus congéneres asiáticos, como o Festival Internacional de Cinema de Tóquio, o Festival Internacional de Cinema de Xangai, o Festival Internacional de Cinema de Busan e o Festival do Cinema Asiático de Hong Kong podem ser uma referência para Macau. Se pensarmos que tais referências são demasiado irrealistas para Macau, olhemos para o Fantasia – Festival Internacional de Cinema, “o mais notável e o maior festival de um género de filmes na América do Norte”. O festival foi criado em 1996. Agora é uma mostra de filmes de todos os géneros, como terror e fantasia, de todo o mundo. Apesar de eu viver na Ásia, tenho estado a pensar em visitá-lo. Há um motivo para o sucesso deste festival. Tem o posicionamento certo. Aliás, um festival de cinema com um posicionamento correcto e um elevado perfil consegue ligar-se com o público e com a indústria cinematográfica local, mas não só. Também consegue fazer a ponte com a indústria do cinema e da televisão, as audiências e os recursos a nível regional e internacional. Agora, a questão é: como deve posicionar-se o Festival Internacional de Cinema e Cerimónia de Entrega de Prémios•Macau para se destacar de entre um oceano de festivais de cinema? É preciso fazer um esforço de posicionamento, execução e promoção. Temos de, passo a passo, construir um festival de cinema que seja atractivo a nível internacional e que, ao mesmo tempo, consiga ser uma montra do carácter de Macau.


O que é um posicionamento com as características de Macau? Na minha opinião, é um híbrido entre as culturas europeia e asiática, à semelhança do que acontece com a cidade e os seus habitantes. Com várias centenas de anos de intercâmbio cultural entre a China e Portugal, a cidade de Macau ostenta algumas características encantadoras: possui estilos arquitectónicos tanto orientais como ocidentais, coexistindo edifícios antigos e modernos, e as culturas, tradições e gastronomia do Sudeste Asiático misturam-se bem com as suas congéneres europeias. As vibrações de Macau são obviamente distintas das de Hong Kong, de Taiwan e do interior da China. O charme de Macau não é ser majestosa. É ser pequena mas atraente. A cidade parece caótica, mas é possível encontrar ordem no caos. E há uma beleza de inclusão, coexistência e harmonia.


Pensei no Festival Fringe (que agora se chama Festival Fringe da Cidade de Macau e já vai na sua 16.ª edição, que este ano decorreu entre 13 e 22 de Janeiro) lançado em 1999, o ano da transferência da administração de Macau para a China. Ao longo dos anos, este festival transformou toda a cidade num palco que permite a exibição de diferentes tipos de arte. Esta pode ser avant-garde, divertida e cómica, apesar de não estarmos a falar de grandes marcas nem de grandes produções. E tem acrescentado sentidos artísticos e vibrações criativas à cidade. Quer seja o Festival Fringe ou o Festival de Cinema, Macau já tem plataformas para mostrar as suas artes e culturas locais. O que agora interessa realmente é se o organizador tem coragem e capacidade para posicionar correctamente o evento. Uma execução cuidada e uma boa gestão são igualmente necessárias para que o evento tenha impacto.