Recentemente, um grande acontecimento foi notícia na cena artística de Macau: depois de alguns anos de preparação e testes, a Cinemateca • Paixão foi finalmente inaugurada. Esta iniciativa do governo, apoiada pelo Instituto Cultural e gerida pela Cut Lda., apresentou um conceito inovador, oferecendo a amantes do cinema e a intelectuais um fascinante espaço de entretenimento. A cinemateca é composta por uma sala de cinema com 60 lugares, um pequeno arquivo multimédia de documentários, livros e revistas sobre cinema, um espaço térreo (onde fica localizada a bilheteira e uma zona para pequena exposição no dia de abertura), e um pequeno pátio no piso térreo. O tempo dirá se e como pode esta cinemateca cinematográfico ser potenciada para tornar-se num espaço excitante e criativo para programas e actividades artísticas.

A plataforma global de partilha de vídeos YouTube lançou recentemente o seu serviço pago, a YouTube TV, um serviço que integra vários canais pagos de TV numa única plataforma de transmissão contínua. Mesmo no seu período inicial, oferece mais de 40 canais directos, cobrindo notícias, séries de TV, programas de lifestyle, entretenimento, desporto e programas para crianças. Os assinantes podem ver estes conteúdos nos seus dispositivos móveis, no computador ou mesmo na televisão. Para aqueles que têm restrições de tempo, é possível guardar os programas numa nuvem virtual de armazenamento de dados para que possam ser vistos a posteriori. Estes avanços tecnológicos dos sistemas multimédia vieram mudar profundamente o nosso dia-a-dia e, seria escusado dizer, os nossos padrões de consumo de entretenimento. Actividades que tomávamos por garantidas – como ver filmes no cinema ou assistir a programas de televisão no conforto das nossas casas – devem provavelmente passar por mais mudanças num futuro próximo.

Imaginem como seria quando um dia regressassem a casa depois do trabalho e o ecrã da vossa televisão tivesse a seguinte mensagem: “Uma versão HD do êxito de bilheteiras Avatar está pronta para download por apenas MOP 10″. A sua sala de estar ter-se-ia transformado de repente numa sala de cinema. Ou imaginemos que lhe apetece ver um certo filme produzido há algum tempo, que não está disponível nos cinemas (devido ao número limitado de sessões). Também não é possível comprar ou alugar esse filme em DVD. A única coisa que tem de fazer é aceder uma determinada plataforma de partilha de vídeos a partir do seu telemóvel, tablet ou mesmo da sua TV em casa, encontrar e fazer o download (grátis ou por uma pequena quantia) do filme que quer ver, a partir de um arquivo de milhares de filmes e directamente para o seu dispositivo. Nesse momento irá perceber que um cinema pode acontecer em qualquer lugar.

De facto, não é improvável que no futuro a forma tradicional de “cinema” desapareça. Por um lado, o cinema tornar-se-á acessível a toda a gente, ou será de facto uma instituição que fica na porta ao lado. Por outro, formará parte das redes sociais e do entretenimento. Quer decida ir a uma grande superfície comercial para desfrutar de um filme 3D ou 4D em sala; ou quer escolha ver um bom filme e passar uma tarde de lazer com amigos numa instituição como a Cinemateca • Paixão, a ideia de “filme” irá alterar-se e tornar-se mais presente e embrenhada no seu quotidiano.

Em breve, o acto de entrar num cinema para ver um filme irá tornar-se um privilégio de um pequeno e exclusivo nicho de mercado, do mesmo modo que as livrarias já não são lugares para vender livros. Considere por momentos que um cinema não será mais um lugar para a projecção de filmes, mas um espaço de lazer para ser desfrutado em privado, bem como para que se possam partilhar e apreciar intercâmbios artísticos. Irá passar de uma infra-estrutura singular de hardware para um software de lazer. A importância da Cinemateca • Paixão reside no facto de oferecer uma forma de testar estas novas ideias. Não só servirá de pólo para os amantes de cinema, como nos ajudará a perceber as tendências futuras, mostrando-nos de que modo os filmes podem estar cada vez mais integrados no nosso quotidiano.