Posicionamento em Nichos de Mercado—Entrevista com o Designer Mann Lao

02 2017 | 19a edição
Texto/Yuki Ieong

“O sonho de qualquer designer é ter um estúdio próprio. Havendo centenas desses estúdios de design, é preciso pensar bem acerca do posicionamento no mercado e em como se pode competir com outros designers”, aconselha Mann Lao, Director Criativo e Executivo da Chiii Design Ltd., aos jovens designers.


Antes de terminar o curso universitário, Lao estagiou em várias agências de publicidade que fazem parte da American Association of Advertising Agencies (4A’s). Foi contratado pelo estúdio do mestre de design Tommy Li. Mais tarde, trabalhou em Hong Kong, no interior da China e em Portugal. Estas experiências ajudaram-no a enriquecer a sua exposição e feitos profissionais. Há três anos e meio, recusou trabalhos de empresas de design conhecidas para regressar a Macau e fazer avançar a sua carreira, onde apoia activamente jovens designers locais.


“Qualquer trabalho criativo tem de ter mercado, caso contrário, sem valor comercial, é apenas um objecto artístico. Se existir apenas enquanto objecto artístico e menosprezar o mercado, fracassará decerto em obter apoio e reconhecimento no mercado.” Lao enfatiza que o seu posicionamento é direccionado para o mercado. Enquanto estudava na universidade, trabalhou como estagiário em Hong Kong e Xangai, o que o ajudou a conhecer melhor e a ter novas perspectivas acerca da indústria do design. Estas experiências também alimentaram a sua determinação em seguir o caminho de trabalhar em “branding”.


“Tommy Li ensinou-me que o ‘branding’ não é design puro, é ajudar o negócio dos clientes a crescer. Aprendo muito mais sobre como usar o design visual para promover os negócios dos meus clientes.”


“Macau é um sítio que tem falta de design comercial, e espero abrir mais oportunidades, para que as pessoas possam apreciar melhor o design de Macau.” Lao é um verdadeiro pioneiro na defesa do design comercial local. Antes do seu regresso a Macau, outros avisaram-no: “Há imensas oportunidades fora de Macau. Não há necessidade de voltares a um sítio onde não há mercado suficiente para aquilo que fazes.” Ele confessa que, quando instalou o seu negócio, o mercado tinha uma necessidade substancial de design de exposições, de modo que todas as empresas que o contactavam estavam relacionadas com exposições. Contudo, ele decidiu focar-se apenas no branding, recusando todos os outros trabalhos. Hoje, tem clientes de todo o mundo, incluindo Canadá, Reino Unido e Estados Unidos.


Quando questionado sobre a visão que tem da sua profissão, afirma: “A maioria das empresas de design locais preocupam-se em seguir as instruções dos clientes e suspeitam dos designers locais.” No passado, as empresas de Macau só contratavam designers de branding de Hong Kong ou do interior da China. Quereria isso dizer que os designers locais só seriam procurados depois de terem experiência fora do território? Lao sente que os jovens designers não se deveriam preocupar demasiado com isto.


“No ano em que saí do estúdio de Tommy Li e regressei para encontrar trabalho em Macau, eu era um designer sem grande reputação. Como o mundo comercial nem sequer sabe quem é Tommy Li, a experiência que tinha do estrangeiro deu-me uma vantagem competitiva e novas perspectivas. Penso que os clientes se preocupam com esse tipo de experiência no sentido de que o meu conhecimento profissional se demonstra através do trabalho que faço, em vez de me aceitarem apenas por ter estudado ou trabalhado fora.”


“Em Macau, muitos jovens são bastante passivos e têm muito pouco sentido de urgência no que toca a procurarem oportunidades.” Para Lao, esta é uma preocupação no desenvolvimento de talento humano em Macau. Há algum tempo, foi convidado para dar palestras a alunos do primeiro ano do Instituto Politécnico de Macau. Nesse ano, focou-se em dar boas aulas, procurando despertar o interesse dos estudantes pela arte do design. “Independentemente do tema, sinto que há muito mais para aprender no mundo real do que na sala de aula. Como tal, o papel de um professor é sobretudo despertar o interesse dos estudantes por novo conhecimento, e guiá-los na busca das suas próprias respostas.”


Em Setembro passado, Lao procurou mais colaborações com empresas e organizou a Primeira Exposição Colectiva de Licenciados de Artes de Macau, convidando estudantes de arte de cinco instituições de ensino superior a participar. Isto atraiu muita atenção de institutos de design de Taiwan e do Japão, além de ter levado várias empresas a entrarem em contacto com alunos de artes de Macau em busca de oportunidades de colaboração. Segundo Lao, Macau tem a vantagem de ser uma cidade pequena, o que torna mais fácil a promoção da cultura e da criatividade. No entanto, o facto de todos se conhecerem no sector torna difícil fazer convites a alguém sem colocar em risco a relação com outros. Assim, esta exposição colectiva foi organizada sem financiamentos adicionais, e revelou-se um sucesso na abertura de muitas oportunidades para o sector, mesmo com um orçamento discreto.


No seu trabalho de promoção de talentos locais de design, Lao refere que muitos estudantes de design lhe disseram que já não estavam interessados em trabalhar na área. Isto sugere que o sector corre o risco de estar a perder talentos para outras áreas profissionais. “Para muitos destes jovens, trabalhar como designer parece ser duro, mas se desistirem antes sequer de tentarem, é decerto uma pena.” Actualmente, Lao trabalhar na organização de uma nova mostra colectiva. “A maioria das pessoas pensa que eu organizo isto para os estudantes mas, de facto, além de promover intercâmbios entre os alunos, outro dos objectivos principais é encorajar os professores de design a envolverem-se mais com os conteúdos da área.”


No futuro, Lao espera que o governo possa investir mais em cultivar talento. Algumas pessoas consideram que a promoção da educação em design é fútil, mas ele está disposto a fazer as coisas passo-a-passo. Lao sabe que a formação demora sempre tempo, mas compensa a longo prazo, quando Macau beneficiar de uma maior qualidade no seu design local. “O governo está sensibilizado para promover as artes e a cultura, mas devia fazê-lo a partir da fonte, prestando atenção à qualidade da educação. Não há atalhos para alcançar os mesmos resultados. Afinal, cultivar talento é uma corrida de fundo, uma longa maratona.”