De Macau para os palcos mundiais: entrevista com o actor local de musicais Jordan Cheng

12 2019 | 36a edição
Texto/Por Ariel Law

Jordan Cheng é um actor de musicais muito solicitado, ocupado com as suas digressões nos últimos anos. Mas ainda assim conseguiu chegar a tempo a esta entrevista. Na verdade, esta foi a segunda entrevista que teve nesse dia, ficando em Macau apenas um dia antes de voltar à digressão. Em breve estaria a caminho de Hong Kong para se preparar para as próximas apresentações e actividades de promoção. Cheng acabara de actuar no Art School Musical, dirigido pelo encenador de Hong Kong, Edward Lam, antes de fazer esta a entrevista. O seu próximo musical será exibido em breve em Hong Kong. No final de Novembro, o musical O Sr. Shi e o Seu Amante regressará a a Macau para ser apresentado após mais de cinquenta espectáculos em mercados estrangeiros. “Planeamos começar uma nova digressão internacional com O Sr. Shi e o Seu Amante no próximo ano. Mais detalhes serão anunciados em breve”, diz Jordan Cheng.

 

Uma decisão que mudou a vida

 

Como actor de musicais, Cheng foi elogiado pelo famoso estilista de Hong Kong William Tang na coluna exclusiva e teve a oportunidade de trabalhar de tempos a tempos com o maestro residente da Hong Kong Sinfonietta, Yip Wing-sie. Cheng trabalhou também com Marsha Yuan e Corinna Chamberlain quando participou na revista musical Smokey Joe’s Café. Em 2018, foi nomeado para Melhor Actor nos Dora Awards pela sua actuação em O Sr. Shi e o Seu Amante. Enquanto actor de musicais de Macau, Cheng na verdade estudou Inglês para Comunicação Profissional na universidade. Cheng conta que aprendeu a tocar piano quando era pequeno, mas nunca aprendeu a cantar. Numas férias de verão durante a universidade, decidiu fazer algo que nunca havia feito antes e participou numa performance organizada pelo Centro Cultural de Macau (CCM). Foi sua primeira apresentação e fê-lo apaixonar-se pelo palco. Mais tarde, descobriu mais sobre o teatro musical, depois de participar de um programa musical no CCM. Cheng decidiu finalmente desistir do seu emprego no governo, que prometia estabilidade, aceitou a oferta da Guildford School of Act e foi para o Reino Unido fazer um mestrado em Teatro.

 

Tive dificuldade em tomar uma decisão sobre se deveria ir em frente. No final das contas, era uma decisão importante para mim, que afectaria muitas das decisões da minha vida no futuro. Mas no final decidi correr o risco e abraçar o teatro musical como a minha carreira.”

 

Profissionalismo faz um verdadeiro artista

 

Cheng tem viajado pelo mundo para actuar em diferentes palcos. Muitos podem invejar a sua carreira glamurosa. Mas poucas pessoas sabem o esforço que Cheng faz nos bastidores. Alguns produtores de teatro que trabalharam com Cheng no passado referem que Cheng é um actor muito disciplinado e sempre preparado: ele está sempre pronto quando está ensaiar, sem precisar de aquecer e abrir a voz; quando está prestes a sair em digressão, ele controla estritamente a sua dieta e o padrão de sono. Antes de começarmos a entrevista, Cheng estava com sede e procurou por uma bebida na sala, mas só conseguiu encontrar vinho e refrigerantes. Não bebeu nenhum deles. Ele só queria beber água.

 

Este nível de disciplina pode vir da sua experiência a estudar no Reino Unido. “Quando estava estudar no Reino Unido, senti que deveria ser competente em algumas áreas, uma vez que recebi a oferta. Mas tive uma sensação de derrota na primeira semana que passei lá”, lembra Cheng. “Os meus colegas de turma eram muito trabalhadores. Começavam a pesquisar sobre as personagens e a procurar informações relevantes assim que tinham o guião o. Ainda me lembro que eles traziam pilhas de pautas de música para a aula e estavam prontos para cantar. Em comparação, eu só tinha duas pautas de música que imprimira aleatoriamente na biblioteca.”

 

Quando morava em Macau, que é uma cidade pequena, não sentia a necessidade de ser competitivo. Mas quando se está num grande sector em que a concorrência é feroz, precisamos de nos concentrar e ter muita atenção no que se está a fazer. Não podemos desvalorizar-nos e pensar que não vale a pena”, diz Cheng.

 

Então, aprendi com os meus colegas de turma sobre o que realmente torna os artistas profissionais”, diz Cheng. “Claro que também é preciso aprender as técnicas e habilidades. É preciso aprender a cantar bem e dançar bem. Isto requer habilidades e técnicas. Mas o que realmente me impressionou quando estava e estudar no Reino Unido foi o processo de nos tornarmos em artistas preparados e confiantes. Só deste modo se pode vingar como artista”, afirma.

 

Regresso à Ásia, um mercado com potencial


No espectáculo de final de curso, muitos agentes marcaram presença em busca de potenciais actores. De acordo com Cheng, como não havia muitos rostos asiáticos na indústria musical no Reino Unido, vários agentes quiseram contratá-lo como actor. Mas ele acabou por rejeitar. “Para ser sincero, estava hesitante. Pensei que seria realmente muito emocionante poder actuar e trabalhar no West End.” Mas Cheng viu potencial no sector musical da Ásia e, portanto, decidiu voltar. “Na verdade, os musicais estão a tornar-se cada vez mais populares no Japão, Taiwan, Hong Kong, interior da China e Coreia do Sul”, explica. “A Coreia do Sul tornou-se um destino obrigatório na Ásia para os musicais. No interior da China as produções musicais também estão na moda. Então, acredito que tomei a decisão certa. Acredito que podemos encontrara a nossa própria linguagem na produção de musicais.”


E a indústria musical de Macau? “Não sou pessimista sobre isso. Mas precisamos de trabalhar juntos para melhorar. Também espero que possamos ter mais apoio das pessoas. A indústria de musicais não funcionará se um destes elementos faltar”, afirma Cheng. “Isto também não é algo que possa ser alcançado num curto espaço de tempo também. Não é como se eu lhe desse 50 milhões e você fosse capaz de produzir uma obra-prima. Não funciona assim. É preciso tempo para trabalhar. Os criadores e intérpretes musicais locais não podem ter sucesso em todas as tentativas que fazem. Mas podem gradualmente encontrar um caminho adequado, depois de tentar e explorar. Leva tempo. E pode haver dificuldades e fracassos. Mas é perfeitamente normal.”


Manter o sonho e não desistir


Cheng reside presentemente em Hong Kong. Passaram sete anos desde que terminou o mestrado, mas sente que ainda é bastante novo na indústria como actor, pois ainda está a explorar e a aprender, trabalhando com vários outros artistas. “Continuarei a trabalhar como actor por enquanto, mas também continuarei a criar conteúdos. Não vou desistir. Espero poder escrever mais obras”, diz. “Desejo que mais pessoas possam amar o teatro do mesmo modo que eu amo.”


Então, quais são os conselhos de Cheng para jovens talentos que vêem a indústria dos musicais como uma opção de carreira? “Não se inferiorizem”, diz Cheng com firmeza. “Claro que é preciso ser-se modesto e aprender. Mas não nos podemos subestimar. Se eu tivesse a mentalidade de que ao tornar-me actor não poderia garantir uma fonte de rendimento em Macau quando recebi a oferta da universidade, ainda estaria com o meu emprego e não teria conseguido fazer as coisas de que gosto. Então, eu diria apenas: tentem. Por que não?”