Sio Ng

Escritora de viagem, conhecida em Hong Kong, Macau e Taiwan, criadora em vários campos e professional especializada em cinema, literatura e organização de eventos. Ng percorreu uma distância equivalente à metade da circunferência da terra e por volta de seis continentes e quarenta países sozinha. Publicou “The Heart’s Freedom Lies in the Sky” em 2017, que foi publicado em Hong Kong, Macau, Taiwan e na Malásia.


Publicar livros é fácil, difícil é vendê-los

24a edição | 12 2017

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Hoje em dia não é difícil publicar um livro. Para quem tenha uma profissão particular, uma história fascinante ou uma multidão de fãs, facilmente se escreve livros com títulos como Receitas Anti-Cancro, Consequências do Terceiro Divórcio ou Dicas da Rainha da Maquilhagem, até poderá haver variadas editoras a abrirem-lhe automaticamente a porta. Nesta era, há sempre falta de conteúdo, mas contraditoriamente existe informação gratuita por todo o lado. Por esse motivo, a venda de livros torna-se uma tarefa bastante difícil. 


Com base na minha própria experiência de publicação, apresentarei e compararei as dificuldades e facilidades neste âmbito entre Macau, Hong Kong e Taiwan. 


Em Macau, todos os anos se realiza um elevado volume de publicações, apesar de não existirem muitas editoras. Como muitos livros são projectos deassociações, com acesso a subsídios por parte do governo, a publicação é extraordinariamente simples a nível de financiamento. Todavia, em muitos casos, após os livros chegarem às prateleiras, as editoras e os autores não se angustiam com o volume de vendas nem se preocupam com a localização do livro dentro das livrarias, ou até mesmo se o livro já apareceu efectivamente no mercado. Eu creio que isto não faz nenhum sentido. Independentemente de criar lucro ou não, não se pode pôr de lado um livro após a sua publicação. Há que criar uma multiplicidade de oportunidades para que os leitores leiam cada uma das palavras em que verti o meu coração. Há alguns anos, a nossa organização sem fins lucrativos, "Associação dos Criadores de Macau", lançou uma obra intitulada Capítulos Intitulados (Untitled Chapters). Após a publicação, para além de despachar a obra para venda em estabelecimentos locais, procurámos também canais de venda em Hong Kong, Singapura e Taiwan, enviando para fora cinco ou dez exemplares cada vez. À venda de cada livro foi cobrada uma taxa de consignação de 30 por cento. Deste modo, é evidente que não conseguimos produzir lucro, estávamos apenas a lutar por uma oportunidade de exposição e uma verdadeira experiência de marketing. Nesse ano, embora tivéssemos obtido apoio financeiro do governo, os subsídios chegavam apenas para cobrir os custos de impressão. Caso possuíssemos mais fundos, decerto teríamos pedido ajuda aos profissionais do sector de Taiwan para ajudar a divulgar o livro no exterior, sendo que a promoção requer intervenção profissional e especializada. Na verdade, não é possível que mantenhamos um crescimento constante ao bater à porta das livrarias e enviar-lhes exemplares por nós próprios. 


Hong Kong possui uma indústria editorial completa. Todos os anos, novos livros chegam às prateleiras. No entanto, actualmente, muitas das obras publicadas não têm como objectivo a venda. Qualquer pessoa pode lançar um livro desde que seja uma celebridade, quer real quer virtual, mesmo não sabendo escrever. Muitas editoras não dão importância à qualidade do conteúdo, só se interessando em imprimir um livro o mais rapidamente possível, de preferência com muitas imagens e pouco texto e a par das tendências do dia, de modo a atrair os olhares dos leitores. Cada vez mais autores escrevem com o simples intento de se afirmarem, porque, como todos sabem, pouca gente tem a vontade de comprar livros em Hong Kong. No passado, tive a oportunidade de firmar um contrato com uma editora de Hong Kong. Porém, exigiam que cortasse da minha história de viagem por meio planeta e três continentes as partes sobre a América do Norte e a Europa, escrevendo apenas sobre a América do Sul. Pediam também que limitasse o número de caracteres e terminasse a escrita do livro em três meses. A contrapartida dos direitos autorais seria somente de quatro por cento e só se pagaria quando terminada a venda. Além disso, o editor disse-me francamente que na feira do livro, a venda de 200 a 300 exemplares de um livro era já considerada um sucesso, pelo que em cada edição eram impressos 500 a 1000 exemplares. Este número, por si só, revela que, em Hong Kong, a publicação de livros é simplesmente para fazer nome e não lucro. 


Taiwan é o mercado das publicações de chinês tradicional mais influente, com o volume de novos livros a figurar no top 3 a nível mundial. Em Taiwan, existem milhares de editoras, que todos os anos publicam dezenas de milhares de livros. No entanto, com o aparecimento do iPhone e das páginas de fãs no Facebook, em anos recentes o volume de publicações sofreu uma descida acentuada, tendo entrado num período muito difícil. Em 2010, o valor de vendas da área editorial atingiu 36,7 mil milhões. Contudo, nos últimos sete anos caiu a pique até chegar aos 18,5 mil milhões. Em Taiwan, existem editoras grandes e pequenas, e empresas que fornecem serviços como design, layout, edição ou distribuição, permitindo que os autores publiquem eles mesmos as suas obras autofinanciadas. Muitas vezes, as editoras traduzem livros estrangeiros que tenham boas vendas, procuram consultores profissionais que escrevam livros de dicas ou celebridades virtuais que atraiam fãs, de modo a garantir o lucro. Por vezes a imprensa também procuram novas estrelas, ou dão oportunidades a galardoados em prémios literários. Também há pessoas extremamente sortudas, que como eu, conseguem obter a sua aprovação através da auto-recomendação. Na verdade, fiquei muito surpreendida que nas editoras muito prestigiadas, tal como a Crown Culture Corporation, havia um colega que se encarregava de ler todas cartas de motviação que chegavam por correio electrónico. Não, não leram mal: ele lia todas as cartas electrónicas. Foi o que me disseram. Ao ouvir isso, considerei que afinal o mundo até é algo justo. Obviamente, após passar pela mão daquele colega, ainda teria que passar pela examinação do editor. Sinceramente, este foi um caso de preferência e destino. Porque houve editores de outras empresas de Taiwan que me disseram que a minha história era demasiado extensa e que não despertaria a empatia das pessoas. Ao invés disso, o meu editor viu claramente o meu grande mundo e enviou-me o contrato, oferecendo 10 por cento de direitos autorais e o pagamento imediato após o lançamento da obra. 


No entanto, antes de me enviar o contrato, o editor pediu-me que criasse uma página de fãs primeiro. Não me disse sequer de quantos fãs necessitaria para me enviar o contrato, o melhor era nem perguntar e dar o meu máximo na gestão da página. Como eu era absolutamente desconhecida, precisava de ter uma base de fãs para a editora não perder dinheiro. Esta é uma lógica bastante simples. Porém, o mais surpreendente foi que, passado um mês após a criação da página de fãs e quando tinha apenas três mil seguidores, a editora enviou-me o contrato. Será que, em apenas um mês, o editor percebeu que eu sou uma pessoa persistente e previu que, antes do lançamento do livro, o número de seguidores iria atingir os 60 mil e que, após a publicação, daria o meu máximo, percorrendo por pequenas e grandes cidades de Taiwan, Malásia, Hong Kong e Macau para promover o livro pessoal e virtualmente? E que, em meio ano, seria capaz de esgotar os 3000 exemplares da primeira edição e garantir o lucro da empresa? 


Embora o facto de ter conseguido uma reedição em menos de meio ano me tenha dado grande conforto, na verdade, esta realização foi o resultado de dois anos de gestão da página de fãs a juntar ao meio ano de promoção do livro. Na era actual, vender livros não é nada fácil, mas é verdade que é muito mais fácil para uma pessoa comum publicar um livro, comparando com o que sucedia anteriormente.