Intercâmbio no ecrã—Qual é o significado dos festivais de cinema?

08 2018 | 28a edição
Texto/Cleo Lei

O cinema, enquanto forma de arte, representa e integra a cultura. Muitos países e regiões têm investido muitos recursos para ajudar a fortalecer a sua indústria cinematográfica. Um festival de cinema que exibe recursos culturais regionais e uma panorâmica global é, sem dúvida, uma grande oportunidade para artistas da sétima arte de diferentes regiões trocarem ideias e experiências. Mas como podemos usar os recursos locais para criar uma melhor plataforma e um melhor ambiente para o desenvolvimento dos trabalhadores desse sector? Song Wen, produtor de Ira de Silêncio e fundador do FIRST International Film Festival Xining, e Chao Koi Wang, realizador local, partilham a sua visão sobre o significado dos festivais de cinema para os trabalhadores desse sector, a partir da perspectiva de quem faz filmes. 


Ter um vislumbre da indústria cinematográfica de Macau no festival


Na cerimónia de abertura do festival de cinema, Song referiu a sua impressão sobre o evento. Ele acredita que a principal característica do Festival de Cinema entre a China e os Países de Língua Portuguesa é que ele facilita um intercâmbio cultural, por conter filmes tanto da China como de países lusófonos. O público de Macau pode assistir a ambas as culturas no ecrã. “Inicialmente, a minha impressão acerca do sector do cinema em Macau era que ele tinha muitos elementos de entretenimento. Nos últimos anos, Macau tem aumentado o seu apoio a eventos de intercâmbio na área cinematográfica. Agora, cada vez mais realizadores da chamada geração millennial estão a mostrar uma forte vontade de produzir longas-metragens com uma estética literária. No FIRST International Film Festival Xining apercebi-me da sua presença”, afirma Song. 


“O festival de cinema mostra que o mercado de filmes em Macau tem um padrão elevado e único em termos de qualidade e géneros. O festival de cinema é muito útil para promover a cultura cinematográfica de Macau no mercado mundial e facilitar o intercâmbio cultural entre a China e os países de língua oficial portuguesa”, diz Chao. 


Proporcionar uma plataforma para jovens talentos na indústria cinematográfica


O valor dos festivais de cinema não reside apenas no facto de serem plataformas de intercâmbio cultural entre diferentes regiões. “É muito encorajador poder levar as nossas próprias produções a festivais de cinema. Os festivais são oportunidades para obtermos exposição e partilhar o nosso trabalho com o público em geral. Também podemos receber feedback profissional de veteranos do sector e trocar ideias com jovens talentos emergentes. Isto permite que o mercado veja o potencial dos realizadores em ascensão, o que é bom para a carreira destes e para o seu desenvolvimento sustentado”, explica Chao. “Aliás, muitos jovens cineastas precisam de uma plataforma pública onde se possam tornar conhecidos e ter uma palavra a dizer nesta forma de arte”, acrescenta Song. “Eles precisam de ganhar confiança enquanto artistas. Para a alcançar precisam de uma organização pública que lhes proporcione análises profissionais, as quais são reconhecimentos artísticos. Os festivais de cinema podem fazer isso por eles.” 


Construir uma Roterdão Asiática


“Escolhemos Xining porque está longe das zonas agitadas da China. A imagem da cidade coincide com a dos trabalhadores da indústria cinematográfica que precisam de se envolver em actividades de criação artística sérias”, explica Song, olhando em retrospectiva para o percurso que o FIRST International Film Festival Xining tem vindo a fazer. Macau é semelhante a Xining em termos de número de habitantes e de dimensão da cidade. O sector cinematográfico de ambas as cidades também partilha semelhanças na direcção do desenvolvimento. “Macau é uma cidade internacional onde o Oriente encontra o Ocidente. Também há muita arquitectura moderna e luxuosa na cidade. Isto torna Macau num excelente local de rodagem de filmes de diferentes géneros. Também possui espaços suficientes para acolher festivais de cinema, pelo que até se podia tornar a Roterdão da Ásia”, afirmam Chao e Song. 


Olhar para o futuro: mais possibilidades para o festival de cinema


“A principal tarefa que um projecto de longo prazo precisa de levar a cabo é identificar o seu posicionamento. As mostras e os festivais de cinema em Macau podem criar um sistema de análise e encorajar intercâmbios entre críticos da China e dos países lusófonos. Podem utilizar as políticas de apoio governamentais e criar feiras de investimento que fornecem aos trabalhadores deste sector os incentivos financeiros para melhorarem os seus trabalhos. Através disto, as mostras e festivais de cinema em Macau podem posicionar-se como plataformas de intercâmbio cultural para a China e para os países de língua portuguesa”, conclui Song. 


Chao revela que o seu novo trabalho foi financiado pelo governo de Macau e está agora na sua fase de preparação inicial. Ele aborda histórias de vida de pessoas comuns em Macau, esperando originar alguma reflexão sobre o valor de cada ser humano. Com o apoio do governo, Chao deseja que mais jovens talentos sejam inspirados a criar conteúdos de qualidade para contar as histórias de Macau ao mundo.