SARTOR LAB: A arte dos fatos por medida

08 2017 | 22a edição
Texto/Lei Ka Io

Não há escassez de lojas de fatos em Macau, e algumas das melhores marcas mundiais de vestuário estão a surgir nas galerias comerciais dos casinos. Então, quais serão as mais-valias de Kade Chou e Victor Choi, novatos no negócio da alfaiataria, neste mercado competitivo? “Muitos dos nossos clientes regulares disseram que, depois de vestirem as nossas roupas, deixaram de gostar de usar fatos feitos em série”. Os dois jovens fundaram o SARTOR LAB há dois anos. Importaram tecidos e técnicas da Europa e começaram a aventurar-se no negócio da confecção de vestuário por medida. “A maioria das lojas de roupa em Macau vende fatos feitos em série. Algumas oferecem serviços personalizados, mas os estilos são muito tradicionais”, diz Choi. “Nós vimos uma lacuna no mercado. Ninguém está a fazer isto. Então, porque não o fazemos?”, acrescenta.


Chou e Choi esforçaram-se imenso na fase de arranque. Um dos maiores desafios foi dominar as competências de confecção e criação de modelos. Contrariamente aos fatos de pronto-a-vestir, os fatos por medida têm de assentar perfeitamente nos corpos dos clientes. E isto depende da precisão no momento de fazer as medições. Normalmente, a medição é dividida em certas partes e os modelos são elaborados de acordo com o tamanho registado. O alfaiate procede, então, ao corte. O pai de Chou trabalha nesta indústria há 40 anos e, naturalmente, tornou-se o mentor de Chou e de Choi.


Não há fórmula para a criação de modelos porque os clientes têm diferentes tipos de compleição física. Se não for dada atenção aos detalhes, o fato pode ficar desajustado do corpo. “Se um cliente tem um peito grande e uma cintura estreita, a roupa tem de ser talhada na forma de um triângulo invertido. Se as coxas são cheias, é necessário mais pano para as calças, de modo a tornar tudo mais equilibrado”, diz Chou. Não há um limite de aprendizagem na alfaiataria. “Também temos de lidar com problemas como o desequilíbrio que pode ocorrer entre uma barriga grande e os ombros”. Sob a orientação do pai, as capacidades de Chou foram melhorando aos poucos. O armazém no segundo andar da loja está recheado com as experiências que começou por fazer, uma prova das inúmeras rondas de tentativa e erro.


Se um alfaiate tiver um talento excepcional, naturalmente atrairá um grupo de leais seguidores. O pai de Chou possui clientes que sustentam o seu negócio há décadas. Mas ele decidiu não unir esforços com o filho, insistindo em manter os negócios separados. “Os seus clientes são de gerações mais velhas e os seus fatos parecem muito formais e solenes”, explica Chou.


Os projectos do SARTOR LAB são modernos e fora da caixa. Os manequins que ladeiam a entrada da loja provam-no. O da esquerda enverga uma jaqueta em castanho-escuro com um colete axadrezado castanho e branco, enquanto o da direita veste um fato em xadrez azul-escuro e calças brancas. “As pessoas são bastante conservadoras em Macau, optando por usar preto ou azul. Uma escolha sensata, mas à qual falta personalidade”, diz Choi. “Noutros países, os fatos estão sempre a mudar e adequam-se às tendências da moda”. O nome SARTOR LAB reflecte a ambição dos proprietários. Segundo Chou, SARTOR é confecção e LAB significa laboratório. “Esperamos que os nossos clientes possam experimentar outras formas de combinar as suas roupas e estejam abertos a novas ideias”.


Em meados de Junho, Chou visitou Pitti Uomo, um importante evento de vestuário masculino realizado em Florença, na Itália. A iniciativa reúne marcas e vendedores de todo o mundo, que apresentam as suas melhores colecções. Modelos desfilam as mais recentes peças de roupa, sendo fotografados nas ruas. Chou queria descobrir o que está a acontecer no sector e levar as novas ideias consigo no regresso a Macau.


O posicionamento do SARTOR LAB no mercado atraiu com sucesso um conjunto de profissionais. “O nosso primeiro grupo de clientes travou conhecimento connosco ao parar na nossa loja. Consideraram os nossos produtos interessantes e entraram para ver”, diz Chou. Não pagando para publicitar o estabelecimento, Chou e Choi partilham informação sobre tendências masculinas nas redes sociais e dão palestras acerca do tema. Também se inscreveram em feiras em Hong Kong, mas os custos de fazer roupas extra são elevados e eles não podem suportá-los por muito tempo. “Além disso, a hipótese de alcançar os clientes certos é como a de ganhar um jackpot”, revela Chou, explicando que eles dependem do passa-palavra e do regresso dos clientes para crescer. Após um ano a laborar e tendo recuperado o capital investido, a ideia é abrir uma filial na Taipa e expandir o negócio.


A filial na Taipa terá dois espaços. O piso superior será dedicado a serviços personalizados. “A loja é grande e vamos colocar lá um sofá para que os clientes descansem as pernas. Também serviremos café.” Choi acrescenta que, actualmente, fazer um fato implica uma série de serviços individualizados, o que inclui definir o estilo certo, medir, criar o modelo e ajustá-lo ao corpo. Cada etapa requer uma comunicação adequada com os clientes. “É importante actualizar as suas experiências”. O rés-do-chão foi projectado para disponibilizar roupas e acessórios de pronto-a-vestir, como gravatas e sapatos de couro. “Gostaríamos de fortalecer a nossa marca com diferentes colecções para as estações de Verão e de Inverno, dando mais opções aos clientes”, diz Choi.


Presentemente, a principal dor de cabeça é a falta de mão-de-obra. É impossível dominar todos os aspectos da confecção, e há muito poucas pessoas interessadas em ingressar no sector. Além de gerirem a loja, os dois proprietários encarregam-se dos contactos com os fornecedores de todo o mundo e da promoção da marca.


Tanto Chou quanto Choi esperam que, no futuro, as pessoas em Macau comecem a usar fatos como vestuário casual. Eles acreditam que vestir fato faz parte de uma forma requintada de viver.