Como a “Funny Eye Brewery”, em apenas dois anos, de um capital inicial de 50 mil patacas para uma fábrica de milhões de patacas, levando a experiência de uma cultura exclusiva ao olhar do público

08 2020 | 40a edição
Texto/Catherine Ho

Nos últimos anos, o governo tem apoiado fortemente o desenvolvimento das indústrias culturais e criativas. Embora a atmosfera para esse tipo de indústria esteja em forte ascensão, há poucas empresas com real capacidade de sobreviver e desenvolver-se em larga escala. Na cruel lei do mais forte, a marca de cerveja artesanal de Macau, “Funny Eye Brewing”, não só se destacou em relação às concorrentes, como tornou-se uma das melhores. Em apenas dois anos, passou de uma marca com um capital inicial de menos de 50 mil patacas para uma cervejaria com activo de três milhões. Nessa prática da “criação” à “indústria” da cultura, há muitas experiências a serem aprendidas pelos seus pares.


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A equipa pretende criar uma plataforma—“Funny-Eye Brewery”—para exibir as várias culturas de nicho presentes em Macau e uni-las para criar um efeito de marca popular.  Foto cedida por Cora Si


Experiência 1: encontrar a cultura principal da marca


Kwok Tsz Ching, Crystal, a fundadora da marca “Funny Eye Brewing”, não é uma “amante de bebidas alcoólicas”. Para ela, cerveja é apenas uma bebida alcoólica alinhada nos frigoríficos de supermercados, com aparências, gostos e preços semelhantes apesar de marcas diferentes. Isso, até 2016, quando entrou em contacto com a cerveja artesanal por acaso. A variedade de sabores e as embalagens artísticas mudaram completamente a sua impressão. “A cerveja comum no mercado busca a padronização, enquanto no universo da cerveja artesanal, procura-se a originalidade de cada garrafa”, diz ela. Esta ideia conquistou a Crystal Kwok, que gosta de coleccionar coisas diferentes desde a infância. Além disso, naquela época, Macau não tinha uma cerveja artesanal local, então, dois anos depois (2018), quando ainda estudava na Universidade de Macau, ela decidiu trabalhar com um amigo (ex-aluna do mesmo ano) para implementar um programa de empreendedorismo com foco na cerveja artesanal.


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Kwok Tsz Ching, Crystal, a fundadora da marca “Funny Eye Brewing”.  Foto cedida por Cora Si


No início, elas mesmas carregavam a cerveja artesanal em carrinhos de madeira e vendiam na Feira Nocturna do Pagode. A cerveja era principalmente dos sabores clássicos, obtidos a partir das quatro matérias-primas básicas: o lúpulo, o fermento, o malte e a água. Embora a cerveja vendesse bem, pagasse os custos e tivesse gerado lucros de seis dígitos em apenas seis meses, Crystal Kwok continuava a pensar numa pergunta: se ela queria criar a primeira cerveja artesanal local em Macau, que tipo de sabor poderia realmente representar aquela cidade? Assim, começaram a explorar a conotação cultural de Macau e determinaram rapidamente que “fusão” seria o conceito central da sua marca, no entanto, o que “fundir” exactamente na cerveja tornou-se um problema urgente para elas.


Naquela altura, a Rua Cinco de Outubro, onde localiza-se a Feira Nocturna do Pagode, inspirou-as. Crystal Kwok apercebeu-se de que lá havia muitas casas de chá, e que muitos comerciantes daquela zona gostavam de beber chá e conversar e, assim, formou-se a “cultura de beber chá”. O chá é também uma bebida com forte característica oriental, portanto, elas tentaram incorporar o chá comum das casas de chá na cerveja, e o conceito da “cerveja de chá” gradualmente tomou forma.


Experiência 2: Participar em competições para solidificar a marca e promover o desenvolvimento da cultura criativa por meio da inovação tecnológica


As competições de empreendedorismo são um “teste decisivo” para os empreendedores. Para aperfeiçoar o plano criativo da cerveja de chá, a Crystal Kwok e a sua parceira participaram de diferentes competições empresariais. No processo, todos os juízes e investidores fizeram a mesma pergunta: “possuem a tecnologia patenteada exclusiva?” Isso serviu para chamar Crystal Kwok à realidade, pois ela percebeu que, para uma marca cultural e criativa emergente desenvolver-se mais rápido e permanente, além da cultura e da criatividade também é essencial vencer as barreiras técnicas.

 

No caso da cerveja de chá, a barreira técnica a superar é impedir que o excesso de cafeína do chá entre na cerveja. Crystal Kwok explicou que a cafeína do chá pode retardar a sensação de embriaguez e levar as pessoas a consumirem álcool em excesso sem se darem por isso. Para evitar problemas de segurança como esse, a equipa convidou médicos com mais de dez anos de experiências em inovação e desenvolvimento de medicamentos. Eles desenvolveram o método de extração e de destilação a vapor, extraindo e separando os componentes do chá, e usaram o método de adsorção de resina para remover a cafeína, criando uma nova cerveja artesanal com forte sabor a chá, mas com moderada quantidade de cafeína. Actualmente, o nível dessa substância na cerveja de chá está muito abaixo do nível de risco da FDA americana.


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O nível da cafeína na cerveja de chá está muito abaixo do nível de risco da FDA Americana  Foto cedida por Cora Si


Com a sua própria tecnologia secreta, o desempenho da equipa nas competições empresariais tem sido cada vez melhor; entre Setembro de 2019 e Junho de 2020, conquistou a medalha de prata no Concurso de Empreendedorismo e Inovação para Jovens de Macau, medalha de ouro no 6º Concurso de Inovação e Empreendedorismo dos Estudantes Universitários de Guangdong, Hong Kong, Macau, Taiwan (região de Macau), bronze nas finais do 4º Concurso da Inovação e Empreendedorismo Juvenil do Qianhai Guangdong-Hong Kong-Macau-Taiwan e o prémio Copa do Milhão 2020 do Banco da China no Concurso de Empreendedorismo de Um Milhão de Dólares da Região de Macau


Crystal Kwok disse que a marca cresceu rapidamente nas competições empresariais especialmente por ter participado da competição da Universidade de Macau e por haver recebido apoio e incentivo contínuos do Centro de Inovação e Empreendedorismo da Universidade de Macau, do Colégio Cheng Yu Tung da Universidade de Macau e da Direcção dos Serviços de Economia, que estabeleceram bases sólidas para a marca no estágio inicial de desenvolvimento em comparação com outros iniciantes.


Experiência 3: Promover a cultura de nicho da perspectiva do público


Embora a cerveja seja um produto de consumo em massa, a cerveja artesanal, tendo em vista sua cultura, sabor e preço, é totalmente uma “cultura de nicho”. Como muitos incentivadores dessa cultura, a Crystal Kwok assumiu a responsabilidade de promover a cerveja artesanal. Ela compartilhou com os clientes os conhecimentos sobre a cultura, o processo de desenvolvimento e a evolução do sabor da cerveja artesanal sempre que teve a oportunidade. Infelizmente, divulgar esses conhecimentos profundos não ajudou a conquistar o público, pelo contrário, aprofundou o estereótipo de que “a cerveja artesanal é um produto alternativo dentro de uma cultura alternativa”, o que afastou as pessoas.


Desde então, a Crystal Kwok ajustou a sua estratégia promocional e acentuou mais o sabor da cerveja de chá, como ooolong com osmanthus, o Pu’er com crisântemo. Para atrair clientes e diminuir a distância entre eles e a sua cerveja passou a oferecê-la nos principais mercados nocturnos e exposições em carrinhos de madeira. Ela enfatizou que as pessoas entram em contacto com coisas novas primeiro por “interesse”, depois passam a “gostar” e, finalmente, procuram uma “compreensão” mais profunda. Em Macau, as pessoas estão familiarizadas com o sabor da cerveja de chá desde a infância. A estratégia da Crystal Kwok é despertar o interesse de novos clientes para que, mais tarde, passem a buscar a cerveja artesanal por si mesmos.


Além da estratégia de publicidade da perspectiva do público, o desenvolvimento de novos produtos deve passar pelo teste do mercado. Depois de conseguir o primeiro “pote de ouro” com as vendas na Feira Nocturna do Pagode e com as participações nas competições empresariais, a equipa alcançou um marco em Junho do ano passado, quando abriu a sua primeira loja física, o “Funny Eye Tasting Room”, que não é apenas um sítio onde se vende a cerveja artesanal mas, também, um “laboratório” onde a equipa pretende testar novos sabores que, de acordo com a Crystal Kwok, serão muito criativos, como a cerveja de ervas, de absinto, etc. No entanto, por melhores que sejam, as ideias precisarão de ser testadas na loja e somente os sabores que tiverem boa aceitação entre os clientes serão reservados para posterior produção em massa.


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“Funny Eye Tasting Room”, um “laboratório” onde a equipa testa novos sabores.  Foto cedida por Cora Si


Experiência 4: Fazer boas escolhas e persistir: auto-aperfeiçoamento face à epidemia.


A Crystal Kwok tem uma ideia muito clara de empreendedorismo sobre a marca. A abertura da loja física no primeiro ano e, no segundo, um novo marco, recorrer à política de apoio do governo a pequenas e médias empresas para abrir a primeira cervejaria artesanal de Macau. Essa é a decisão que mais opôs resistência à equipa, porque o custo de montar uma fábrica em Macau é duas vezes maior que em Hong Kong e três vezes maior que em Zhuhai.


Apesar das dificuldades, a equipa insistiu em fazer boas escolhas e manter-se firme. A Crystal Kwok acredita que a marca só poderá ser considerada “made in Macau” (produzida em Macau) se estiver enraizada na cidade. O mais importante é que, no futuro, a marca represente não só a si mesma diante do mundo, mas também a cultura de Macau. O estabelecimento da fábrica em Macau pode ajudar a marca a refinar e utilizar de melhor forma a essência cultural da localidade, além de aprofundar e estabilizar a conotação cultural da própria marca. No futuro, ser “made in Macau” será uma vantagem diante do desafio de concorrer com produtos similares dos outros lugares.


No entanto, não foi possível seguir com o plano à risca. Devido à epidemia de COVID-19, a instalação da fábrica precisou ser adiada por seis meses. Enquanto isso, a equipa transformou o bloqueio alfandegário imposto pela situação em oportunidade para promover a cerveja de chá entre os consumidores locais. Por um lado, procura novos sítios onde expô-la e vendê-la e, por outro, busca cooperações com outras marcas locais, culturais e criativas, para lançar novos produtos e penetrar ainda mais fundo no mercado local.


Quanto ao próximo passo, Crystal Kwok revelou que, este ano, a marca continuará a investir no mercado local, com foco na cerveja de chá e no lançamento de cinco novos sabores, incluindo o Pu’er com crisântemo, o Oolong com osmanthus, o Tieguanyin, chá preto de lichia e pétalas de jasmim. A cervejaria também será montada simultaneamente, com aquisição de equipamentos e ampliação da equipa. No ano que vem, vai tentar cooperar com os principais casinos e explorar o sector turístico. A cervejaria alcançará gradualmente a meta de produção de 50.000 garrafas por dia, metade das quais circulará no mercado local e o restante será exportado. A longo prazo, a equipa pretende criar uma plataforma—a “Funny-Eye Brewery”—para exibir as várias culturas de nicho presentes em Macau e uni-las, a fim de promover o charme cultural único da cidade para o mundo.


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“Funny-Eye Brewery” lança 5 tipos de cerveja de chá neste ano  Foto cedida por Cora Si



Funny Eye Brewery:

funny-eye.com