SiSi Chang

Escritora freelancer. Mestre em Artes pela Universidade Nacional de Arte de Taipé, Instituto Superior de Estudos Teatrais. Chang olha para a viagem como uma disciplina e, cada vez que se encontra num sítio desconhecido, aprende a olhar para as coisas de uma perspectiva diferente. Amazing Australia, An In-Depth Guide to Angkor e Lonely Planet IN Series: Taiwan são alguns dos trabalhos publicados pela autora.

Dos campos de carvão aos campos verdes: a transformação da região alemã do Ruhr

7a edição | 07 2015

A Região Metropolitana do Ruhr situa-se no noroeste da Alemanha. Após a revolução industrial, a área desenvolveu-se rapidamente, tornando-se em poucas décadas numa das regiões mais industrializadas da Europa, devido aos seus ricos jazigos de carvão. Uma série de cidades densamente povoadas na região estabeleceram-se rapidamente como importantes centros de refinação de carvão, aço e químicos. Mas faltou à região a implementação de um plano urbanístico de longo prazo. Ruhr era o centro nevrálgico da Alemanha industrial, mas apresentava fortes índices de poluição e um nível de vida muito baixo. No final dos anos 1970, à medida que fontes de energia mais baratas substituíram o carvão, a região do Ruhr deteriorou-se rapidamente, deixando para trás um número considerável de fábricas abandonadas, rios e terrenos contaminados, e uma elevada taxa de desemprego. Saber como lidar com o Ruhr foi uma grande dor de cabeça e uma lição para o governo alemão.


Depois de aproximadamente uma década ao abandono, o IBA Emscher Park assumiu a pesada responsabilidade de regenerar a região do Ruhr. Abriu concurso e convidou arquitectos nacionais e internacionais para submeterem as suas ideias para o rejuvenescimento da região, tendo como metas a preservação cultural, ambiental e ecológica. Todos os planos de construção teriam de respeitar os regulamentos da Alemanha no que diz respeito à protecção energética e ambiental, e incorporar as características e história dos diferentes bairros. Os resíduos que restavam do processo de fundição foram uma das dificuldades, já que eram desprovidos de qualquer uso e tinham sido despejados em redor das cidades, onde as plantas não podiam crescer. O IBA regenerou estas áreas, criou parques recreativos e conseguiu preservar alguns destes montículos de resíduos, para que as pessoas pudessem aprender a história do local.


Através de um processo de cooperação criativa, a gestão de muitas das fábricas e equipamentos abandonados na região do Ruhr foi transferida para a sociedade civil, que lhes deu uma nova utilidade. Algumas tornaram-se em estúdios de cinema espaçosos. Balneários, onde antigamente os mineiros tomavam banho, foram convertidos em estúdios de dança. A maioria dos membros da Associação de Escalada da Alemanha encontra-se agora na região do Ruhr, onde as paredes das unidades fabris foram transformadas em paredes de escalada interiores. Esta forma de reutilizar as fábricas permite evitar o pagamento dos custos de demolição dos edifícios antigos e de construção de novos. Através do princípio da “mínima interferência”, o Ruhr conseguiu não apenas preservar as estruturas históricas da região, mas milagrosamente construir um centro artístico e cultural a partir das fábricas e minas de carvão abandonadas. Também descobriu uma forma de lidar com o problema tóxico urbano do desperdício, encontrando, ao mesmo tempo, soluções espaciais para as indústrias artísticas e de lazer.


A maquinaria de grandes dimensões constituiu outro problema. Geralmente, quando um negócio fecha portas as máquinas precisam de ser desmanteladas. Mas as empresas falidas não tinham dinheiro para tal, acabando por deixar para trás grandes quantidades de detritos. O Complexo Industrial da Mina de Carvão Zollverein foi em tempos um dos maiores da Europa. Não era simplesmente uma fábrica, mas uma máquina enorme, imponente. Construída em 1930, era nessa altura a maior e mais avançada unidade de mineração de carvão do mundo. A sua produção aumentou de 300 toneladas por dia para 1.200 toneladas diárias. A mina cessou a produção em 1986 e o local foi comprado pelo governo, que definiu um plano para o converter num museu interactivo. Os visitantes podem seguir a linha de transporte da mina de carvão e ir até ao interior da maquinaria. O museu não é apenas um registo do equipamento das minas de carvão, mas uma experiência sensorial completa, onde se ouvem os ruídos e se sentem os cheiros, permitindo ao visitante perceber realmente o que era trabalhar como mineiro de carvão num momento crítico da civilização humana. O complexo Zollverein é hoje património da UNESCO. Em tempos, a mineração do carvão trouxe riqueza económica e degradação ambiental a esta região, mas tornou-se agora num importante legado para as gerações vindouras.


Além da reciclagem de monumentos industriais, existem muitos outros projectos em andamento no Ruhr, como é o caso da revitalização de áreas residenciais, assistência à população mais desfavorecida, limpeza dos rios, investigação em energias renováveis e por aí em diante. A região do Ruhr tornou-se num importante centro para a energia verde e a criatividade, estabelecendo um exemplo de como o ser humano poderá viver no futuro.