James Chu

Dedica-se, há cerca de vinte anos, à criação artística e à administração cultural, em Macau. Foi galardoado com mais de 50 prémios em concursos locais e internacionais de arte e design, publicando mais de 300 artigos em revistas e jornais.

Uma análise da Feira Internacional de Arte de Macau ART-MO

2a edição | 02 2015

Dos 30 milhões de turistas que entram em Macau, deve haver algum interessado em investir em arte. Os meus amigos estrangeiros sempre me perguntam se esses visitantes contribuem para o mercado de arte em Macau mas, para mim, essa ideia está fora de questão.


A um mar de distância de Macau, Hong Kong é o terceiro maior mercado de arte do mundo, em particular de arte contemporânea. Leiloeiras de renome, por exemplo a Sotheby’s, a Christie’s e outras, conquistam, repetidamente, novos recordes de leilões; e a Poly Auction do Interior da China também marca presença em Hong Kong. Um sistema jurídico consistente, serviços de qualidade profissional e eficientes, para além da política de isenção fiscal são as chaves para o sucesso de Hong Kong no que respeita ao desenvolvimento do mercado de comercialização de arte. Singapura tem tentado roubar o lugar de Hong Kong neste tipo de mercado, mas até hoje todos os seus esforços têm sido em vão. Cidades como Pequim, Xangai, Taipé e Seul entraram no mercado da venda de arte há apenas algumas décadas e são incomparáveis a Nova Iorque ou Londres, já para não falar no caso de Macau, cujo atraso é ainda mais relevante. Nos últimos anos, muitas instituições têm tentado desenvolver o mercado de arte em Macau e, juntamente com os esforços do Governo, foi já possível organizar uma série de exposições de arte nos últimos três anos, em particular a ART-MO, que está entre as maiores em escala e nível de qualidade.


A ART-MO realizou-se pela primeira vez em Macau em 2013, com o título inglês The 1st ART MACAO™. Na sua segunda edição, em 2014, foi rebaptizada para ART-MO, de forma a obter uma marca mais clara. A segunda edição realizou uma série de aperfeiçoamentos em termos de organização, por exemplo, a instalação de stands para expor relógios topo de gama e a melhoria da qualidade das galerias participantes. Além do director Zhao Li, a ART-MO contou com o apoio de Dong Mengyang, director da Feira de Arte Contemporânea de Pequim, e Pyo Mi Sun, presidente da Associação de Galerias da Coreia do Sul e da Galeria PYO para atrair, de forma mais eficaz, galerias com maior qualidade a participarem no evento.


A inovação mais importante da segunda edição foi a parceria com as publicações Bazaar Art e Artron para a divulgação do evento. Ambas têm enorme influência no círculo artístico chinês e dedicam-se especialmente à promoção de exposições de arte.


O governo de Macau tem vindo a promover activamente as indústrias culturais e criativas nos últimos anos. As artes visuais foram em tempos a principal prioridade do Instituto Cultural, mas acabaram substituídas pelos filmes, a moda e a música pop devido à ausência de políticas de apoio relevantes. A boa notícia é que as artes visuais têm beneficiado de várias medidas reais relacionados com a indústria de convenções e exposições, que também estimularam o aparecimento da ART-MO. Infelizmente, os departamentos em causa não aproveitaram esta oportunidade de desenvolvimento da arte em Macau, prontamente renunciando a este evento de alta qualidade com a assinatura ART-MO. Muitos estrangeiros ainda têm uma noção errada de que o Governo apoia o desenvolvimento do panorama artístico com as receitas dos casinos, o que é realmente um tanto irónico.


Apoiado por abundantes recursos financeiros, o organizador da ART-MO cedeu gratuitamente alguns stands a associações de arte de Macau e a artistas individuais, sendo, por isso, uma empresa estrangeira conscienciosa. Se a ART-MO se mantiver, tornar-se-á o maior evento de arte em Macau, independentemente das receitas. Na verdade, muito pode ser feito pelo governo para apoiar o desenvolvimento do mercado de arte de Macau e ajudar os artistas locais a explorar mais oportunidades. Tendo em vista a posição dominante e insubstituível de Hong Kong, como se deveria Macau posicionar? Acredito que o presidente do Instituto Cultural, com o seu passado de artista, irá perceber o que Macau tem para oferecer. Por exemplo, na última ART-MO, não muito longe da área onde se exibem obras de Li Peng, de Cantão, pudemos ver uma série de trabalhos fotográficos sobre o movimento Occupy Central, de um fotógrafo de Hong Kong. Tal sincronismo não seria possível no Interior da China.


Quando auxílios financeiros e políticas favoráveis ajudam a atrair compradores a Macau, o negócio passa de imediato para as mãos de estrangeiros, deixando os artistas de Macau sem oportunidades. Quem deve ser responsabilizado por isso?