Joe Tang

Vencedor do Prémio Literário de Macau e o Prémio de Novela de Macau, Joe Tang é escritor e crítico de arte. Assinou vários romances, incluindo The Floating City e O Assassino, traduzidos para Inglês e Português. Publicou também peças de teatro, entre elas Words from Thoughts, Philosopher’s Stone, Journey to the West, Rock Lion, Magical Monkey e The Empress and the Legendary Heroes.


Uma cidade que não permite a sobrevivência de livrarias

18a edição | 12 2016

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Aqueles que gostam de livros já tinham antecipado que a livraria independente Pin-to Livros acabaria por ter de sair do agitado centro da cidade. Seja como for, é notícia triste. Esta livraria, situada ao cimo de uma escadaria, foi fundada em 2003 por vários amantes de livros. O que fez com livraria atraísse atenções foi provavelmente a sua excepcional localização, no Largo do Senado, bem no centro de Macau. Hoje parece inacreditável mas naquela época a economia de Macau estava em extrema necessidade de um novo incentivo. O mercado de arrendamento não era o mesmo que temos agora. As rendas ficaram fora de controlo durante os últimos dez anos. Lojas antigas ou lojas que não estão vocacionadas para turistas foram vendidas, fechadas ou obrigadas a mudar de localização, uma a seguir à outra, não apenas na zona do Largo do Senado, mas também noutros bairros de Macau. A sobrevivência da Pin-to Livros tornou-se por isso uma preocupação para os leitores e amantes de livros locais. Em Setembro, a livraria anunciou que teria de mudar para outro local. O seu destino foi selado mais tarde do que seria de esperar, mas na verdade não foi uma surpresa.


Negócio é negócio, e a flutuação de renda no mercado de arrendamento não é nada de especial. Gerir uma livraria não é propriamente um negócio rentável e este tipo de estabelecimento torna-se normalmente numa “vítima” do mercado imobiliário. Uma livraria (especialmente uma livraria independente), não importa quão comercial seja a sua gestão, não é meramente um negócio. Uma série de países e regiões têm uma variedade de políticas, medidas e até leis para acolher e proteger pequenas e médias livrarias, porque as livrarias são consideradas activos culturais nessas sociedades. Os livros, especialmente aqueles escritos por autores locais ou sobre temas locais, podem fazer da “cultura” invisível ou intangível um produto ou uma imagem tangível. Tornam-se numa rede forte e complicada que liga pessoas locais e estrangeiras que têm gostos comuns, e comunica a história social, as tradições e a cultura desses públicos.


Não importa se no comércio tradicional ou no comércio online, altos custos de capital e competição forte tornaram-se a norma. Uma livraria tradicional tem uma desvantagem “inata”: não é um negócio muito rentável e não pode fazer dinheiro rapidamente. Tendo dito isto, também é verdade que uma série de lugares no mundo tem novos modelos de gestão que podem ser uma boa referência para nós. O modelo combinado de “indústria+livraria”, que junta uma área comercial ou residencial com uma livraria, é apenas um dos exemplos. A livraria é usada como “marca cultural” para o espaço comercial ou residencial. Uma livraria com estilo pode tornar-se um ponto de encontro de literatos e hipsters com interesses comuns, e reforçar a ambiência cultural de qualquer edifício. Acabará por dar mais classe a esse espaço e por acrescentar-lhe valor. Cada vez mais promotores imobiliários compreendem o valor da cultura e estão dispostos a arrendar espaços para livrarias a preços mais baixos, porque são capazes de ver os valores que derivam das indústrias culturais. A livraria Eslite expandiu-se de Taiwan para Hong Kong e depois para o interior da China. As livrarias Owspace, Yanjiyou e Sisyphe são livrarias situadas em distritos financeiros do interior da China. Tornaram-se não apenas espaços urbanos culturais reconhecidos pelos leitores, mas também serviram para fazer crescer os gostos culturais e o valor dos espaços comerciais.


Na verdade, a “cultura” é tratada como um importante factor de competitividade por certos empreendedores vocacionados para o lucro, uma vez que vêm percebendo gradualmente o seu potencial. A cultura também se tornou num elemento chave do “planeamento estratégico” de uma série de cidades, e até a nível nacional. Agora, olhemos para Macau. A Pin-to Livros e outras pequenas e médias livrarias têm tanta dificuldade em encontrar um espaço para arrendar na cidade, e não podemos apenas culpar a hegemonia dos promotores imobiliários. Uma livraria é como uma máquina de raio-X. Faz uma radiografia da significância cultural, dos seus potenciais valores e possibilidades para a cidade, e revela que Macau não está esclarecida nem pronta para colher estes bens.