Um monstro à solta: entrevista com aficionado da música Gary Chen

12 2019 | 36a edição
Texto/Por Lai Chou In

Gary Chen é um artista musical de Guangzhou com várias identidades. Ele é designer, empresário de uma loja de mobiliário e também produtor musical. Entre todos os seus afazeres, ele é mais conhecido pela sua contribuição na organização de centenas de espectáculos musicais e por trazer grandes artistas nacionais e estrangeiros para eventos musicais no interior da China. “Comecei a envolver-me na organização de eventos musicais quando a minha própria banda não conseguia encontrar qualquer oportunidade para tocar”, explica. “Então decidimos organizar um concerto com outras bandas. Gradualmente, algumas organizações começaram a procurar a nossa ajuda.” Parece um processo natural para Gary. Mas o que é que exactamente estas organizações viram nele? Simplificando, viram a paixão e o contributo de Gary.

 

Na verdade não sou bom cantor”

 

Gary teve sempre uma paixão pela pintura e pela música desde criança. Depois de entrar na Academia de Belas Artes de Guangzhou para estudar design gráfico, Gary juntou-se aos seus amigos e começou uma banda para tocar quando tinham tempo. “Adoro pintar. Com algumas técnicas básicas, posso criar algumas obras de arte imaginativas. O mesmo acontece com a música. As notas musicais e as letras permitem-me traduzir a minha imaginação em algo”, diz Gary. “E as músicas podem difundir o meu conteúdo mais rapidamente que as pinturas.” Depois de terminar a faculdade, Gary tornou-se um talento profissional de design. Mas isso não o impediu de trabalhar em música nas horas vagas. Em 2007, iniciou oficialmente a banda independente Jiubuqian. Tal como Gary diz, fazer música não é um caminho fácil. A banda viu constantemente membros antigos saírem e novos membros juntarem-se, já que eles precisavam essencialmente de um meio de subsistência. Em 2009, a banda mudou o seu nome para Monster KaR e iniciou uma nova etapa. Embora Gary ainda continue a fazer música, não teve a intenção de fazer da música a sua carreira a tempo inteiro. “Não quero fazer disto o meu trabalho a tempo inteiro. Houve algumas editoras discográficas que tentaram assinar com a banda. Mas acho que se disséssemos sim, isso limitaria as nossas canções”, diz Gary, lembrando-se de um comentário que recebeu de alguns veteranos da indústria musical. “Eles disseram-me que eu escrevia boas músicas, mas depois perguntaram-me se eu poderia parar de cantá-las. Eu sei que não canto bem. É por isso que agora temos um novo vocalista. Assim posso concentrar-me em escrever músicas!”

 

O brilho do Lost & Found

 

Embora Gary tenha um trabalho a tempo inteiro, ele nutre ainda uma imensa paixão pela música. Antes de a sua banda ganhar popularidade e encontrar oportunidades para tocar, ele já tinha começado a trabalhar com outras bandas e organizou um espectáculo musical de larga escala numa fábrica em Guangzhou. O espectáculo correu muito bem, tanto em termos de qualidade quanto de sucesso comercial. Este é um exemplo perfeito da ideia de que um diamante em bruto é ainda assim um diamante que brilha. Os esforços de Gary no mundo da música chamaram gradualmente a atenção da indústria musical, o que posteriormente levou a mais oportunidades para organizar eventos musicais no interior da China. Em 2009, Gary começou a envolver-se com o Music Lost & Found, um festival de música apoiado pelo Nanfang Media Group que leva diferentes artistas a actuar em metros como o de Pequim, Xangai, Xi’an, Chongqing, Chengdu, Shenzhen e Guangzhou, entre outros. Artistas populares de C-Pop como Sandee Chan, Crowd Lu, Wang Feng e Khalil Fong participaram nestes eventos. O Lost & Found ganhou até o Golden Melody Awards de Melhor Gestão de Espectáculos.

 

A reputação vem da produção de qualidade

 

Naquele tempo, tínhamos de pedir aos nossos contactos que abordassem artistas populares por nós, a fim de convidá-los a actuar nos nossos eventos. Simplificando, é preciso ser muito proactivo!” Depois de conseguir convidar os artistas, Gary tenta tornar todos os detalhes do espectáculo musical o mais perfeito possíveis. Desde os efeitos visuais até a produção de palco e da música, ele tenta tornar perfeitas todas as partes do evento. “Para artistas que escrevem as suas próprias canções, o foco principal não é ganhar dinheiro, mas obter mais exposição para a sua música”, ressalta Gary. “Depois de estabelecermos una reputação e ganharmos a confiança das pessoas, elas também nos recomendam outros artistas para tocar no seu evento.” Como um dos principais directores da Music Lost & Found, Gary estava constantemente a viajar para diferentes cidades e províncias do país, para organizar o evento. Às vezes esquecia-se até de onde estava depois de acordar de manhã. “Eu percebia gradualmente o meu paradeiro depois o pequeno-almoço.”

 

Um modelo de produção independente

 

A Music Lost & Found fechou portas em 2014 por vários motivos. Mas Gary percebeu que ainda havia muitos artistas que não tiveram a oportunidade de obter mais exposição. Posteriormente, Garry iniciou a Non-Stop Gigs, uma empresa focada no planeamento e promoção de eventos musicais e culturais. Desde a sua fundação em 2015, a Non-Stop Gigs organizou cerca de 500 eventos de diferentes tamanhos no interior da China. Além de bandas independentes e artistas musicais, a empresa também atraiu artistas populares como Sandee Chan e Cheer Chen actuar nos seus eventos.

 

Em comparação com a Music Lost & Found, Gary acredita que o Non-Stop Gigs tem um posicionamento de marca mais independente, pois o seu modelo de produção difere muito do anterior. “A nossa empresa tem uma pequena equipa principal de cerca de cinco pessoas. Só convidamos outras pessoas—equipa de filmagem, a equipa de produção de palco, a equipa de iluminação, etc., para colaborar connosco quando estamos a organizar eventos”, explica Gary. “Este modelo permite-nos estar na nossa melhor forma. No passado, tínhamos de organizar constantemente eventos para manter as receitas e poder pagar aos nossos funcionários, devido ao maior tamanho da equipa.”

 

Um monstro que cura o coração das pessoas

 

Embora Gary goste de planear e organizar eventos musicais com os seus parceiros, ele gosta ainda mais de fazer música. “Ser capaz de escrever canções de que gosto faz-me sentir feliz e livre”, diz. Gary está integrado na cena musical há mais de dez anos. A sua banda também passou por momentos decisivos, como a mudança de membros da banda. Monster KaR lançou três álbuns e vários EPs. A banda conseguiu até que o famoso produtor musical britânico Frank Arkwright, que está envolvido na produção de bandas famosas como Coldplay, ajudasse a produzir o último álbum. As capacidades de produção e promoção da banda continuaram a amadurecer e tornaram-se mais profissionais ao longo do tempo. Mas o monstro fofo com um chifre foi sempre o símbolo da banda. O monstro não parece muito bonito, mas absorve as emoções negativas das pessoas, o que é algo que os Monster KaR esperam fazer pelo público. A banda quer curar o coração das pessoas com a sua música. “As nossas canções não farão ninguém sentir-se súper feliz, mas esperamos que elas ressoem junto do nosso público e o ajudem a liberar emoções negativas”, diz Gary, acrescentando começarão a gravar o quarto álbum no final do ano.

 

Paixão e vida

 

Há quatro anos, Gary publicou nas redes sociais um artigo intitulado Monster KaR Music Record: Uma Composição de 20 anos de Paixão pela Música, para reflectir sobre a sua jornada musical. Na verdade, a palavra paixão também pode ser usada para resumir a sua vida. Seja a fazer música, a criar designs gráficos ou recolher e vender mobiliário feito por designers famosos, todos os seus afazeres têm algo que ver com a paixão de Gary. “Se somos apaixonados pela indústria cultural e criativa ou pelas artes, não devemos pensar sempre no retorno que podemos obter do trabalho. É preciso pôr o nosso coração nisso”, conclui Gary. “E, claro, haverá altos e baixos, mas devemos continuar a a trabalhar nisso. E então construiremos gradualmente uma vida à volta disto.”