Da música e o design gráfico à moda–eis a experiência do estilo e a moda locais da Worker Playground

02 2016 | 13a edição
Texto/Yuki Ieong

Casacos de cabedal para motards e casacos de basebol são dois clássicos que nunca envelhecem no que toca à moda masculina. E são também os itens mais cobiçados de todas as colecções da marca local Worker Playground. O director criativo, Vincent Cheang, inseriu personagens do passado e coisas como um estádio dos operários e hidroaviões nos seus conceitos de design. No seu entender, a memória colectiva de qualquer época é exactamente como os casacos de cabedal: quanto mais velhos, mais charme têm.


A Worker Playground abriu em 2012, moldada a partir do conceito norte-americano de “street style” integrado com elementos locais da cultura de Macau. O nome da marca reflecte os sentimentos de Vincent Cheang face a Macau como um “worker’s playground” (uma espécie de parque de diversões). “O conceito evoca as memórias colectivas dos miúdos dos anos 80. Naquele tempo, a peça de vestuário mais na moda era o casaco de cabedal”, conta.


Foi por esta razão que Cheang decidiu usar os casacos de cabedal e os casacos de basebol como produtos de lançamento da marca. Desde que se estabeleceu, a Worker Playground tem colaborado com bandas locais e de Taiwan, e produziu vestuário exclusivo para o músico Jun Kung.


Durante a entrevista, Cheang mostrou-nos um casaco de cabedal para motards com a inscrição “Hac Ching Toi” (abreviação dos nomes chineses dados aos distritos da Areia Preita, Ilha Verde e Toi San), que tem um forte carácter de gangster. Cheang cresceu na zona norte e conhece bem os estilos de vida dos distritos mais a norte e mais a sul na cidade.


“Naquele tempo havia muitos gangsters na Areia Preta, Ilha Verde e Toi San, enquanto os distritos mais a sul preservavam o estilo colonial. Isso inspirou-me a usar os distritos da zona norte e da zona sul como linha divisória – a colecção da zona sul é acima de tudo feita de vestuário mais casual para homens, enquanto a coleccção da zona norte é mais “de rua” e com um toque de gangster”, conta.


Cheang é um grande fã da Harley-Davidson, mas a sua criatividade nunca se limita à cultura motard. Ele pode até acrescentar um certo estilo de Macau à “Nose Art” (pinturas nas laterais dos aviões, especificamente no nariz da aeronave). Nos anos 50, os transportes externos Macau faziam-se acima de tudo através de hidroaviões. Uma dessas aeronaves chamava-se “Miss Macao” e foi sequestrada pouco depois de descolar, tornando-se no primeiro avião a ser sequestrado desde a abertura de Macau. Cheang desenhou uma mulher deitada num avião, em estilo Nose Art, fazendo referência à “Miss Macao” na história da aviação com aquilo que parecia ser apenas um casaco de cabedal.


Cheang tem muitos anos de experiência em música e design gráfico, mas é novato no que toca ao fabrico de roupa. Passou três anos a explorar o processo de manufactura da indústria da moda, a estabelecer contactos, a avaliar fábricas e a recrutar uma equipa de design. Agora, tem veteranos com mais de 20 anos de experiência na sua equipa e é por isso que a qualidade da Worker Playground pode ser mantida enquanto é dada atenção aos detalhes. Cheang confessa: “É impossível para uma pessoa gerir todos os processos, que incluem padrões, selecção de materiais e cálculo de proporções. É crucial encontrar um bom mestre e não desistir mesmo depois da primeira ou segunda tentativa falhadas. É preciso mostrar seriedade dentro deste círculo. Exigimos que os mestres que colaboram connosco tenham um conhecimento profundo do processo e que percebam completamente as ideias dos designers. Tudo é melhor se trabalharmos com parceiros de longa data”.


Depois de estabelecida a marca, a Worker Playground abriu paulatinamente a sua primeira loja, mas encontrou outros desafios depois de estar a operar há algum tempo – como testar as preferências do mercado, como gerir o etoque e a venda a retalho é toda uma outra questão. A loja fechou depois de um ano a operar, mas a Worker Playground desenvolveu um novo modelo de vendas. Durante a depressão económica global de 2008, algumas marcas venderam os seus produtos com recurso a lojas pop-up, de forma a cortar nos custos. Por exemplo, contentores de mercadorias foram usados como frentes de loja ou espaços de exposição, colocados em diferentes locais por períodos curtos de tempo. Desde o ano passado, a Worker Playground está na Broadway (Galaxy), testando as preferências do mercado com recurso a uma banca de venda móvel. Mais tarde, Cheang trocou a banca móvel por uma misteriosa caixa preta, que representa melhor o estilo da marca. Tornou-se agora o símbolo da marca.


Na era do grande crescimento do comércio online, os desafios de gerir uma verdadeira loja aumentam constantemente. Cheang decidiu recorrer às lojas pop-up como principal modo de desenvolvimento. Além de Sanlitun em Pequim, está também a discutir modos de cooperação com marcas de Chengdu. “O emergir das lojas online está a ter impacto no comércio tradicional. Exibir produtos em lojas pop-up pode ajudar a cortar custos e fortalecer a afinidade com a marca. Uma frente de loja demasiado estilizada pode assustar os clientes e não conectar com eles”, diz Cheang.


Apesar de esta ser uma marca local, a maioria dos clientes da Worker Playground vem do interior da China. Cheang lamenta que as pessoas de Macau não possam ser consideradas como público-alvo para projectos culturais e criativos, por serem indiferentes à cultura e à criatividade, o que faz com que não dêem apoio. Cheang acredita que isto se deve parcialmente ao facto Macau ser afectado há muito tempo pelos meios de comunicação de regiões vizinhas, e dá como exemplos o entretenimento e a cultura pop das regiões que circundam Macau. Por isso, torna-se difícil reconhecer as marcas locais.


Cheang chegou a pedir subsídios nas áreas da cultura, criatividade e moda todos os anos, mas há sempre uma grande diferença entre o montante que pede e aquele que realmente recebe, desde que nas suas propostas a loja tradicional passou a ser substituída por uma loja pop-up.


Cheang considera que a cultura e a criatividade estão em constante mutação, e que por isso as autoridades competentes têm de acompanhar as tendências e evitar a rigidez. Com uma experiência de mais de 20 anos na indústria do design, Cheang diz que os departamentos governamentais são grandes clientes da indústria de publicidade e design. Infelizmente, com excepção de departamentos individuais responsáveis pelas artes culturais, a maior parte dos departamentos tem um entendimento relativamente desfasado das artes visuais, acabando por restringir a criatividade dos designers. Cheang acrescenta que as pessoas locais que estão ligadas à cultura e criatividade são principalmente amadoras e dependem do apoio dos seus amigos. Espera que a as autoridades evitem congratular-se cegamente quando promovem a indústria cultural e criativa, e em vez disso pensarem em formas de acompanhar o desenvolvimento internacional dessa indústria.