A revelação de Timing

10 2015 | 10a edição
Texto/Chan Lap Hang

Um sentimento associado a Macau presente no filme Timing comoveu o público de Macau e do interior da China. Como é que a realizadora em ascensão Emily Chan Nga Lei trilhou o caminho dos filmes comerciais? No “Diálogo” deste número, a cineasta partilha connosco a sua história.


L: Crítico cultural Lei Chin Pang

C: Realizadora de cinema Emily Chan Nga Lei


L: Assinou um contrato com um estúdio de Pequim para trabalhar na indústria do cinema comercial. O que é que a levou a caminhar nesse sentido?


C: Durante os meus estudos universitários fiz estágios na área do cinema e do jornalismo. Quando me formei, em 2012, comecei a pensar se não deveria seguir esta carreira. O meu sonho era trabalhar a tempo inteiro na área do cinema mas, logo que vi como funcionava a indústria, apercebi-me que é impossível ser realizadora a tempo inteiro em Macau. Teria de filmar publicidade e vídeos de música para ganhar a vida. Perante esta situação, continuei a estudar para seguir este caminho e inscrevi-me na Universidade Renmin da China. No entanto, vim a aperceber-me mais tarde que a Universidade Renmin é um instituto que está mais orientado para a teoria, o que não me ajudava na aproximação à indústria, mesmo tendo ido para Pequim. Esses dois anos foram um período de declínio. E, por causa disso, acabei por acelerar e comecei a criar histórias. Depois comecei a procurar produtores para trabalhar em conjunto na história de Timing, e regressei a Macau, onde me candidatei aos subsídios do Instituto Cultural e da Fundação Macau para trabalhar num filme comercial. Participei na Feira de Investimento na Produção Cinematográfica entre Guangdong-Hong Kong-Macau 2014, lançada pelo Instituto Cultural. Recebi o prémio para o projecto de melhor filme com Kung Fu Goddess e foi aí que chamei a atenção do meu actual agente. Finalmente consegui um contrato para um filme comercial e entrei verdadeiramente na indústria.


L: Que tipo de cooperação é feito em Timing?


C: As filmagens são feitas conjuntamente pelo interior da China e Macau, com alguns requisitos obrigatórios e que dizem respeito aos trabalhadores, actores e cenários dos dois lados. É uma co-produção.


L: Como é que convenceu os estúdios do interior da China a participar na produção em Timing?


C: Penso que vendi a história entusiasticamente com o objectivo de discutir a dimensão humana de Macau e a batalha que é permanecer aqui ou não—e isto não se aplica apenas a Macau, mas também se adapta a cidades periféricas, porque todas as pessoas passam pela fase da proposta e do casamento. Juntar o dilema da permanência ou partida com a ideia de amor é o ponto forte de Timing. No festival de cinema Galo Dourado e no Cem Flores, organizado em Lanzhou, o filme levou às salas de cinema uma série de pessoas da geração pós-1980 e pós-1990. Durante a sessão, ouvi várias pessoas chorar. Essas pessoas não viveram em Macau mas conseguiam mesmo assim identificar-se com a história—foi aí que percebi que Timing deveria ser capaz de chegar até ao interior da China.


L: Que pessoas são necessárias na indústria cinematográfica?


C: Quando as produtoras de cinema consideram trabalhar com um realizador, não estão preocupadas com as qualificações técnicas dos candidatos. Do que eles precisam é de realizadores com intuição, capacidade organizacional e de comunicar de forma clara. Isto porque as técnicas podem ser ensinadas, e existem bons directores executivos, directores de arte e de fotografias para assistir os realizadores. Mas se os realizadores não tiverem a capacidade de escrever histórias, então é como se estivessem a contratar um robot.


L: Quando se trata da criação da história e da concepção das ideias, existe a possibilidade de entrar em conflito com os tabus e a censura no interior da China?


C: Na realidade o tabu é completamente exagerado—até é bastante divertido. Por exemplo, é permitido fumar, mas uma cena a acender o cigarro já não é permitida; e os vilões têm de acabar mal. Não existe um sistema de classificação na China, e o conhecimento e o nível académico do público não são o mesmo. Além disso, a China é gigante e existem coisas que têm de ser controladas. Portanto, existe uma orientação para controlar o que não é permitido fazer enquanto se filma.


L: A sua experiência e trabalho árduo podem servir de referência para os jovens que sonham com uma carreira no cinema?


C: Em primeiro lugar, precisam de começar sem ter encargos familiares. Depois precisam de estar preparados, ler mais livros e ver mais filmes para que adquiram os seus próprios métodos de expressão e sejam capazes de agarrar oportunidades, contanto as suas próprias histórias em qualquer momento em que se reúnam com produtores.