Agnes Lam

Professora Associada da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade de Macau. Poetisa e Comentadora de Actualidade Informativa.


Ruas antigas, perspectivas novas

6a edição | 06 2015

Onze anos após a morte do letrista de música cantopop James Wong Jim, ainda é possível sentir a sua presença e influência entre nós. Recentemente, o letrista ressuscitou em Walk in James Wong: A Re-tour of Sham Shui Po, uma visita guiada organizada pela empresa Walk in Hong Kong. Ao visitar os lugares onde Wong cresceu, os caminhantes têm a oportunidade de ver como Hong Kong mudou ao longo dos anos.


Apesar de a visita guiada ser um pouco cara, está sempre esgotada. O sucesso deste passeio sugere que visitas guiadas históricas, culturais, artísticas ou comunitárias estão a ter uma crescente procura em Hong Kong e são já muito populares em outras partes do mundo. O que torna estas visitas tão especiais é que, em vez de passear pelas principais atracções turísticas, o público é levado a experimentar a vida local e a conhecer negócios familiares, becos, bairros residenciais, etc. O dia-a-dia das comunidades locais tornou-se num activo cultural com elementos educativos e de lazer.


Algumas agências de viagem nos Estados Unidos da América conseguiram combinar de forma perfeita o turismo com o cinema—um dos mais importantes activos culturais do país. As visitas guiadas baseadas nos filmes de Hollywood são apenas do mais básico que há, se comparadas com os passeios organizados pela Dearly Departed Tours, uma agência de viagens sediada em Los Angeles. A visita guiada épica desta empresa, Tragical History Tour, leva turistas às casas e locais em Hollywood, Beverly Hills e Sunset Strip, onde celebridades morreram. A Horror Film Location Tour e excursões por locais onde ocorreram célebres homicídios também são das escolhas mais populares. Os turistas ainda podem optar pela visita Ghosts & Legends Walking Tour e vislumbrar locais assombrados e cenas de crime, acompanhados por talentosos actores/guias que vão mascarados de personagens de histórias de terror. Desde 2012, a agência de viagens expandiu o negócio e abriu a Dearly Departed Gallery na Sunset Boulevard. Os visitantes podem encontrar memorabilia de famosos já falecidos ou brindes criativos, como porta-chaves de quartos de hotéis assombrados.


Do outro lado do Atlântico, em Londres, algumas visitas são divertidas e promovem a consciencialização social. Há cinco anos, um grupo de voluntários que trabalhava com sem-abrigo teve a ideia de dar formação a estas pessoas para se tornarem guias turísticos, já que ninguém conhece as ruas como elas. Foram então estabelecidas as Unseen Tours, que oferecem passeios únicos por Londres guiados por (ex) sem-abrigo. Os turistas não vão ver bairros de lata, mas uma grande cidade através de outra perspectiva, e descobrir a arte de rua e a “credibilidade de rua“. O negócio das Unseen Tours vem subverter e desfazer a dinâmica tradicional de poder, capacitando aqueles que não têm nada para liderarem e guiarem aqueles que têm, ou seja, aproximando mutuamente estes dois grupos da sociedade.


E Macau? Depois do jogo, o turismo é a indústria mais importante da cidade. O centro histórico de Macau, com mais de 400 anos, tem um rico património cultural, que é ideal para o desenvolvimento das indústrias criativas e do turismo cultural. As agências de viagem anteriormente mencionadas podem servir de inspiração a Macau. São empresas culturais ou sociais auto-sustentáveis e não dependem de contribuições filantrópicas ou de subsídios. A chave para o sucesso é combinar turismo com activos culturais, incluindo alguns elementos de beneficência social sempre que for possível, para depois apresentar os elementos únicos da cidadeatravés de formas criativas.