Sharky Chen

Editor-Chefe da Editora Comma Books

Uma voz que se ouve: as edições de autor em Taiwan

3a edição | 03 2015

A liberdade de expressão e a elevada competitividade do mercado fazem com que Taiwan se esteja a afirmar qualitativa e quantitativamente no mundo editorial de língua chinesa. Embora a indústria editorial de Taiwan apresente em geral uma queda de vendas, as editoras locais continuam a publicar uma série de novidades nos mais variados géneros literários. A cena editorial taiwanesa é intensa e as várias publicações competem umas contra as outras nas diferentes livrarias.


Enquanto as edições de autor de livros electrónicos estão em grande ascensão na Europa e Estados Unidos da América, escritores amadores de Taiwan entram no mercado com uma variedade impressionante de publicações. A edição de autor costumava ser um processo muito difícil, trabalhoso e implicava grandes somas de capital. Em Taiwan, a indústria emancipou-se – desde a edição e design, até à impressão e ao marketing (algumas empresas até fornecem serviços directos de outsourcing). Com a possibilidade de publicar digitalmente os manuscritos e com o crescimento das livrarias independentes, muitos escritores amadores acabam por se juntar às fileiras de autores a publicar os próprios livros.


Hoje em dia, com o crescimento do número de editoras e o acesso fácil aos motores de busca da internet, os leitores já não precisam de se restringir aos títulos de uma determinada editora, como acontecia no passado. As edições de autor, pelo contrário, permitem aos leitores seguir ou coleccionar com regularidade as obras publicadas. Mas, na realidade, este fenómeno tem muito que ver com as próprias limitações deste tipo de edições independentes.


O que torna as publicações de autor tão diferentes das tradicionais é a falta de recursos. Como estes editores precisam de vários empregos para ganhar a vida, acabam por não dar conta de todo o processo de marketing – grande parte pode contar apenas com a internet e poucos conseguem organizar material promocional ou expositores especiais para as livrarias. A utilização permanente das redes sociais não só permite a estes editores destacar os pontos fortes das suas obras, como também permite aos leitores ter acesso a artigos sobre os bastidores da produção de uma obra. A internet junta leitores de diferentes pontos geográficos, faz com que se tornem seguidores devotos, com poder de compra elevado e com capacidade para discutir o que está a ser publicado. Como estes “auto-editores” têm uma relação muito próxima com as comunidades virtuais, quem os lê são habitualmente jovens utilizadores regulares da internet. Isto faz com que os editores independentes sejam diferentes dos tradicionais.


O sucesso destas edições de autor entre a comunidade jovem pode não significar recordes de vendas, mas o crescimento estável deste tipo de obras tem permitido que determinados géneros se destaquem. Por isso, algumas das principais lojas online e redes de livrarias começaram a prestar atenção a estas edições e, por vezes, incluem alguns dos títulos nas suas recomendações literárias mensais.


A falta de recursos é o pior dos problemas destes autores. Com pouca exposição mediática, não têm capacidade financeira para organizar dispendiosas acções de vendas como seria uma feira internacional de livros. Há quatro anos, quatro editoras independentes (Alone Publishing, Homeward Publishing, Hong Kong’s Click Press, e Comma Books – fundada pelo autor deste artigo) lançaram a iniciativa conjunta “Ler e Viajar” durante a Exposição Internacional de Livros de Taipé (TIBE). Apresentando-se como a “feira do livro das feiras dos livros”, a exposição de média dimensão foi um êxito, já que conseguiu que as edições de autor começassem a marcar presença física nas estantes das livrarias. A exposição tem um tema diferente todos os anos (por exemplo, terminal de aeroporto, estação retro, um pequeno universo ou tribos étnicas) e tornou-se no principal evento da Feira Internacional do Livro de Taipé, que se realiza anualmente, atrai a participação de vários editores independentes de Hong Kong e do Interior da China, e fecha com vendas superiores a um milhão de dólares taiwaneses.


Quando o mundo das edições de autor ganha força, não se torna apenas comercialmente viável, mas traz profundas mudanças ao mercado editorial. Há dois anos, as editoras Comma Books Publishing House e Alone Publishing lançaram a sua primeira colaboração de marketing para a publicação de obras em diferentes plataformas (cross-publishing). O êxito da iniciativa, baptizada “Projecto Meia-noite em Paris”, fez com que a indústria taiwanesa começasse a estudar as possibilidades deste tipo de cooperação. O projecto veio demonstrar que, quem trabalha nesta área em Taiwan, não quer apenas partilhar os recursos que tem, mas ajudar-se mutuamente e trocar ideias.


Quando entrar numa livraria em Taiwan, não tenha problemas em pedir aos funcionários que sugiram alguns nomes de edições de autor. Leia essas obras e fique a saber em primeira mão como é que as diferentes vozes de uma sociedade são expressas através destas publicações. Na minha opinião, as edições de autor, com uma tiragem reduzida, podem ser a melhor recordação para trazer de uma viagem a Taiwan.