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Há muitas excelentes canções de Macau que são desconhecidas. Alguns dizem que é devido à falta de marketing, ou a insuficientes canais de disseminação. Não obstante, uma nova força veio de repente à tona: uma cantora tornou-se popular online com fotos estilizadas e telediscos em que aparece com a sua avó. Falamos de Kylamary, cantora e compositora de Macau.
A entrevista tem lugar num café. Quando Kylamary chega, está toda vestida de preto, com anéis e brincos metálicos bastante visíveis. Juntamente com a sua profunda maquilhagem, ela parece atraente mas inacessível. “Relaxa, muitas pessoas acham-me arrogante mas na verdade é apenas uma imagem. Posso falar sobre qualquer coisa”, diz-me, tocandome no ombro.
Além de sua imagem excepcional, Kylamary tem um estilo de música igualmente forte. No ano passado recebeu distinções “canção favorita” e “canção de ouro” na cerimónia de prémios organizada pela TDM, com a canção The Summoning, que tem um grande sentido rítmico. Este ano embarcou numa nova iniciativa. A promoção do seu trabalho Revolution inclui uma série de fotos com um estilo bastante único, de Kylamara e da sua avó, usando vestidos pretos, calças vermelhas com rachas e jardineiras de aparência jovem, tudo complementado por várias cenas requintadas. Tudo isto foi posteriormente utilizado num teledisco que recebeu comentários positivos e foi muito partilhado online. Foi um grande sucesso do ponto de vista do marketing.
“Escolher a minha avó como personagem principal adequa-se ao tema principal da canção. Vesti-la com roupas de luxo é um retrato da letra, que diz ‘viver a vida plenamente é o caminho certo; não há necessidade de lutar’. É sobre imaginar que desfrutamos a vida, seja qual for a nossa idade”, explica Kylamary.
Kylamary diz em tom de brincadeira que foi preciso um grande esforço para convencer a sua avó, que tem uma vida confortável em Coloane, a aceitar participar no projecto, para que o trabalho pudesse avançar sem problemas. “Por sorte, eu e uma amiga dissemos à minha avó que ela iria parecer exactamente como eu depois de a vestirmos. Acima de tudo a minha avó adora-me e foi por isso que disse que sim.”
Uma coisa é concordar em fazer algo, outra coisa é executá-lo. Um dos conjuntos de roupa escolhidos para a sessão fotográfica incluía calças vermelhas com rachas que mostram as pernas até acima do joelho. Naquele momento, a equipa achou que talvez fosse demasiada exposição para uma pessoa idosa. No entanto, a avó de Kylamary vestiu-as sem hesitação e irradiando confiança, para surpresa e admiração de todos.
Kylamary diz que a canção foi bem recebida devido à necessidade sentimental da sociedade. “Esta criação teve excelentes resultados e despertou ressonância no público. Depois de verem as fotografias e o teledisco, as pessoas começaram a pensar se não poderiam ser mais próximas dos seus familiares idosos. O ritmo da vida urbana é tão acelerado que coisas tão simples como o amor e as relações tornaramse preciosas. Portanto, a minha música tem como objectivo destacar os afectos familiares e insta o público a reflectir sobre as relações com as pessoas em seu redor.”
Kylamary começou para assinar contrato com uma editora discográfica de Macau, mas no começo deste ano tornou-se numa intérprete independente, gerindo os seus próprios espectáculos, a produção musical e tendo reuniões com clientes. Apesar de ter uma vida mais agitada, este formato ajusta-se melhor à sua personalidade, e dá-lhe mais espaço e tempo para criar livremente. A canção Revolution é um dos trabalhos de que se orgulha desde que se tornou independente.
“Muitas pessoas, quando olham para mim, pensam que sou cantora de uma banda Rock ‘n’ Roll ou algo do género. Certamente que isso faz parte de algumas das minhas criações, mas na verdade o que canto melhor são canções com alma, daquelas que fazem as pessoas chorar do fundo do coração. A minha cantora favorita é Sammi Cheng, de Hong Kong, e o seu lema é ‘causar impacto com a minha vida é também o principal estilo da minha forma de cantar e das minhas canções’.”
Durante um percurso em que ganhou por três vezes a competição musical da TDM, assinou um contrato com uma discográfica e recebeu formação em Hong Kong; e regressou a Macau para se tornar uma cantora independente, Kylamary pensou em desistir mais do que uma vez, mas decidiu ser persistente até agora, devido ao seu amor pela música e pelo canto. “Neste momento estou também a aceitar papéis de actriz em peças de teatro e curtas-metragens, já que quero que o meu desenvolvimento seja diversificado. No futuro espero poder planear os meus próprios concertos e produzir mais canções que passem nos meios de comunicação mais abrangentes durante um ano inteiro. Agora, a maior parte dos cantores de Macau fazem uma canção por ano para participar na cerimónia de prémios, mas eu não quero ser assim. Enquanto cantora, quero chegar mais longe.”