Histórias empresariais de lojas culturais e criativas

06 2018 | 27a edição
Texto/Giselle Lou

É verdade que as lojas culturais e criativas de Macau não alcançaram as suas homólogas nas regiões vizinhas como Taiwan e Hong Kong, mas não faltam talentos culturais e criativos a trabalhar diligentemente neste negócio. Neste número, entrevistamos vários responsáveis locais de lojas culturais e criativas, nomeadamente d’A Porta Da Arte, M Dimensions e ROOFTOP MACAO, e convidamo-los a partilhar os altos e baixos das suas jornadas de empreendedorismo em Macau. Além disso, eles partilham também como escolheram os “tesouros” de entre os produtos culturais e criativos, a apresentaram-nos nos seus próprios espaços, de modo a facilitar o crescimento dos artistas e criadores locais.


M Dimensions   ROOFTOP MACAO

 

A Porta Da Arte

 

“Na última década tenho sido um trabalhador artístico a tempo inteiro. No entanto, se alguém é mesmo um ‘trabalhador’, devia ganhar dinheiro. Como se pode continuar o negócio se não houver rendimento? Esta é uma questão que me inquieta há anos”, diz Fortes Pakeong Sequeira, dono de A Porta Da Arte.

 

Sequeira desistiu da sua carreira como designer há dez anos e tornou-se trabalhador artístico a tempo inteiro. Atraído pelos esforços do governo de Macau para promover as indústrias culturais e criativas, há dois anos (no final de 2016) decidiu abrir A Porta Da Arte.

 

A transformação de uma fábrica de ferro galvanizado

 

Localizada na Rua dos Ervanários, A Porta Da Arte é um edifício de quatro pisos que funciona nas antigas instalações de uma fábrica de ferro galvanizado. Após remodelações, a fábrica transformou-se num complexo cultural e de lifestyle, incluindo café especial, joalharia, acessórios para a casa, cosmética, vestuário de moda e produtos locais, entre outros.

 

Amor à primeira vista

 

Quando questionado acerca da escolha do local, Sequeira responde que foi o destino. “Quando andava à procura de um sítio para abrir a minha loja, este velho edifício despertou-me a atenção pelo seu design único. Por um lado, é perto de três entroncamentos e bem localizado; por outro, a vizinhança é muito simpática. Depois de o ter visitado, conheci um fotógrafo experiente, Chan Hin Io. Ele tinha um estúdio aqui perto e convidou-me para ver velhas fotos, a preto e branco, deste edifício sexagenário. Fiquei a saber como ele tinha mudado ao longo do tempo”, recorda.

 

Através dessas imagens, Sequeira ficou obcecado com a energia comunitária da Rua dos Ervanários e, de imediato, decidiu abrir ali a sua loja. Também mudou o nome do edifício para “A Porta Da Arte”.

 

Modelo de negócio de um complexo de lifestyle

 

Quando Sequeira abriu A Porta Da Arte, já havia decidido transformar o espaço num complexo de lifestyle. Com novos artigos a chegar gradualmente à loja, a estrutura e o modelo de negócio do estabelecimento foram, progressivamente, ganhando forma. No entanto, Sequeira reiterou que a essência do espaço, como o nome chinês de “A Porta Da Arte” sugere, girará sempre em torno da “cultura e literatura”, da “arte” e de “Macau”.

 

Como resultado, três diferentes modelos de cooperação foram desenvolvidos no complexo: aluguer, comissão e consignação. Por exemplo, a Cloé Jewellery & Art e a Mel Ieong Workshop adoptaram o modelo de aluguer, a Triangle Coffee Roaster, no rés-do-chão, adoptou o modelo de comissão, enquanto marcas originais de inovação cultural e produtos de lifestyle (80% de Macau, o restante de Hong Kong e Tailândia) muitas vezes adoptaram o modelo de consignação, de modo a poderem vender os seus produtos: mochilas, t-shirts, joalharia, etc., naquele espaço. Para diferentes parceiros, Sequeira também optou por estratégias de marketing distintas, incluindo anúncios online, workshops, etc. Até agora, muitos líderes de opinião influentes de Macau e Hong Kong visitaram A Porta Da Arte, deixando comentários positivos.

 

Fazer parcerias com marcas e designers

 

Graças à sua experiência como designer e ilustrador, Sequeira pôde entender melhor como funciona “o mundo da cultura e da arte” e como seleccionar marcas para se juntarem àquele complexo de lifestyle. “Enquanto artista, sei bem como o rendimento nestas áreas tende a flutuar. Somente quando estamos familiarizados com a indústria cultural e criativa e sabemos identificar bons trabalhos entre a multidão, podemos trazer produtos valiosos para um espaço como este”, explicou.

 

A Porta Da Arte já estabeleceu parcerias com diversas marcas, desde marcas fundadas por amigos de Sequeira a marcas estrangeiras com designs exclusivos, passando por marcas de artesãos locais. O seu desejo é que todas as marcas parceiras da A Porta Da Arte possam vir a ter as suas próprias lojas.

 

Café e aulas de maquilhagem também contam como produtos culturais e criativos?

 

Contudo, o sucesso de A Porta Da Arte motivou algumas opiniões negativas na internet. Por exemplo, há quem questione se “vender café” e “ter aulas de maquilhagem” pode ser considerado um negócio cultural e criativo. “Porque não? Maquilhadores também são artistas. O design pode ter fins práticos ou de embelezamento. O processo de maquilhagem também pode recorrer a novas ideias e à inovação e é, certamente, um processo de embelezamento. Do mesmo modo, uma chávena de um café especial é também bastante representativa do estilo de vida moderno e é digna de ser saboreada e apreciada”, explica Sequeira.

 

“É necessário estar nesta comunidade e familiarizar-se com ela antes de administrar um negócio cultural e criativo. Se uma pessoa não sabe realmente como este mundo funciona, tem de encontrar um parceiro ou consultor que o saiba”, diz quando questionado sobre a sua visão da indústria cultural e criativa. Sequeira aconselha todos os interessados num negócio a começarem por o conhecer a fundo.

 

A Porta Da Arte

Horário: 11:30-20:00

Morada: Rua dos Ervanários, n.º 42, Macau

Website: www.facebook.com/macau.artdoor