Das plataformas online à edição em papel—Associação de Poetas de Macau Outro Ceu constrói um mundo para poetas locais

04 2019 | Issue 32a edição
Texto/Lai Chou In

Existem vários grupos editoriais com um estilo e objectivos únicos no mercado livreiro em Macau. Ao contrário dos principais actores tradicionais da indústria editorial, estes editores revelam maior flexibilidade e criatividade, apesar da sua pequena escala. Nesta edição, convidamos duas organizações editoriais independentes locais a partilhar a sua experiência na concretização de ideias criativas através da publicação de livros e revistas, ao mesmo tempo que ganham exposição e lutam para sobreviver.


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Das plataformas online à edição em papel—Associação de Poetas de Macau Outro Ceu constrói um mundo para poetas locais


Macau costumava desfrutar do título de “cidade de poemas”. Alguns acreditam que a cidade tem a maior densidade de poetas do mundo. É possível que residentes comuns conheçam no seu círculo social um ou dois poetas que apreciam a vida através da literatura. Estes poetas trabalham nos seus poemas escrevendo longe dos holofotes. Aumentar a exposição dos poetas e das suas obras é crucial para o desenvolvimento da poesia em Macau. A Associação de Poetas de Macau Outro Ceu, criada em 2002, dedica-se a unir poetas em Macau e a trazer os leitores até aos seus poemas através das plataformas tradicionais impressas e dos novos média.

 

Combinar a criação poética com o multimédia

 

De acordo com Jojo Wong, vice-presidente da Associação de Poetas de Macau Outro Ceu, aquela associação de poesia era originalmente um fórum online sobre literatura, criado por amantes de poesia e escritores do interior da China, Hong Kong, Macau e Taiwan. Os amantes de poesia podiam postar os seus trabalhos no fórum. Em 2014, a Associação de Poetas de Macau Outro Ceu tomou forma física para reunir oficialmente os poetas locais e promover o desenvolvimento da poesia em Macau. Existem mais de 20 membros registados na Associação de Poetas de Macau Outro Ceu, a maioria dos quais são poetas locais. Mais de 40 poetas estão activos na plataforma da sociedade e continuam a publicar os seus trabalhos. Uma das características únicas que estes membros têm é a de combinarem poesia e multimédia, diz Jojo Wong. “Escrevemos principalmente poemas modernos. Alguns poetas preferem combinar os seus trabalhos com multimédia”, explica Wong. “Por exemplo, alguns poetas gostam de videografia. Eles combinam poesia e vídeos. Alguns poetas também escrevem música. Então eles fundem poesia e música para renová-los.”

 

Paixão pela publicação física

 

A Associação de Poetas de Macau Outro Ceu existe há mais de dez anos. A associação também continua a adaptar-se às novas tendências e passou por mudanças significativas. Nos últimos anos, tem mudado o seu foco gradualmente para os novos média, como o Facebook e o WeChat. “O Facebook e o WeChat permitem que os seus utilizadores partilhem facilmente os poemas que preferem, fazendo com que os trabalhos cheguem a um público maior”, diz Jojo Wong. “Os utilizadores não só em Macau, mas também no interior da China, Hong Kong e Taiwan poderão ler os poemas que são partilhados online, criando um efeito promocional maior.” Wong revela que esta associação de poesia publica mensalmente dezenas de poemas nas plataformas online.

 

O surgimento dos novos média trouxe muitos desafios à indústria editorial tradicional. Tendo começado como uma plataforma online, a Associação de Poetas de Macau Outro Ceu está agora a concentrar-se mais na publicação em papel. A Associação de Poetas Outro Ceu publicou anteriormente os títulos Color Paintings e Letters of a Lost Man. Recentemente, esta associação tomou a decisão de lançar uma série de Poemas Seleccionados de 2019 para os seus membros. A primeira edição da série foi Lips, publicada em Janeiro deste ano. Lips documenta trabalhos recentes do presidente da Associação de Poetas Outro Ceu e do poeta local Elvis Mok. Mais tarde, em 2019, a Associação publicará três a quatro edições de outros membros. Jojo Wong também se juntou a alguns amigos e deu início a uma editora local chamada Inner Culture, para ajudar a impulsionar o desenvolvimento da poesia em Macau.

 

Publicar poemas exige muitos esforços pessoais

 

“A indústria editorial não está a desfrutar de um desenvolvimento próspero como antes. Mas desde que haja um grupo de leitores que adore ler publicações em papel, então a indústria poderá continuar”, indica Jojo Wong. “A Internet é conveniente para os leitores, oferecendo-lhes acesso mais fácil a livros e revistas. Quando já se conseguiu atrair vários fãs em plataformas online, pode-se publicar uma colecção de poesia impressa no momento certo. As plataformas online e as publicações físicas complementam-se.”

 

Com os novos média, só é preciso clicar em “publicar” para postar trabalhos online. Em comparação, a publicação tradicional é muito complicada. Todo o processo vai desde o planeamento da publicação, composição, design do livro, venda, promoção, etc. Além disso, não existem agentes de vendas na indústria editorial em Macau e, portanto, os autores precisam de ir a diferentes livrarias pessoalmente para falar sobre vender os seus livros lá. “Temos de depender de nós mesmos para publicar livros em Macau. Por exemplo, se precisamos de colaborar com bibliotecas para fazer promoção, temos de ser nós mesmos a fazer essa coordenação.”

 

Usar recursos limitados para maximizar a qualidade da publicação


No entanto, o trabalho árduo garante realmente um retorno material? De acordo com Jojo Wong, existem subsídios limitados para a publicação de livros por parte do governo da R.A.E. de Macau e de outras organizações. Em geral, os subsídios do governo local e da associação de poesia cobrem menos de um terço dos custos de publicação. Os autores teriam de cobrir os restantes custos. Além disso, os livros publicados não são muito caros, tendo apenas algumas centenas de cópias. Isso significa que é difícil lucrar com a publicação de colecções de poesia. “Os próprios poetas conhecem a situação (da indústria editorial). Mas estão dispostos a publicar colecções de poesia de qualquer maneira.” É a paixão pela poesia mencionada por Wong que os leva a publicar colecções de poemas. Não é apenas uma paixão pela literatura, mas também uma paixão e reconhecimento das suas próprias obras.

 

Embora o processo de publicação seja auto-financiado pelos poetas, tal não retira qualidade aos lançamentos. Tomemos Lips como exemplo. A Associação de Poetas Outro Ceu e a Inner Culture planearam e organizaram três eventos de lançamento do livro e ajudaram a promover a colecção de poesia nos diferentes media. Um dos eventos de lançamento foi realizado na livraria Plaza Cultural na Universidade de Macau. Lips foi também apresentado pelo Boya Book Launch, realizado pela universidade. Jojo Wong espera trazer poemas para as universidades, para permitir que mais estudantes universitários conheçam a literatura local. “Publicar um livro pode ser muito fácil. Se tivermos bons trabalhos, basta imprimi-los e está feito o livro. Mas eu quero fazer livros delicados e com qualidade”, diz Jojo Wong. “Quero maximizar o uso de recursos limitados e atingir o melhor resultado.”


Associação de Poetas de Macau Outro Ceu

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