Observar a Vida por Trás da Câmara-Entrevista com Hong Heng Fai, Realizador em ascensão

02 2017 | 19a edição
Texto/Wendy Wong

O realizador em ascensão, Hong Heng Fai, foi atirado para o centro das atenções quando a sua curta-metragem, Crash, foi nomeada em vários festivais e venceu o prémio de “Melhor Filme de Ficção” no 16º Festival de Cinema do Sul de Taiwan. Crash foi também nomeado na categoria de “Melhor Curta-Metragem de Ficção” da 53.ª edição dos Golden Horse Awards, em Taiwan, tornando-se no primeiro filme de Macau a ser nomeado para aquele prémio, o que atraiu muita atenção. Apesar de tudo isto, Hong mantém a sua atitude simples e descontraída, já que ele sabe que o caminho de uma passadeira vermelha pode ser muito longo, e a sua caminhada apenas acaba de começar.


Imagens Chegando Mais Longe


Hong licenciou-se pelo Departamento de Publicidade da Universidade Shih Hsin, em Taiwan, e trabalhou em escritórios por vários anos. Finalmente, Hong decidiu regressar ao teatro, em que participava desde os tempos da escola secundária. “Seja como for, mesmo que o teatro comece a fazer uma série longa, aquilo que pode ser expressado continua a ter limites. Apenas as imagens podem propagar mensagens de um modo mais abrangente.”


Dividindo-se entre as peças de teatro e os filmes, Hong pensou ter sido apanhado numa situação em que tinha representar dois papéis e sentiu-se perdido. Há quatro anos, viajou para a Europa e experienciou uma espécie de revelação repentina no meio daquela cultura e estilo de vida, fazendo crescer em si a ideia de que queria construir uma carreira cinematográfica. Quando regressou a Macau, filmou uma série de curtas-metragens tais como Before Dawn e In Memory of Her, onde explorava estados de vida e o significado da verdade.


“Quando se quer fazer um filme, haverá sempre pessoas à nossa volta interessadas nos diferentes cargos. Quando comecei e não sabia como escrever um guião, encontrei pessoas com conhecimento e que sabiam como escrever, para que pudéssemos fazê-lo juntos. Na verdade tive muitas pessoas do meio do teatro que me ajudaram a fazer Crash.” A equipa de Crash incluiu pessoas da indústria do cinema, bem como do teatro. Choi, a personagem central da história, descobre que a sua mãe, que sofre de Alzheimer, desapareceu. Ele publica um pedido de ajuda no Facebook, e atrai um grande número de estranhos que querem ajudá-lo na busca. No entanto, ela deixa-se apanhar pelo círculo do mundo virtual como o filho obediente e luta para se libertar.


O filme tem um grande sentido de ironia, mas Hong não pretendia ampliar questões sociais – deveu-se apenas ao facto de os seus pensamentos diários envolverem pequenos detalhes da vida. Hong acredita que apenas encontrando um modo de criação de que goste, poderá desfrutar do processo. Filmar não é meramente apresentar textos num ecrã. O processo de discussão com argumentistas ou actores poderá ter ganhos inesperados.


Vale a Pena Desenvolver Curtas-Metragens 


Apesar de apenas ter feito quatro curtas-metragens, Hong está pronto para aceitar o desafio de fazer filmes mais longos, com mais de 80 minutos, e está agora a trabalhar na história. Hong não concorda em filmar com o seu próprio dinheiro, por isso decidiu procurar financiamentos e concorrer a subsídios. Por exemplo, através do projecto do Centro Cultural de Macau, “Macau – O Poder da Imagem”, que apela publicamente à participação todos os anos, e no qual ele é um participante frequente.


Os planos de subsídios locais são bastante limitados, mas Hong pensa que são bastante úteis para que se poupe dinheiro ou trabalho administrativo, permitindo-lhe focar-se nas suas criações. “Os subsídios são necessários, e as suas medidas de apoio também são importantes. Revêem -se revêem as propostas, profissionais com experiência nesta indústria ajudam a organizar as filmagens, e há júri para seleccionar os vencedores. Pode-se aprender muita coisa que é preciso saber a filmar.” Hong acrescenta que as quotas não são suficientes e que muitos dos seus amigos não tiveram sucesso com as suas candidaturas em anos anteriores.


Hong vê muitas produções locais e apoia os novos filmes sempre que estreiam. Ele considera que as produções de Macau são diversificadas. Os filmes que viu em festivais no estrangeiro eram muito realistas, enquanto em Macau as obras são mais criativas e podem ser vistas com tendo características das produções locais. “Comparando com outros lugares, certamente que temos muitas insuficiências. Acho que ainda estamos a explorar.”


Hong refere que vale a pena desenvolver curtas-metragens. Dá como exemplo as plataformas para ver cinema no interior da China. “Dizemos sempre que temos de desenvolver a indústria cinematográfica, mas as curtas-metragens são muitas vezes facilmente ignoradas! As curtas também podem ser uma indústria. Este fenómeno tem-se desenvolvido no interior da China e no exterior nos últimos anos. Hoje em dia, o entretenimento das pessoas já não está confinado a unidades de duas horas. As curtas podem ser exactamente a moda futura do cinema.”


“As curtas-metragens são uma fase necessária antes de rodar filmes mais longos. Ignorar este facto fará com que as coisas sejam mais lentas no futuro. Uma vez que aqui o mercado é insuficiente e falta investimento comercial, poderemos também focar-nos nas curtas-metragens. Estes filmes podem conseguir mais público através da internet, e na verdade ajustam-se bastante bem a Macau.”


Post-scriptum


Quando Hong participou nos festivais na Alemanha e em Taiwan, a maturidade que encontrou nesses lugares expandiu os seus horizontes. “Estes eventos eram total e verdadeiramente centrados nos filmes e mostraram grande respeito pelos filmes.” Instado a dar a sua opinião sobre o Festival Internacional de Cinema e Cerimónia de Entrega de Prémios•Macau, Hong refere “Perguntei-me se os festivais de cinema estão ligados aos turistas?” Hong não nega que o festival tem uma grande importância para a indústria cinematográfica local, mas frisa que não quer tomar estas considerações como algo conclusivo. O realizador acredita que o público terá as suas próprias respostas.