Van Gogh está vivo

08 2015 | 8a edição
Texto/Ng Kin Ling

Este ano marca o 125.º aniversário da morte do pintor holandês Vincent van Gogh. Pioneiro do expressionismo do século XIX, Van Gogh influenciou profundamente o mundo das artes no século XX através da sua obra. As obras-primas De sterrennacht (A Noite Estrelada) e Tournesols (Doze Girassóis Numa Jarra) tiveram um impacto internacional tão grande que continuam a ser fonte de inspiração para anúncios publicitários.


Van Gogh e a sua rica e colorida paleta influenciaram fortemente as artes do século XX. Após 125 anos, as suas obras continuam a percorrer o mundo de formas únicas e criativas. Um exemplo: Van Gogh vivia em Nuenen, uma vila no sul da Holanda que, por isso, é hoje conhecida como “Vila de Van Gogh”. A localidade está situada perto da cidade industrial de Eindhoven, o berço da empresa Philips, que começou a sua actividade com o fabrico de lâmpadas de filamentos de carbono. Todos os Invernos, era costume organizar-se uma exposição de equipamento de iluminação.


Por isso, quando a “Vila de Van Gogh” decidiu celebrar o 125.º aniversário da morte do pintor, convidaram um designer de iluminação para criar a “ciclovia de Van Gogh” numa estrada que faz a ligação à cidade. Ao anoitecer, as pessoas dirigiam-se ao local com as suas bicicletas e a rua era iluminada em tons azuis-claros, criando a imagem de estrelas a movimentarem-se no céu. De acordo com o designer, a ideia era reproduzir a imagem do consagrado quadro de Van Gogh, A Noite Estrelada. Os europeus não são os únicos que estão a prestar este ano homenagem a Van Gogh. A Grande Exhibition, na Austrália, organizou a exposição “Van Gogh Alive”, uma mostra multissensorial de arte, que já passou pelos Estados Unidos, Rússia e Israel, e que se encontra neste momento em Xangai e Pequim. Através de projectores de alta definição, várias imagens das pinturas de Van Gogh podem ser apreciadas numa parede de quatro metros de altura ou no chão por onde passam os visitantes. Desta forma, os espectadores têm oportunidade de andar por cima das pétalas dos girassóis de Van Gogh, criados há mais de 100 anos, de se aproximaram de uma beira-rio estrelada e centenária ou de percorrerem o caminho diante do café.


Para homenagear o pintor, vários locais estão a mostrar Van Gogh de forma inventiva, recorrendo à tecnologia e criatividade do século XXI. Devido ao seu reconhecimento nacional, o Museu Van Gogh, localizado em Amesterdão, capital holandesa, não precisou de pensar em projectos para a ocasião, mantendo confortavelmente o funcionamento apenas com a exposição dos quadros mais famosos de Van Gogh. As principais fontes de rendimento do museu são a bilheteira – o espaço recebe cerca de 1,5 milhões de visitantes por ano – e a venda de lembranças relacionadas com as pinturas de Van Gogh.


Porém, desde a erupção vulcânica na Islândia, em 2010, o número de turistas europeus decresceu drasticamente, levando a uma quebra dos lucros do espaço. O Museu Van Gogh acabou por perceber que não podia ficar parado e começou a estudar formas de gerar novas fontes de rendimento. Foi assim que se introduziram mudanças nos últimos anos.


O museu percebeu que cada vez mais pessoas estão a investir em obras de arte, embora muitos coleccionadores não saibam como organizar exposições, nem tenham conhecimentos sobre medidas de segurança, mesmo quando organizam uma mostra. Por isso, o Museu Van Gogh contactou museus privados para oferecer os seus serviços de consultadoria, disponibilizando especialistas internos para ensinar formas de gestão de obras famosas e introduzir sistemas de segurança. O Museu Van Gogh e um armazém comercial de obras de arte em Nova Iorque chegaram a assinar um contrato de três anos para o fornecimento de sistemas de controlo.


Nos últimos anos, o Museu Van Gogh também se envolveu no sector da educação, organizando cursos de finanças aplicadas à arte em conjunto com as escolas de gestão da Universidade de Tilburg e da Universidade de Tecnologia de Eindhoven, na Holanda. Além disso, o museu também apostou no mercado chinês, realizando cursos de mestrado na área das artes e das finanças e introduzindo a disciplina de “Gestão de Empresas Culturais” em cursos de MBA.


A vida deste pintor genial foi uma tragédia – sofreu perturbações mentais, cortou a orelha e acabou por se suicidar. Mas se soubesse que todo o empenho depositado nas suas obras está a conduzir ao florescimento actual das indústrias criativas globais, talvez pudesse finalmente sorrir de satisfação.