Quando a Cloé encontra a C-Shop Quando a joalharia encontra o café
Uma caixa de presente apelativa com aroma a café no agitado centro da cidade

10 2021 | 46a edição
Texto/Catherine Ho Foto cedida por Cora Si

Quando passa por Nam Van, reparou alguma vez num edifício independente, de estilo refrescante, escondido entre duas árvores banyan centenárias e no meio do trânsito? É a C-Shop, administrada pelo Instituto Cultural de Macau, cujo conceito vem do famoso designer local Carlos Marreiros, em que “C” significa Criativo, Cultura e Comunicação, servindo de janela do Instituto para a promoção das indústrias criativas. Desde Julho deste ano, a loja C-Shop acrescentou duas novas camadas de significado, “Cloé” e “Café”, uma vez que foi transformada numa loja conceptual para a marca original de jóias locais Cloé Jewelry & Art (doravante referida como “Cloé” ), e, com a introdução inovadora do elemento do café, faz com que a loja seja como uma caixa de presente apelativa, que cheira ao aroma do café e que persiste no agitado centro da cidade.


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A loja, no agitado centro da cidade, é como uma caixa de presentes com jóias requintadas.


Sem saída para a frente, com a perseguição da concorrência atrás

Reduzir o tamanho para se concentrar no mercado local


Fundada em 2015, Cloé começou como um serviço privado de joalharia e cresceu de um pequeno estúdio para uma loja física. Com o passar do tempo e a uma velocidade de desenvolvimento acelerada, a loja tem expandido a sua presença no mercado hoteleiro local de cinco estrelas, até mesmo nos mercados de Hong Kong e do Japão. No entanto, a pandemia em curso travou a expansão da marca, e com o aparecimento de produtos homogéneos, a concorrência do mercado tornou-se cada vez mais feroz, resultando num declínio precipitado das vendas. A fundadora da Cloé, Chloe Chan, admite que a diferença de receitas entre o pico de vendas da marca e os piores períodos foi, no máximo, de 80%. Nesta era ainda pandémica, a equipa tem sido esmagada por atmosfera pesada de “sem saída para a frente, com a perseguição da concorrência atrás”.


Uma vez que não se pode ir para fora, mais vale concentrar-se no mercado local. No princípio, Cloé tinha apenas uma loja física situada na Rua de Ferreira do Amaral, que se localiza longe do centro turístico e está mal servida de transportes. Por esta razão, a equipa tem trabalhado com mais organizações para criar pontos de venda e recolha na Rua da Ervanários e no campus do IFTM da Ilha de Taipa, bem como para licitar os direitos de exploração da C-Shop em Nam Van, na esperança de criar uma nova loja física no centro da cidade e tornar as jóias da Cloé mais acessíveis aos consumidores locais. Após um processo de selecção, a marca foi escolhida entre oito concorrentes para ganhar o direito de operar a C-Shop durante quatro anos, e a loja conceptual da Cloé foi aberta em Setembro, após um período experimental de dois meses.


A pandemia deu à marca uma reflexão não só em termos de aumento da penetração no mercado local, mas também em termos de posicionamento do produto. Conforme a introdução de Chloe Chan, a marca Cloé foi fundada com foco em estilos vintage, luxuosos e complexos, com uma etiqueta de preço elevado e um orçamento de mais de MOP5.000 para os clientes. No entanto, tendo em consideração que a economia global se encontra num marasmo, os clientes estão a gastar dinheiro de forma mais racional, consumindo com mais frequência as jóias com designs mais simples, fáceis de combinar com roupas, de linhas claras e de luxo leve, a preços entre MOP1.000 e MOP2.000, cujos modelos são os que a loja conceptual da Cloé mais investe e produz.


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A colecção de corais da Cloé só está disponível na loja conceptual


Provavelmente a joalharia mais séria do universo a vender café


Embora os preços sejam mais acessíveis, as jóias não são uma necessidade diária e podem mesmo ser classificadas como um artigo de “luxo”, pelo que os clientes ficam mais ou menos constrangidos quando entram na loja. A fim de reduzir essa pressão sobre os clientes, Chloe Chan queria criar um ambiente “sem stress”, e é aqui que vêm a calhar as suas capacidades ocultas de “barista profissional”. Autoproclamada “viciada em café”, Chloe já era obcecada por café antes de fundar a Cloé, e até passou no exame de qualificação de barista profissional; agora que as cafetarias estão a surgir em todo o lado, o café tornou-se uma “necessidade” indispensável na vida moderna.


Além disso, existe também um precedente para combinar café e joalharia. Desde a abertura do primeiro The Tiffany Blue Box Café na sua loja principal na Quinta Avenida de Nova Iorque em 2016, a marca de jóias de luxo Tiffany & Co. tem vindo a expandir a sua cadeia de lojas de café para as principais cidades de todo o mundo. O casamento de café e jóias tem uma referência fascinante—a cena de abertura do filme clássico de 1961 Breakfast at Tiffany’s: ao início da manhã, na Quinta Avenida de Nova Iorque, Audrey Hepburn, a protagonista feminina, vestida num elegante vestido preto, segurando um café e um croissant na mão, olha para as jóias Tiffany numa montra de vidro. Esta cena proporciona aos fãs um olhar do “livro de estilo” sobre o nível de elegância e ao mesmo tempo presta uma nova inspiração para as marcas de jóias.


Com a sua experiência em café e as histórias de sucesso de combinar jóias com café, Chloe Chan decidiu adicionar o elemento de café à loja conceptual da Cloé, usando o slogan “Somos provavelmente a joalharia mais séria do universo a vender café” para atrair mais clientes à loja através de café de qualidade e aproximar a distância entre as jóias e os consumidores, particularmente os jovens consumidores. Este modelo foi comprovado durante o período experimental, com um cliente em Hangzhou a comprar um colar do valor de cinco dígitos por uma chávena de café.


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A marca aplica o princípio de “um artigo, um certificado” nos produtos elegíveis.


Um café para difundir a cultura da joalharia e a joalharia para contar a história de uma pequena cidade


O café tem um efeito positivo na atracção de clientes, especialmente durante o período experimental, empolgando um grupo de “fãs leais” que trabalham na vizinhança. Devido à proeminência do elemento de café e à localização vantajosa da loja, que se situa no piso térreo, há pessoas que entendem, mal, este lugar como uma simples cafetaria. Por este motivo, a marca está a planear introduzir a cultura da joalharia aos seus clientes, por meio da impressão de diferentes referências à joalharia na embalagem do café e do lançamento de produtos de Drip Bag Coffee com o tema das pedras zodiacais dos 12 meses do ano.


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A loja conceptual Cloé, no piso térreo, vende café e uma pequena quantidade de jóias.


Subimos as escadas do piso térreo até à área de exposição de jóias no andar de cima, em que todos os produtos estão lindamente expostos sob o tema “jóias na mesa”; no entanto, a característica mais apelativa são as duas longas e simples mesas que são reservadas aos clientes para experimentarem a ourivesaria de prata e a perfuração de pérolas. Chloe Chan e a sua equipa acreditam que o fazer jóias com as próprias mãos é a melhor forma de o público se “imergir” na cultura da joalharia. Actualmente, a oficina está aberta apenas a clientes familiares, mas a equipa está a trabalhar na organização de uma série de actividades para que todos os habitantes de Macau e os turistas possam, também, experimentar. Ficamos na expectativa de que hajam mais novidades e surpresas num futuro breve.


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O andar superior da loja é uma área de exposição de jóias


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A marca pretende lançar um workshop de fabrico de ourivesaria de prata para o público


Cloé não é apenas sobre café e workshops, é também sobre “escrever um livro”. Ao longo dos anos de gestão da loja, Chloe Chan tem contado histórias através da joalharia, pelo que tem vivido muitas “histórias verdadeiras” que aquecem o coração, algumas das quais estão relacionadas com a perda de um ente querido, outras com o amor de um homem e uma mulher, algumas são tristes e outras felizes, com altos e baixos. No futuro, planeia recolher oito histórias sob a forma agregada dos temas de café, fragrância, palavras, ilustrações e manuscritos de design de jóias e publicá-las na loja conceptual da Cloé, para que o público possa compreender que as jóias não são apenas um acessório ou um artigo de colecção, mas também uma prova que pode enquadrar momentos importantes da vida, um remédio para curar a dor e uma beleza que pode durar uma vida inteira.


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Chloe Chan insiste em “contar histórias através de jóias” e planeia publicar um livro para partilhar as comoventes histórias por detrás das jóias


Cloé Jewelry Concept Store

Endereço: Avenida Doutor Mário Soares, Nam Van, Macau (em frente ao Antigo Edifício do Tribunal)

Horário de funcionamento: 11h-20h

www.cloejewelry.com