Sharky Chen Perspectiva o Futuro do Mercado Editorial Chinês

12 2016 | 18a edição
Texto/Lei Ka Io

Sharky Chen, editor de Taiwan, fundou a editora independente CommaBOOKS em 2010. Trabalhando como presidente, editor e tradutor, Chen conseguiu ser bem-sucedido em estabelecer o seu negócio em Taiwan, mantendo uma posição forte num mercado competitivo com mais de 100 outras editoras. Em Setembro, Chen visitou Macau e partilhou a sua experiência com os leitores locais. “Há muita gente que, depois de saber que trabalho como editor, me pergunta se o meu trabalho é acima de tudo rever manuscritos”, diz Chen. “Isto revela que as pessoas não compreendem a natureza da edição.”


Chen compara o trabalho de um editor ao de um gestor de projecto, no qual a sua principal função é assegurar uma contínua e suave operação de produção de livros. Um bom editor deve ter conhecimentos sobre o negócio do livro, e será ainda melhor se dominar técnicas que garantam que os manuscritos estarão prontos antes dos prazos, e questões como as variedades de papel e as técnicas de impressão.


Ainda que o papel do editor seja nos bastidores, ele é na verdade o cérebro por trás de cada livro. O aspecto central do seu negócio é preparar o texto de um autor para que vá ao encontro dos leitores que pretende atingir. Segundo Chen, o público de um livro é como uma pirâmide, sendo que existem mais leitores para livros escritos em linguagem coloquial, e menos leitores para obras mais literárias, que envolvem um julgamento estético.


“Se se insiste em escrever pura literatura, é muito difícil que essa obra seja um grande sucesso de vendas. É importante que os autores tenham consciência disso, ou acabarão por sofrer muito.” Chen pensa que, quando um autor escreve, deve ter os seus leitores em mente. “Se um autor não sabe nada sobre os seus leitores, está na altura de ter uma conversa com o seu editor.”


Ele, mesmo autor de vários livros, Chen nunca edita as suas próprias obras. “Caso contrário, seria como ter a mesma pessoa a fazer de jogador de futebol e de árbitro.” Ele confia no seu editor para que possa criar um texto acessível aos leitores, e para que discuta com os designers sobre uma capa inovadora para o seu trabalho.


Por outro lado, a crescente popularidade das redes sociais tem gerado impacto nas vendas de livros. Chen explica que as diversas formas de meios de comunicação e entretenimento reduziram o apetite das pessoas por livros, o que fez com que os editores estejam menos dispostos a investir em impressões, por temerem as consequências de acumularem volumes não vendidos.


No futuro, os livros vão tornar-se mais caros, dado que o custo de cada cópia será mais elevado”, diz. Chen alertou para a compartimentação da informação, com os leitores a concentrarem-se apenas nos seus interesses particulares, e com autores emergentes a deixarem de conseguir atingir grandes níveis de popularidade.


Para novos escritores interessados em competir na arena literária, já não é possível esperar um caso de sucesso espontâneo com um bestseller. Em vez disso, eles devem desenvolver novas estratégias para si próprios. Entre estas, o Facebook é uma nova área para competir. Chen recomenda aos novos autores que criem a sua própria página de Facebook, onde podem publicar o seu trabalho e obter estatísticas sobre o número de “likes” e de tráfico partilhado. Além disso, podem buscar novas formas de expor os seus textos, e com esse processo envolver-se com os leitores de forma mais interactiva. “Deste modo, é possível aceder directamente aos leitores. Embora não se seja mais o escritor criativo, esta abordagem ajuda a fazer crescer as vendas. É essencial ter em conta os aspectos comerciais da produção de um livro.” Chen reitera a importância de os escritores perceberem estas estatísticas sobre o envolvimento dos leitores, para poderem criar trabalhos que tenham ressonância. “É preciso fazer com que os leitores sintam que estamos a falar para eles.”


Enquanto publicar um livro é um sonho de muitos autores, Chen assinala a realidade de ter de manter inventário não vendido, uma necessidade que vai contra a ideia romântica de publicar. “É inibidor pensar nas caixas e caixas de livros não vendidos que é preciso guardar!” Os bem-sucedidos programas de entretenimento em Taiwan também são um canal para os autores promoverem as suas obras, mas Chen realça que esses programas já não são tão influentes como antes. Em Taiwan, muitos autores estão interessados em tratar das suas próprias páginas de Facebook, de modo a criarem a sua própria imagem e posicionamento, assegurando a sua própria base de leitores fiéis e promovendo os seus livros.


A abordagem da edição independente é também um marketing estratégico da marca. Chen explica que, em termos de qualidade de edição e impressão, quase que não há diferença entre o mercado mainstream e a edição independente. A principal diferença reside no facto de os editores mainstream contarem com métodos tradicionais de marketing e promoção, como as livrarias e a propagação de banners e publicidades para captar a atenção dos leitores; enquanto os editores independentes estão mais interessados em estabelecer um posicionamento de marca mais claro, para poderem captar seguidores mais fiéis.


Em marketing, é essencial captar a atenção do mercado que se pretende atingir. Para alcançá-lo, o escritor e o editor devem trabalhar em conjunto e partilhar informações entre si, de modo a fazerem com que a publicidade ao livro chegue aos leitores pretendidos. Chen explica: “Por exemplo, se um autor está a escrever um livro sobre Pokemon, tem de conhecer os grupos influentes ligados ao Pokemon, ou celebridades que são grandes fãs de Pokemon, e informar o seu editor sobre isso. O editor pode ajudá-lo a explorar possibilidades de colaboração.”


Mais do que nunca, os ebooks também estão a tornar-se populares no mercado da edição. Chen está satisfeito por ver o crescimento do mercado dos ebooks, e até certo ponto o seu papel na substituição dos livros impressos. Ele explica que a facilidade de acesso aos ebooks através da internet reduziu drasticamente os custos de publicação, particularmente o custo do papel, se bem que os leitores podem não estar muito dispostos a aceitar esta mudança. “Depois de fazer a sua encomenda online, o leitor sente que deve experienciar a qualidade sensorial de um livro impresso, de modo a poder apreciá-lo correctamente.”


Além disso, os problemas de tecnologia ainda estão a dificultar as vendas de livros. “Em Taiwan, as vendas feitas por terceiros ainda são bastante primitivas, e é necessário introduzir os detalhes do cartão de crédito para comprar um ebook, o que é bastante problemático.” Outro factor inibitivo é a mentalidade conservadora dos editores. “Muitos editores de livros criam toda a espécie de obstáculos inibidores, tais como proibir os leitores de descarregarem documentos em formato ebook, ou fazer com que lhes seja impossível ler o texto noutro tipo de dispositivos. Estas medidas de segurança têm obstruído os consumidores desnecessariamente.”


Chen sugere que o futuro da edição passa por torná-la numa indústria mais orientada para os serviços, para que os textos publicados possam atingir mais leitores, e para que se possa lucrar com esses serviços. “Por exemplo, se eu decidisse escrever um livro sobre nutrição, abordaria restaurantes para procurar oportunidades de colaboração, para que os conteúdos do livro se pudessem tornar em produtos acessíveis. Deste modo, não acabarei também por conseguir lucrar com esta iniciativa?” Em resumo, Chen opina: “A cena editorial em Taiwan já é bastante madura, enquanto que uma actualização do mercado exigiria enormes recursos. Porujhytanto, todos nós deveríamos explorar alternativas de forma mais criativa.”