Cheong Sio Pang

Cheong vive em Pequim, trabalha em investigação académica e gosta de escutar música clássica. As suas publicações incluem An Oral History of the Concert Band in Macao. Ele é também o autor de Macau 2014 – Livro Musical do Ano e Macau 2015 – Livro Musical do Ano. Cheong adora aprender.


Fora das Normas na Arte Contemporânea

21a edição | 06 2017

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Black Friday de Sophia A1-Maria


Se estiver agora em Pequim, não perca a exposição “The New Normal: China, Art, and 2017″, em exibição até 9 de Julho no Centro Ullens para a Arte Contemporânea, no Distrito Artístico 798. A mostra reúne obras de 23 artistas e grupos chineses e estrangeiros que recorrem à arte como um meio para explorar o “estado de excepção” sob as constantes mudanças do ambiente e do escrutínio político. Em contraste com o “normal”, o “estado de excepção” ilustra como os criadores concebem formas artísticas para lá das normas, o que constitui uma pedra angular da exposição. Tendo passado por um período de desenvolvimento nos últimos anos, o Distrito Artístico 798 afastou alguns artistas devido à sua crescente reputação e comercialização. Neste contexto existe, contudo, um centro de exposições que permanece totalmente comprometido com a arte, o Centro Ullens para a Arte Contemporânea, que causa uma óptima impressão. O que torna a arte contemporânea interessante é a forma como o público é cativado e atraído pelos significados por detrás das criações artísticas, a despeito da sua aparente falta de valor comercial.


“Black Friday”, de Sophia Al-Maria, explora a evolução do estilo de vida e do valor dos residentes no Golfo Pérsico na sequência do impressionante desenvolvimento urbano e económico das últimas décadas, bem como os desafios impostos às tradições e à história da região. Os enormes centros comerciais são como templos seculares do capitalismo para as pessoas desta era de consumismo. Sendo um vídeo com imagens de centros comerciais e igrejas majestosas, “Black Friday” mostra a evolução da fé humana, da busca da religião no passado ao materialismo do presente, em que o maior valor da Humanidade se consubstancia no pragmatismo, por entre a marginalização do idealismo. Enquanto o vídeo emprega técnicas dos filmes de terror para sublinhar a sua ambiência surrealista, o movimento para trás de espectadores em duas escadas rolantes, no início e no final do trabalho, coloca uma questão do ponto de vista céptico da artista: estará o avanço do capitalismo a representar a degradação da Humanidade?


“Messiah – Fusion Dream of < J > < Z-772 > < 5 >”, de Gao Lei, apresenta as suas reflexões exaustivas sobre o processo político contemporâneo. O fluxo de líquido que sai de uma bacia de metal colocada no canto superior direito do pavilhão para uma seringa através de uma pistola de água de alta pressão simboliza as enormes pressões decorrentes da convergência da opinião pública. Este processo, que transforma o conhecimento em geral no valor derradeiro, pode desintegrar a pistola de água e a seringa. Nas imediações desta instalação, há uma caixa de metal com cinco gavetas, que representa os cinco dias úteis da semana, cercadas com arame farpado para sublinhar as restrições da vida humana. As gavetas não podem ser abertas devido às regras estabelecidas pela Humanidade, o que destaca os dramas e conflitos da existência. Seguindo um corredor em frente à seringa, é possível encontrar uma porta dourada, que representa o poder. Este conjunto de instalações remete para os desejos e ameaças sentidos pela Humanidade, bem como para o novo poder resultante da revolta. Num contexto contemporâneo, este trabalho prenuncia as enormes mudanças nas normas induzidas pelos valores sociais caóticos.


A arte contemporânea permite interpretações profundas das obras, o que a torna interessante e altamente experimental, quando expressões artísticas servem como desafios para diferentes aspectos na vida real de uma forma que se assemelha ao relacionamento entre um muro alto e um ovo que se parte ao embater nele. Reflectindo os problemas da vida real, a maioria das peças de arte contemporânea contraria o status quo com visões viradas para o futuro. As peças da exposição “The New Normal: China, Art, and 2017″, por exemplo, expressam inequivocamente a sua contradição face ao mundo real. Ainda assim, a arte contemporânea levanta várias questões, como a inexplicabilidade do trabalho artístico e a partir de que momento é que alguém se torna artista. A elevada liberdade de criação conduz também à proliferação das artes. A resposta para as questões passa por permitir que instituições de arte credíveis avaliem a capacidade dos artistas e seleccionem os trabalhos, garantindo a aceitação pública de peças de arte contemporânea de elevada qualidade.